Qual era a moral disso?

A moral era, pensava eu: primeiro, que o prestidigitador-chefe havia escutado algo a respeito da chegada do Sr. Franklin entre os criados do lado de fora da casa, e havia visto um meio de tirar algum dinheiro da situação. Segundo, que ele, seus homens e o menino (pensando no dinheiro) pretendiam ficar por perto até que vissem minha senhora voltar para casa, e então retomariam para predizer a chegada do Sr. Franklin através de um passe de mágica. Terceiro, que Penélope os havia visto ensaiando sua mágica, como atores ensaiando uma peça. Quarto, que eu faria bem, naquela noite, em ficar de olho na mesa posta. Quinto, que Penélope faria bem em se acalmar, e em deixar que eu, seu pai, adormecesse ao sol novamente.

Isso me parecia um modo sensato de ver as coisas. Se os senhores conhecem algo do comportamento das jovens, não ficarão surpresos em saber que Penélope não o aceitou. Segundo minha filha, a moral da história era séria. Ela citou especificamente a segunda pergunta do indiano: “O cavalheiro inglês está com Ele?

— Ah, pai! — disse Penélope, juntando as mãos em uma súplica não brinque com isso! O que significa “Ele”?

— Bem, querida, pergunte ao Sr. Franklin — disse eu —, se puder esperar até que o Sr. Franklin chegue.

Pisquei o olho para mostrar que estava brincando. Penélope levou a coisa muito a sério. A aflição de minha filha me intrigava.

— Que diabos o Sr. Franklin poderia saber sobre isso? — perguntei.

— Pergunte a ele — disse Penélope. — E veja se ele também pensa que é assunto para brincadeira.

Com essa tirada, minha filha me deixou.

Decidi comigo mesmo, quando ela foi embora, que eu realmente iria fazer a pergunta ao Sr. Franklin — sobretudo para sossegar Penélope. O que foi dito entre nós, quando lhe perguntei, mais tarde no mesmo dia, os senhores encontrarão exposto integralmente no lugar apropriado. Mas, como não desejo criar expectativas para depois desapontá-los, tomarei a liberdade de avisar-lhes aqui — antes de prosseguirmos — que não encontrarão nem sombra de brincadeira em nossa conversa sobre os prestidigitadores. Para minha grande surpresa, o Sr. Franklin, como Penélope, levou a história muito a sério. Os senhores entenderão o quão seriamente quando eu lhes disser que, em sua opinião, “Ele” significava a Pedra da Lua.




CAPÍTULO 4




Sinto muitíssimo deter sua atenção em mim e minha cadeira de vime. Um velho dorminhoco em um pátio ensolarado não é um assunto interessante, bem sei. Mas as coisas devem ser postas em seus lugares, da maneira como realmente aconteceram — e os senhores devem suportar minha narrativa mais um pouco, à espera da chegada do Sr. Franklin mais tarde no mesmo dia.

Antes que eu tivesse tempo de adormecer novamente, depois que minha filha Penélope me havia deixado, fui incomodado por um barulho de pratos e talheres na área dos criados, o que significava que o jantar estava pronto. Uma vez que fazia minhas refeições em meus próprios aposentos, eu nada tinha a ver com o jantar dos criados, a não ser para desejar-lhes bom apetite, antes de afundar mais uma vez em minha cadeira. Estava esticando as pernas quando outra mulher veio ao meu encontro. Não minha filha novamente; dessa vez era apenas Nancy, a copeira. Eu estava em seu caminho e pude observar, quando me pediu que a deixasse passar, que havia em seu rosto uma expressão de desagrado — coisa que, por princípio, como chefe dos empregados, nunca deixo passar sem perguntar a razão.

— Por que você não está indo para o jantar? — perguntei. — O que há de errado agora, Nancy?

Nancy tentou me tirar do caminho, sem responder.