Embora com uma produção considerável, a terra estava entregue aos cuidados de um capataz e de antigos servidores. Assim a viagem da senhora marquesa causou uma certa comoção na região. Várias pessoas haviam se reunido na extremidade da aldeia, no pátio de um pequeno albergue, situado no entroncamento das estradas de Nemours e de Moret, para ver passar uma caleche que avançava bastante devagar, pois a marquesa viera de Paris com seus cavalos. No assento dianteiro da carruagem, a criada acompanhava uma garotinha mais sonhadora que risonha. A mãe jazia ao fundo, como um moribundo enviado pelos médicos ao campo. A fisionomia abatida dessa mulher delicada causou certo desagrado aos políticos da aldeia, para os quais sua chegada a Saint-Lange suscitara a esperança de um movimento maior na comuna. Com certeza, qualquer espécie de movimento era visivelmente antipático a essa mulher sofredora.

A cabeça mais inteligente da aldeia de Saint-Lange declarou à noite, na taverna, na sala onde os notáveis bebiam, que, pela tristeza estampada nos traços da senhora marquesa, ela devia estar arruinada. Na ausência do marquês, que, segundo os jornais, deveria acompanhar o duque d’Angoulême à Espanha, ela economizaria em Saint-Lange a quantia necessária para saldar dívidas resultantes de especulações feitas na Bolsa. O marquês era um dos maiores jogadores. Talvez a terra fosse vendida em pequenos lotes. Haveria então boas oportunidades de negócios. Cada um devia contar suas moedas, tirá-las do esconderijo, calcular seus recursos, a fim de ter sua parte no loteamento de Saint-Lange. Essa perspectiva pareceu tão interessante que os notáveis, impacientes de saber se tinha fundamento, pensaram nos meios de obter a verdade através do pessoal do castelo; mas ninguém soube esclarecer a catástrofe que levava a patroa, no começo do inverno, a seu velho castelo de Saint-Lange, quando ela possuía outras terras famosas pela alegria das paisagens e a beleza dos jardins. O chefe da comuna veio apresentar suas homenagens à marquesa, mas não foi recebido. Depois dele, o capataz apresentou-se também sem sucesso.

A marquesa só deixava seu quarto para que ele fosse arrumado, e permanecia, nesse meio-tempo, numa pequena sala vizinha onde fazia as refeições, se pode chamar-se fazer refeições pôr-se à mesa e observar os pratos com repugnância, servindo-se deles na dose estritamente necessária para não morrer de fome. Depois, voltava imediatamente para a bergère antiga na qual, desde a manhã, sentava-se no vão da única janela que iluminava o quarto. Via a filha somente nos poucos instantes dedicados à sua triste refeição, e mesmo assim parecia suportá-la com dificuldade. Não era preciso haver dores inusitadas para fazer calar, numa mulher jovem, o sentimento materno? Ninguém na casa tinha acesso a seu quarto, com exceção da criada cujos serviços lhe agradavam. Exigiu um silêncio absoluto no castelo, a filha devia brincar longe dela. Era-lhe tão difícil suportar o menor ruído que qualquer voz humana, mesmo a da filha, a incomodava. Os moradores da região comentaram muito essas singularidades; mas depois, quando todas as suposições foram feitas, nem as pequenas aldeias vizinhas nem os camponeses pensaram mais nessa mulher doente.

Abandonada a si mesma, a marquesa pôde então permanecer perfeitamente silenciosa em meio ao silêncio que havia estabelecido a seu redor, e não teve nenhuma ocasião de deixar o quarto forrado de tapeçarias onde morrera a avó, e aonde viera para morrer suavemente, sem testemunhas, sem importunidades, sem ter que aguentar as falsas demonstrações dos egoísmos disfarçados de afeição que, nas cidades, obrigam os moribundos a uma dupla agonia. Essa mulher tinha agora vinte e seis anos. Nessa idade, uma alma ainda cheia de poéticas ilusões gosta de saborear a morte, quando esta lhe parece benfazeja. Mas a morte faz galanteios falsos para os jovens; avança e retira-se, mostra-se e esconde-se; sua lentidão os desencanta, e a incerteza que o dia seguinte lhes traz acaba por lançá-los de volta ao mundo onde reencontrarão o sofrimento que, mais impiedoso que a morte, não tardará a golpeá-los. Ora, essa mulher que se recusava a viver ia experimentar a amargura desses retardamentos no fundo de sua solidão, e nela fazer, numa agonia moral que a morte não concluiria, um terrível aprendizado de egoísmo que haveria de deflorar-lhe o coração e amoldá-lo ao mundo.

Esse triste e cruel ensinamento é sempre o fruto de nossas primeiras dores. A marquesa sofria verdadeiramente pela primeira e talvez única vez na vida. De fato, não seria um erro acreditar que os sentimentos se reproduzem? Uma vez surgidos, não continuam sempre a existir no fundo do coração? Ali apaziguam-se e despertam ao sabor dos acidentes da vida; mas permanecem ali, e sua presença modifica necessariamente a alma. Assim, todo sentimento teria um único grande dia, o dia mais ou menos longo de sua primeira tempestade. A dor, o mais constante de nossos sentimentos, só seria intensa em sua primeira irrupção; suas outras manifestações a iriam enfraquecendo, seja porque nos acostumamos a suas crises, seja por uma lei de nossa natureza que, para manter-se viva, opõe a essa força destrutiva uma força igual mas inerte, obtida nos cálculos do egoísmo. Mas, dentre todos os sentimentos, a qual caberá esse nome de dor? A perda dos pais é uma tristeza para a qual a natureza preparou os homens; o mal físico é passageiro, não abrange a alma; e, se persiste, já não se trata de um mal, mas da morte.