A mãe e a avó ficaram afastadas por anos, desde que Cassie nasceu. Tinha algo a ver com a mãe sair de casa, mas foi tudo o que ela lhe disse sobre o assunto. Nos últimos anos, no entanto, haviam trocado algumas cartas, e Cassie pensou que no fundo as duas ainda se amavam. Cassie tinha esperanças de que, no fim das contas, se amassem e estava ansiosa por conhecer a avó. — Eu sinto muito mesmo, mãe — disse em seguida. — Ela vai ficar bem?

— Não sei. Está sozinha naquela casa enorme, tão solitária... E agora, com essa flebite, alguns dias ela tem dificuldade para andar. — O sol refletia em faixas de luz e sombra pelo rosto da mãe. Ela falava baixinho, mas quase de um jeito formal, como se estivesse reprimindo com dificuldade alguma emoção forte.

— Cassie, sua avó e eu temos nossos problemas, mas ainda somos uma família, e ela não tem mais ninguém. Está na hora de enterrar o passado e colocar uma pedra em cima das nossas diferenças.

Sua mãe nunca havia falado tão abertamente sobre o afastamento das duas.

— O que aconteceu, mãe?

— Agora não importa. Ela queria que eu... seguisse um caminho que eu não queria. Achou que estava fazendo a coisa certa... E agora está totalmente só e precisa de ajuda.

Uma angústia percorreu Cassie. Preocupação pela avó que ela não conhecia — e mais alguma coisa. Um tipo de prenúncio pela expressão no rosto da mãe, de alguém prestes a dar más notícias e que não conseguia encontrar as palavras.

— Cassie, eu pensei muito nisso e só há uma coisa que podemos fazer. E me desculpe, porque significará uma perturbação e tanto na sua vida e será tão difícil para você... Mas você é jovem. Vai se adaptar. Eu sei que vai.

Cassie sentiu uma pontada de pânico.

— Mãe, está tudo bem — disse rapidamente. — Você fica aqui e faz o que precisa. Eu posso me preparar para a escola sozinha. Será fácil; Beth e a Sra. Freeman vão me ajudar... — A mãe de Cassie balançava a cabeça e de repente Cassie sentiu que precisava continuar, falar tudo num turbilhão de palavras: — Não preciso de muitas roupas novas para a escola...

— Cassie, eu lamento tanto. Preciso que procure compreender, meu amor, e seja adulta. Sei que vai sentir falta dos seus amigos. Mas nós duas precisamos nos esforçar para extrair o melhor de tudo isso. — Os olhos da mãe estavam fixos na janela, como se não suportasse olhar para Cassie.

Cassie ficou imóvel.

— Mãe, o que está tentando me dizer?

— Estou dizendo que não vamos para casa, ou pelo menos não voltaremos a Reseda.