Estão no caso... sim...

– Hein?... olha a carraspana.

– Basta! vamos a negócio mais sério. Onde vão vocês passar o Dia de Sant’Ana?[36] 

– Por quê?... Temos patuscada[37]?... acudiu Leopoldo.

– Minha avó chama-se Ana.

– Ergo!...

– Estou habilitado para convidá-los a vir passar a véspera e dia de Sant’Ana conosco na ilha de...

– Eu vou, disse prontamente Leopoldo.

– E dois, acudiu Fabrício.

Augusto só guardou silêncio.

– E tu, Augusto?... perguntou Filipe.

– Eu?... eu não conheço tua avó.

– Ora, sou seu criado; também eu não a conheço, disse Fabrício.

– Nem eu, acrescentou Leopoldo.

– Não conhecem a avó; mas conhecem o neto, disse Filipe.

– E demais, tornou Fabrício, palavra de honra que nenhum de nós tomará o trabalho de lá ir por causa da velha.

– Augusto, minha avó é a velha mais patusca do Rio de Janeiro.

– Sim?... que idade tem?

– Sessenta anos.

– Está fresquinha ainda... Ora... se um de nós a enfeitiça e se faz avô de Filipe!...[38] 

– E ela, que possui talvez seus duzentos mil cruzados, não é assim, Filipe? Olha, se é assim, e tua avó se lembrasse de querer casar comigo, disse Fabrício, juro que mais depressa daria o meu “recebo a vós” aos cobres[39] da velha[40], do que a qualquer das nossas “toma-larguras[41]” da moda.

– Por quem são!... deixem minha avó e tratemos da patuscada. Então tu vais, Augusto?

– Não.

– É uma bonita ilha.

– Não duvido.

– Reuniremos uma sociedade pouco numerosa, mas bem escolhida.

– Melhor para vocês.

– No domingo, à noite, teremos um baile.

– Estimo que se divirtam.

– Minhas primas vão.

– Não as conheço.

– São bonitas.

– Que me importa?... Deixe-me. Vocês sabem o meu fraco e caem-me logo com ele: moças!... moças!... Confesso que dou o cavaco por[42] elas, mas as moças me têm posto velho.

– É porque ele não conhece tuas primas, disse Fabrício.

– Ora... o que poderão ser senão demoninhas, como são todas as outras moças bonitas?

– Então tuas primas são gentis?... perguntou Leopoldo a Filipe.

– A mais velha, respondeu este, tem dezessete anos, chama-se Joana, tem cabelos negros, belos olhos da mesma cor, e é pálida.

– Hein?... exclamou Augusto, pondo-se de um pulo duas braças longe do canapé onde estava deitado, então ela é pálida?...

– A mais moça tem um ano de menos: loura, de olhos azuis, faces cor- -de-rosa... seio de alabastro[43]... dentes...

– Como se chama?

– Joaquina.

– Ai, meus pecados!... disse Augusto.

– Vejam como Augusto já está enternecido[44]...

– Mas, Filipe, tu já me disseste que tinhas uma irmã.

– Sim, é uma moreninha de quatorze anos.

– Moreninha? diabo!... exclamou outra vez Augusto, dando novo pulo.

– Está sabido... Augusto não relaxa a patuscada.

– É que este ano já tenho pagodeado[45] meu quantum satis[46], e, assim como vocês, também eu quero andar em dia com alguns senhores com quem nos é muito preciso estar de contas justas no mês de novembro.

– Mas a pálida?... a loura?... a moreninha?...

– Que interessante terceto! exclamou com tom teatral Augusto; que coleção de belos tipos!... uma jovem de dezessete anos, pálida... romântica e, portanto, sublime; uma outra, loura... de olhos azuis...