Sua mão ainda estava arrepiada onde ele a segurara, e a pele que ele havia tocado com a ponta dos dedos parecia diferente de qualquer outra parte de seu corpo. Ela pensou que sempre sentiria o toque dele, independentemente do que lhe acontecesse no futuro.
Depois de entrar no chalé de verão que ela e a mãe alugaram, Cassie trancou a porta da frente. E parou. Podia ouvir a voz da mãe vindo da cozinha, e, pelo som, sabia que havia alguma coisa errada.
A Sra. Blake estava ao telefone, de costas para a porta, a cabeça meio tombada, segurando firme o fone no ouvido. Como sempre, Cassie ficou abalada com a magreza de varapau da mãe. Somada ao cabelo preto e escuro preso com simplicidade à nuca, a Sra. Blake passaria por uma adolescente. Isso fez Cassie se sentir protetora com relação à mãe. Na verdade, às vezes ela quase achava que ela era a mãe, e a mãe era a filha.
E então isso a fez decidir não interromper a conversa da mãe. A Sra. Blake estava perturbada e a intervalos dizia “Sim” ou “Eu sei” numa voz cheia de tensão.
Cassie se virou e foi para o quarto.
Foi até a janela e olhou, perguntando-se vagamente o que estava havendo com a mãe. Mas só conseguia pensar no garoto da praia.
Mesmo que Portia soubesse o nome dele, ela jamais diria, Cassie tinha certeza disso. E, sem o nome, como ela o encontraria de novo?
Não encontraria. Esta era a verdade brutal, e devia encará-la desde já. Mesmo que descobrisse seu nome, não era do tipo de perseguir um garoto. Nem saberia como.
— E daqui a uma semana eu vou para casa — sussurrou. Pela primeira vez essas palavras não lhe trouxeram uma onda de conforto e esperança. Ela colocou o pedacinho de calcedônia na mesa de cabeceira, que fez uma espécie de tinido final.
— Cassie? Disse alguma coisa?
Cassie se virou rapidamente e viu a mãe à porta.
— Mãe! Eu não sabia que tinha desligado o telefone. — Como a mãe continuava a olhá-la inquisitivamente, acrescentou: — Só estava pensando em voz alta. Disse que vamos para casa na semana que vem.
Uma expressão estranha cruzou o rosto da mãe, como uma dor reprimida inesperada. Seus olhos pretos e grandes tinham olheiras escuras e percorreram nervosos o quarto.
— Mãe, qual é o problema? — disse Cassie.
— Só estava falando com a sua avó. Lembra que eu pretendia que a gente fosse de carro vê-la na semana que vem?
Cassie se lembrava muito bem. Disse a Portia que ela e a mãe iam de carro pela costa, e Portia rebateu que não chamavam aqui de costa. De Boston a Cape era o litoral sul, e subindo de Boston a New Hampshire era o litoral norte, e se você fosse ao Maine, descia para o leste e, aliás, onde é que a avó dela morava mesmo? E Cassie não soube responder porque a mãe nunca tinha dito o nome da cidade.
— Sim — disse ela. — Eu me lembro.
— Acabei de falar com ela ao telefone. Ela está velha, Cassie, e não parece muito bem. Está pior do que eu pensava.
— Ah, mãe. Sinto muito. — Cassie não conhecia a avó, nunca havia sequer visto uma foto dela, mas ainda assim se sentiu mal.
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