faces cor-de-rosa... e... não sei que mais: enfim, clássica e por isso bela. Por último uma terceira de quatorze anos... moreninha, que, ou seja, romântica ou clássica, prosaica ou poética, ingênua ou misteriosa, há de, por força, ser interessante, travessa e engraçada; e por consequência qualquer das três, ou todas ao mesmo tempo, muito capazes de fazer de minha alma peteca, de meu coração pitorra[47]!... Está tratado... não há remédio... Filipe, vou visitar tua avó. Sim, é melhor passar os dois dias estudando alegremente nesses três interessantes volumes da grande obra da natureza do que gastar as horas, por exemplo, sobre um célebre Velpeau[48], que só ele faz por sua conta e risco mais citações em cada página do que todos os meirinhos[49] reunidos fizeram, fazem e hão de fazer pelo mundo.
– Bela consequência! É raciocínio o teu que faria inveja a um calouro, disse Fabrício.
– Bem raciocinado... não tem dúvida, acudiu Filipe; então, conto contigo, Augusto?
– Dou-te palavra... e mesmo porque eu devo visitar tua avó.
– Sim... já sei... isso dirás tu a ela.
– Mas vocês não têm reparado que Fabrício tornou-se amuado e pensativo, desde que se falou nas primas de Filipe?...
– Disseram-me que ele anda enrabichado com minha prima Joaninha.
– A pálida?... pois eu já me vou dispondo a fazer meu pé-de-alferes[50] com a loura.
– E tu, Augusto, quererás porventura requestar[51] minha irmã?...
– É possível.
– E de qual gostarás mais, da pálida, da loura ou da moreninha?...
– Creio que gostarei, principalmente, de todas.
– Ei-lo aí com a sua mania.
– Augusto é incorrigível.
– Não, é romântico.
– Nem uma coisa nem outra... é um grandíssimo velhaco.
– Não diz o que sente.
– Não sente o que diz.
– Faz mais do que isso, pois diz o que não sente.
– O que quiserem... Serei incorrigível, romântico ou velhaco, não digo o que sinto não sinto o que digo, ou mesmo digo o que não sinto; sou, enfim, mau e perigoso e vocês inocentes e anjinhos. Todavia, eu a ninguém escondo os sentimentos que ainda há pouco mostrei, e em toda a parte confesso que sou volúvel, inconstante e incapaz de amar três dias um mesmo objeto;[52] verdade seja que nada há mais fácil do que me ouvirem um “eu vos amo”, mas também a nenhuma pedi ainda que me desse fé; pelo contrário, digo a todas o como sou e, se, apesar de tal, sua vaidade é tanta que se suponham inesquecíveis, a culpa, certo, que não é minha. Eis o que faço. E vós, meus caros amigos, que blasonais[53] de firmeza de rochedo, vós jurais amor eterno cem vezes por ano a cem diversas belezas... vós sois tanto ou ainda mais inconstantes que eu!... mas entre nós há sempre uma grande diferença: – vós enganais e eu desengano; eu digo a verdade e vós, meus senhores, mentis...
– Está romântico!... está romântico!... exclamaram os três, rindo às gargalhadas.
– A alma que Deus me deu, continuou Augusto, é sensível demais para reter por muito tempo uma mesma impressão. Sou inconstante, mas sou feliz na minha inconstância, porque apaixonando-me tantas vezes, não chego nunca a amar uma vez...
– Oh!... oh!... que horror!... que horror!...
– Sim! esse sentimento que voto às vezes a dez jovens num só dia, às vezes, numa mesma hora, não é amor, certamente. Por minha vida, interessantes senhores, meus pensamentos nunca têm dama, porque sempre têm damas; eu nunca amei... eu não amo ainda... eu não amarei jamais...
– Ah!...
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