A sereiazinha foi convidada para viajar com eles.
– Meus pais querem que eu me case com essa princesa – disse ele à Pequena Sereia. – Mas nunca poderei amar outra mulher a não ser a garota que salvou minha vida, e acho que jamais a verei novamente. Se devo me casar, preferia que fosse com você, minha amiga.
E, assim, o navio partiu em direção ao reino vizinho. Na manhã seguinte, quando chegaram à cidade, os sinos da igreja repicavam para saudar o Príncipe.
Quando a Princesa surgiu, o Príncipe, maravilhado, exclamou:
– É você! Foi você quem me salvou quando naufraguei. Meus sonhos se tornaram realidade.
Ele virou-se para a sereiazinha e completou:
– Tenho certeza de que você vai compartilhar da minha felicidade, pois ninguém me ama como você.
A pequena sereia beijou a mão do Príncipe, mas sentiu o coração se despedaçar. O casamento dele significava a morte para ela.

Depois da festa, os noivos se recolheram. Fez-se silêncio. A sereiazinha encostou-se na amurada e olhou na direção da alvorada. Ela sabia que os primeiros raios de sol a matariam. Então ela viu suas irmãs aparecerem no mar. Seus longos cabelos tinham sido cortados.
– Oferecemos nossos cabelos para a bruxa do mar, para que você não precise morrer esta noite – disseram as sereias. – A bruxa nos deu uma faca. Antes do amanhecer, você deve enterrá-la no coração do Príncipe e, quando o sangue dele atingir seus pés, você se tornará novamente uma sereia e viverá seus trezentos anos. Depressa! Um dos dois deve morrer. Mate o Príncipe e volte.
As princesas jogaram a faca a bordo e desapareceram entre as ondas.

A faca tremeu na mão da Pequena Sereia. Ela espiou pela cortina dos aposentos dos noivos. Pela última vez, a sereiazinha olhou para o rosto do príncipe adormecido. Voltou para a amurada e atirou a faca ao mar. As ondas tornaram-se vermelhas. Depois ela se jogou na água.
O sol nasceu. Seus raios eram quentes e gentis sobre a espuma mortalmente fria do oceano. A sereiazinha não sentiu a morte.
Ela viu centenas de espíritos dançando sobre ela. Suas vozes eram tão melodiosas que ouvidos humanos não conseguiam ouvi-las, assim como os olhos humanos não podiam ver os espíritos. Eles não tinham asas, mas mesmo assim flutuavam alegremente no ar. A sereiazinha ergueu-se da espuma, e seu espírito juntou-se aos demais.

– Aonde estou indo? – perguntou. Sua voz era doce como a das almas.
– Aos céus, com os espíritos do ar! – responderam as almas. – Você não possuía alma, mas, como nós, conseguiu uma, porque tem um coração que sabe amar e se doar. Nós voamos pelo mundo soprando uma brisa fresca nas pessoas que sofrem. Espalhamos aroma de flores pelo ar e o levamos a quem necessita. Após termos feito todo o bem que nos foi possível fazer por trezentos anos, conquistamos uma alma eterna.
A sereiazinha ergueu seus braços em direção ao sol de Deus.
1 comment