Cheque sua memória, velho amigo, e diga-me por quê.
Vi que ele estava aflito, e lhe contei.
Eis aqui a essência do que eu disse, escrita inteiramente para sua informação. Prestem atenção, ou ficarão perdidos quando formos mais fundo na história. Esqueçam por um instante as crianças, o jantar, o chapéu novo ou o que seja. Tentem deixar de lado a política, os cavalos, os preços da Bolsa de Valores e os desentendimentos no clube. Espero que não interpretem mal essa liberdade que agora tomo; é apenas uma maneira que tenho de atrair a atenção do gentil leitor. Deus! Já não o vi com os maiores autores nas mãos, e não sei quão pronta é sua atenção quando é um livro que a solicita, em vez de uma pessoa?
Falei, um pouco antes, do pai de minha senhora, o velho senhor de pavio curto e língua comprida. Ele tinha ao todo cinco filhos. Dois rapazes para começar. Então, depois de um longo tempo, sua mulher começou novamente a procriar, e as três moças vieram rapidamente uma após a outra, tão rapidamente quanto a natureza das coisas permite; minha patroa sendo, como já foi mencionado, a mais nova e a melhor das três. Um dos filhos, o mais velho, Arthur, herdou o título e as propriedades. O segundo, John, o Ilustre, teve uma bela fortuna herdada de um parente, e foi para o exército.
Dizem que o pássaro que suja o próprio ninho é um pássaro mau. Considero a nobre família dos Herncastle como meu ninho, e tomarei como um favor se não me pedirem para entrar em detalhes a respeito de John, o Ilustre. Acredito honestamente que ele foi um dos maiores patifes que jamais existiu. Posso dificilmente dizer algo a mais ou a menos em sua defesa. Foi para o exército, começando pela guarda real. Teve de deixar a guarda real antes de completar 21 anos — não importa por que. Eles são muito severos no exército, e foram severos demais para John, o Ilustre. Foi então para a Índia, ver se eram igualmente severos por lá e tentar pôr mãos à obra. No que tange à bravura (para fazer-lhe jus), era uma mistura de buldogue e galo-de-briga, com uma pitada de selvageria. Participou do ataque a Seringapatam. Pouco depois, transferiu-se para outro regimento e, no devido tempo, transferiu-se novamente. No terceiro obteve sua última patente como Tenente-Coronel e, ao consegui-la, conseguiu também uma insolação e voltou para casa, na Inglaterra.
Voltou com um temperamento que lhe fechou todas as portas da família, liderada por minha senhora (então recém-casada), que declarava (com a aprovação de Sir John, é claro) que seu irmão nunca entraria em casa sua. Havia mais de uma mácula no Coronel para fazer com que as pessoas se afastassem dele; mas o borrão do Diamante é tudo que preciso mencionar aqui.
Disseram que ele entrou na posse dessa joia indiana de um modo que não ousava confessar, mesmo com toda sua coragem. Nunca tentou vendê-la — uma vez que não precisava de dinheiro, e que (para fazer-lhe jus mais uma vez) também não se importava com ele. Nunca deu o Diamante, nunca o mostrou a ninguém. Alguns diziam que ele tinha medo de que o Diamante lhe causasse problemas com as autoridades militares; outros (muito ignorantes, de fato, sobre o verdadeiro caráter desse homem) diziam que ele tinha medo de que, se o mostrasse, isso lhe custasse a vida.
Talvez houvesse um pouco de verdade nessa última afirmação. É falso dizer que ele tinha medo; mas é fato conhecido que sua vida foi ameaçada na Índia em duas ocasiões, e acreditava-se com convicção que a Pedra da Lua estava na origem desses episódios. Quando ele voltou à Inglaterra e viu-se afastado de todos, pensou-se novamente que a Pedra da Lua era a causa de seus infortúnios. O mistério da vida do Coronel o prejudicou e isolou, pode-se dizer, de sua própria família. Os homens não permitiam sua entrada nos clubes; as mulheres — mais de uma — com quem ele queria se casar o recusaram; amigos e conhecidos ficaram míopes demais para vê-lo na rua.
Alguns homens nessa situação teriam tentado consertar as coisas.
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