Expressão atribuída ao indivíduo filho de servos que foi criado em um paço, palácio, ou um lugar com pessoas de muito dinheiro.

[42] dou o cavaco por – expressão que significa gostar muito de.

[43] alabastro – espécie de mármore branco, translúcido pouco duro; neste trecho o narrador nos expõe uma característica não usual para o período, ou seja, uma sexualidade ousada, aflorada, o que caracteriza o romantismo urbano.

[44] enternecido – movido à piedade ou compaixão.

[45] pagodeado – festejado.

[46] quantum satis – quanto basta, o suficiente.

[47] pitorra – pião pequeno, brinquedo que girava.

[48] Velpeau – aqui há uma metonímia, em que a obra do autor é referenciada através do nome dele. Alfred Armand Louis Marie Velpeau foi um cirurgião experiente e renomado por seus conhecimentos de anatomia cirúrgica.

[49] meirinhos – atualmente, é o profissional conhecido como oficial de justiça.

[50] pé-de-alferes – namoro.

[51] requestar – cortejar, namorar.

[52] “(...) e em toda a parte confesso que sou volúvel, inconstante e incapaz de amar três dias o mesmo objeto” – observe uma quebra drástica das características do romance-romântico que antecede o período que o autor viveu. Aqui, além de não existir as “juras eternas” de amor por uma única mulher, o eu-lírico quebra uma corrente de idealização da perfeição, trazendo a mulher pela primeira vez em um romance, como objeto.

[53] blasonais – ostentais.

[54] assevero – certifico, asseguro que não.

[55] brandamente – de forma meiga, suave.

[56] basbaque – palerma, bobo.

[57] Pharoux – restaurante no cais Pharoux, no Rio de Janeiro, onde posteriormente foi substituído pelo restaurante Albamar.

[58] João Caetano – João Caetano dos Santos foi um importante ator e encenador brasileiro. Hoje encontra-se uma estátua sua de corpo inteiro em frente ao teatro que recebe seu nome, na cidade do Rio de Janeiro.

II

Fabrício em apuros

A cena que se passou teve lugar numa segunda-feira. Já lá se foram quatro dias, hoje é sexta-feira, amanhã será sábado, não um sábado como outro qualquer, mas um sábado véspera de Sant’Ana.

São dez horas da noite. Os sinos tocaram a recolher. Augusto está só, sentado junto de sua mesa, tendo diante de seus olhos seis ou sete livros e papéis, pena e toda essa série de coisas que compõem a mobília do estudante.

É inútil descrever o quarto de um estudante. Aí nada se encontra de novo. Ao muito acharão uma estante, onde ele guarda os seus livros, um cabide, onde pendura a casaca, o moringue[59], o castiçal, a cama, uma, até duas canastras[60] de roupa, o chapéu, a bengala e a bacia; a mesa onde escreve e que só apresenta de recomendável a gaveta, cheia de papéis, de cartas de família, de flores e fitinhas misteriosas, é pouco mais ou menos assim o quarto de Augusto.

Agora ele está só. Às sete horas, desse quarto saíram três amigos: Filipe, Leopoldo e Fabrício. Trataram da viagem para a ilha de... no dia seguinte e retiraram-se descontentes, porque Augusto não se quis convencer de que deveria dar um ponto na clínica para ir com eles ao amanhecer. Augusto tinha respondido: Ora vivam! bem basta que eu faça gazeta[61] na aula de partos; não vou senão às dez horas do dia.

E, pois, despediram-se amuados. Fabrício queria ainda demorar-se e mesmo ficar com Augusto, mas Leopoldo e Filipe o levaram consigo, à força. Fabrício fez-se acompanhar do moleque que servia Augusto, porque, dizia ele, tinha um papel de importância a mandar.

Eram dez horas da noite, e nada do moleque. Augusto via-se atormentado pela fome, e Rafael, o seu querido moleque, não aparecia... O bom Rafael, que era ao mesmo tempo o seu cozinheiro, limpa-botas, cabeleireiro, moço de recados e... e tudo mais que as urgências mandavam que ele fosse.

Com justa razão, portanto, estava cuidadoso Augusto, que de momento a momento exclamava:

– Vejam isto!... já tocou a recolher e Rafael está ainda na rua!! Se cai nas unhas de algum beleguim[62], não é, decerto, o Sr. Fabrício quem há de pagar as despesas da Casa de Correção... Pobre do Rafael! que cavaco não dará quando lhe raparem os cabelos!

Mas neste momento ouviu-se tropel[63] na escada... Era Rafael, que trazia uma carta de Fabrício, e que foi aprontar o chá, enquanto Augusto lia a carta. Ei-la aqui:

“Augusto. Demorei o Rafael, porque era longo o que tenho de escrever-te. Melhor seria que eu te falasse, porém, bem viste as impertinências de Filipe e Leopoldo. Felizmente, acabam de deixar-me. Que macistas!... Principio por dizer-te que te vou pedir um favor, do qual dependerá o meu prazer e sossego na ilha de... Conto com a tua amizade, tanto mais que foram os teus princípios que me levaram aos apuros em que ora me vejo. Eis o caso.

Tu sabes, Augusto, que, concordando com algumas de tuas opiniões a respeito de amor, sempre entendi que uma namorada é traste tão essencial ao estudante como o chapéu com que se cobre ou o livro em que estuda.