Como alguns poemas do livro foram objeto de censura judicial, estão ausentes da segunda edição. No entanto, a ela foram acrescentados outros poemas. Além disso, houve remanejamento na ordem dos poemas e criação de uma nova e importante seção, “Quadros parisienses”. Em 1868, portanto já postumamente, sai a terceira edição, preparada por Baudelaire e com acréscimo ainda de novos poemas; houve nela, porém, intervenções que não são consideradas de responsabilidade do autor, o que justifica a escolha da edição anterior como texto a ser seguido.
Assim, esses dados também explicam os agrupamentos dos poemas que se seguem ao conjunto do livro propriamente dito. Em primeiro lugar, vêm os “Poemas incorporados à terceira edição de 1868”, cujo título é explicativo. A seguir, o conjunto “Destroços” é composto por um volume organizado por Baudelaire em colaboração com Poulet-Malassis e publicado em 1866 na Bélgica (incluía então os poemas proibidos na França); esse conjunto organiza-se, por sua vez, a seguir ao poema inicial, em cinco seções — “Poemas condenados”, “Galanterias”, “Epígrafes”, “Poemas diversos” e “Brincadeiras” (em que, segundo Claude Pichois, se encontravam poemas que poderiam estar no projetado livro de comentários sobre a Bélgica, denotando seu caráter circunstancial e mesmo inferior). Em “Galanterias”, o último poema era “Franciscæ meæ laudes”, que já fazia parte do livro anteriormente publicado, passando então a constituir uma repetição — na edição de Claude Pichois, o poema ficou no corpo do livro, e em “Galanterias” inseriu-se uma nota sobre a situação. Nesta edição, manteve-se a opção da edição de Claude Pichois, mas se dispensou a nota em “Galanterias”.
Segue-se, por fim, o “Arquivo das Flores do mal”, com os projetos de prefácios, a primeira versão da dedicatória, os “Restos”, bem como elementos elaborados por Baudelaire no âmbito do processo instaurado contra o livro. Os “Restos” são fragmentos passados a limpo por Baudelaire, o que demonstra a intenção de possível utilização.
Entre as diferenças que às vezes ocorrem entre as edições, está o fato de algumas reintegrarem os poemas condenados ao corpo do livro, em vez de os deixar nos “Destroços”. Além disso, algumas incluem nos “Poemas incorporados à terceira edição” o poema “À Théodore de Banville”, retirado em outras, como na de Claude Pichois, por se saber que sua inclusão não foi feita por Baudelaire; um segundo poema desse conjunto, também excluído da edição de Claude Pichois, é “Le calumet de la paix”, que na verdade é uma adaptação de um poema de Longfellow.
Procurou-se não sobrecarregar este volume com notas, limitadas assim ao que pareceu indispensável — a uma ou outra informação referente à edição dos poemas e a dados muito particulares do texto. As notas não se ocupam de informações, por exemplo, sobre nomes que podem ser facilmente encontráveis em obras de referência, como os dos artistas do poema “Os faróis”. As notas foram, não integralmente, mas em boa parte elaboradas com base nas notas das edições de Pichois, Dupont, Jackson e McGowan. Embora muitas informações sejam, como não poderia deixar de ser, comuns a todas as anotações, há casos em que a nota traz uma interpretação própria de seu autor ou uma informação particular — nesses casos específicos é referido o autor.
Complementam esta edição três textos críticos. O notável texto de J. Barbey d’Aurevilly é contemporâneo da primeira edição de As flores do mal, tendo sido escrito na ocasião do processo de censura a poemas do livro. Defesa do livro, o artigo se propunha a fornecer elementos para sua compreensão, acabando por também expor alguns dados que se tornaram importantes para a crítica posterior, como ao apontar que se tratava de uma lírica não individualista ou ao salientar a rigorosa organização do livro. O prefácio de Guillaume Apollinaire a uma edição de 1917, texto já de um dos autores centrais das vanguardas poéticas do começo do século XX, traz, ao lado de algumas observações inusitadas, antevisões surpreendentes, além de incluir a homenagem de Mallarmé a Baudelaire. Por fim, o artigo de Paul Valéry, que data de alguns anos depois do de Apollinaire, já acompanhou várias edições de Les fleurs du mal, pois é uma apresentação mais ampla — ainda que se detenha em alguns pontos específicos, como a relação com o romantismo e com Edgar Allan Poe, sendo um texto de grande importância na bibliografia sobre Baudelaire.
1. John E. Jackson, “Introduction”. In: Charles Baudelaire, Les fleurs du mal. Paris: Le Livre de Poche, 1999, p. 9.
2. Id., Baudelaire. Paris: Le Livre de Poche, 2001, p. 48.
3. Marcel Raymond, De Baudelaire ao surrealismo. Trad. de Fúlvia M. L.
1 comment