E muito pior que qualquer coisa que Portia pudesse fazer era a sensação dolorosa de não pertencer àquele lugar. De ser uma estranha ali, uma estranha na praia errada, completamente fora do seu ambiente. O duplex minúsculo na Califórnia começava a parecer o paraíso para Cassie.
Mais uma semana, pensou ela. Você só precisa aguentar mais uma semana.
E também havia sua mãe, ultimamente tão pálida e tão calada... Uma pontada de preocupação atingiu Cassie, mas ela rapidamente afastou a sensação. Mamãe está bem, disse ela a si mesma com veemência. Provavelmente só está infeliz ali, assim como você, embora este seja seu estado natural. Ela deve estar contando os dias para voltarmos para casa, do mesmo jeito que você.
É claro que era isso, e esse era o motivo pelo qual sua mãe parecia tão infeliz quando Cassie dizia sentir saudades de casa. Sentia-se culpada por ter trazido Cassie, por ter feito este lugar soar como se fosse um paraíso de férias. Tudo ficaria bem — para as duas —, quando voltassem para casa.
— Cassie! Está me ouvindo? Ou está sonhando acordada de novo?
— Ah, estou ouvindo — disse Cassie apressada.
— O que eu acabei de dizer?
Cassie se debateu. Namorados, pensou ela desesperadamente, a equipe de debates, faculdade, a Liga Nacional Forense... As pessoas às vezes a chamavam de sonhadora, mas nunca tanto quanto aqui.
— Eu estava dizendo que não deviam deixar que gente assim viesse à praia — disse Portia. — E muito menos com cachorros. Quero dizer, eu sei que isto não é Oyster Harbors, mas pelo menos é limpo. E olha só agora.
Cassie olhou, seguindo o olhar de Portia. Tudo o que via era um garoto andando pela praia. Ela voltou a olhar para Portia, sem entender.
— Ele trabalha num barco de pesca — disse Portia, com as narinas dilatadas como se sentisse um cheiro ruim. — Eu vi esse menino hoje de manhã no cais dos pescadores, descarregando. Acho que ele nem trocou de roupa. Nem sei as palavras para descrever como isso é sujo e nojento.
Ele não parecia nada sujo para Cassie. Tinha cabelo ruivo-escuro, era alto e até de onde estava ela podia ver que ele estava sorrindo. Tinha um cachorro perto dos pés.
— A gente nunca fala com os caras dos barcos de pesca. Nem mesmo olhamos para eles — continuou Portia. E Cassie via que era verdade. Havia talvez uma dezena de outras garotas na praia, em grupos de duas ou três, algumas com garotos, a maioria não. Enquanto o cara alto passava, as meninas olhavam para outro lugar, virando-se para a direção oposta. Não era uma espécie de virar-a-cara-e-depois-se-voltar-e-rir do tipo sedutor. Era uma rejeição preconceituosa. Conforme o garoto se aproximava de Cassie, ela pôde ver que aquele sorriso foi ficando intimidador.
Agora as duas meninas mais próximas de Cassie e Portia viravam a cara, quase torcendo o nariz. Cassie viu o garoto dar de ombros de leve, como se não esperasse mais do que aquilo.
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