F. Clarke escreveu em seu ótimo livro, Voices Prophesying War 1763-1984 [Vozes profetizando a guerra, 1763-1984]: “Entre 1871 e 1914 é difícil encontrar um único ano sem que alguma história sobre guerra futurista aparecesse em algum país da Europa”.

Mas o golpe de mestre de Wells foi fazer com que os invasores chegassem de outro planeta! Nenhuma comunicação, nenhuma trégua é possível. O surgimento dos abomináveis marcianos, com seus maus costumes, aumenta enormemente o interesse e confere ao romance uma força quase mitológica e poética.

A guerra dos mundos começa com presságios no céu de uma pacífica Inglaterra, cujos habitantes despreocupados cuidam de seus afazeres diários. O que alguns acreditam ser um meteoro jaz parcialmente enterrado num fosso do arenoso campo perto de Woking. Alguns vão olhar. Estavam enganados. O suposto meteoro é um cilindro, cujo topo começa lentamente a desatarraxar.

Curiosos cercam o fosso. No capítulo 4, algo emerge do cilindro, algo que “brilhava como couro molhado”. Wells nos faz entender como os marcianos são repulsivos, sem entrar em detalhes.

Uma delegação brandindo uma bandeira branca se aproxima do cilindro, disposta a se comunicar com os alienígenas. Os marcianos a fulminam com um raio de calor. Todos morrem. Começamos a entender que eles são impiedosos, desprovidos de emoção ou empatia.

O narrador da história fica assustado no começo, mas, quando chega em casa e se vê diante de uma boa refeição, seu humor melhora. Acha que os marcianos estão apavorados e observa: “Talvez não esperassem encontrar seres vivos, muito menos seres vivos inteligentes”.

As pessoas comentam o estranho acontecimento, mas este não causa “a sensação que um ultimato à Alemanha teria provocado”. Com toques semelhantes, Wells transmite verossimilhança à sua história.

Um segundo cilindro aterrissa.

Logo a sossegada zona rural inglesa está em chamas. Os marcianos usam o raio de calor e, talvez em alusão à obra The Battle of Dorking, os militares demoram a agir. A situação se agrava progressivamente. Torres de igreja desmoronam. Pessoas se escondem em trincheiras e porões. Enquanto compunha a história, Wells percorria a região de bicicleta. “Eu aniquilei Woking completamente, matando meus vizinhos de modos dolorosos e excêntricos”, disse com certo prazer sádico.

É um livro repleto de destruição. No entanto, a destruição estava na moda. A população inglesa ainda não tinha na boca o gosto da ruína. Os eduardianos eram filhos de um século que ainda não atingira sua terrível maturidade. Nesse espírito D. H. Lawrence exclama “Três vivas para o homem que inventou o gás venenoso” e “Que todas as escolas fechem agora mesmo”, enquanto T.S. Eliot lamenta a disseminação da educação, que “baixa nossos padrões... destrói nossos antigos edifícios...”.

Então por que Wells não deu a seu romance o título de A guerra de Woking? Porque tinha intenções mais grandiosas do que a mera destruição de Woking, por mais desejável que esta fosse.

O narrador anônimo também testemunha a destruição de Weybridge e Shepperton. Como sempre, as máquinas são um contraste a uma invenção essencialmente inglesa: a paisagem rural. “[Os] marcianos encouraçados apareceram ao longe sobre as arvorezinhas, do outro lado dos prados que se estendem em direção a Chertsey, avançando a grandes passadas para o rio.”

E essas máquinas prestam tanta atenção aos seres humanos quanto os segundos prestariam ao “desespero das formigas”.

O narrador encontra um padre.