Oh, que alguma voz encorajadora me responda afirmativamente! Minha coragem e resolução estão firmes; mas minhas esperanças oscilam, e meu espírito frequentemente se encontra deprimido. Estou prestes a seguir numa longa e difícil viagem, cujas contingências vão exigir toda a minha força: caberá a mim não apenas elevar o moral dos outros, mas às vezes sustentar o meu próprio quando o deles vacilar.
Esta é a melhor época para viajar na Rússia. Os trenós voam rapidamente na neve; o movimento é prazeroso e, na minha opinião, muito mais agradável do que o de uma diligência inglesa. O frio não é excessivo, se você estiver envolto em peles – uma vestimenta que já adotei, pois há uma grande diferença entre caminhar no convés e permanecer sentado imóvel por horas, sem qualquer exercício que evite que o sangue congele de fato em suas veias. Não tenho ambição de perder a vida na estrada entre São Petersburgo e Arcangel.4
Devo partir para essa última cidade em duas ou três semanas; e minha intenção é lá contratar um navio, o que pode ser feito facilmente pagando-se o seguro para o proprietário, e tantos marinheiros quanto achar necessário entre os que estão acostumados a caçar baleias. Não pretendo velejar antes de junho. E quando devo retornar? Ah, querida irmã, como posso responder a essa pergunta? Se tiver sucesso, muitos e muitos meses, talvez anos, terão se passado antes que você e eu possamos nos encontrar. Se fracassar, você irá me ver novamente em breve, ou nunca mais.
Adeus, minha querida e maravilhosa Margaret. Que o céu derrame bênçãos sobre você e, Deus queira, que eu possa de novo assegurar minha gratidão por todo o seu amor e a sua bondade.
Seu amoroso irmão,
R. Walton
2. O ponteiro da bússola, sempre atraído para o Norte magnético.
3. Homero, poeta da Antiguidade grega, autor de épicos como Ilíada e Odisseia. William Shakespeare (1564-1616), poeta e dramaturgo inglês, autor de clássicos como Romeu e Julieta, Hamlet e Sonho de uma noite de verão.
4. Capital da província de Arkhangelsk, no noroeste da Rússia, ao norte de São Petersburgo.
CARTA II
Para a sra. Saville, Inglaterra
Arcangel, 28 de março de 17–
Como o tempo passa lento aqui, rodeado como estou por gelo e neve! Ainda assim, um novo passo é dado em direção à minha missão. Contratei uma embarcação e estou ocupado reunindo meus marinheiros. Aqueles que já empreguei parecem ser homens com os quais posso contar e certamente possuem uma coragem destemida.
Mas tenho um desejo que ainda não fui capaz de satisfazer; e sinto agora essa ausência como o mal mais severo. Não tenho amigos, Margaret. Quando estiver desfrutando o entusiasmo do sucesso, não haverá quem compartilhe meu prazer; se for tomado pela decepção, ninguém vai se esforçar para me afastar da tristeza. Devo dedicar meus pensamentos ao papel, é verdade; mas esse é um pobre meio para a comunicação de sentimentos. Desejo a companhia de um homem que possa se solidarizar comigo; cujos olhos respondam aos meus. Pode me considerar romântico, minha querida irmã, mas sinto amargamente a falta de um amigo. Não tenho ninguém perto de mim, gentil e ainda corajoso, de posse de uma mente elevada e capaz, cujos gostos sejam como os meus, para aprovar ou reparar meus planos. Como tal amigo poderia corrigir os defeitos de seu pobre irmão! Sou impetuoso demais na execução e impaciente demais nas dificuldades. Mas ainda é um mal maior para mim ser autodidata: pelos primeiros quatorze anos de minha vida, vivia solto por aí e nada lia além dos livros de viagem de nosso tio Thomas. Naquela idade, tomei conhecimento de célebres poetas de nosso próprio país; mas foi só quando deixou de estar em meu poder extrair os benefícios mais importantes de tal convicção que percebi a necessidade de me tornar conhecedor de mais línguas do que a de meu país natal. Agora tenho vinte e oito anos e na realidade sou mais iletrado do que muitos estudantes de quinze. É verdade que tenho pensado mais, e que meus devaneios são muito mais extensos e magníficos, porém falta a eles (como dizem os pintores) perspectiva, e preciso fortemente de um amigo que tenha bom senso o suficiente para não me desprezar como romântico, e afeição o bastante para que eu me esforce por organizar minhas ideias.
Bem, essas são queixas inúteis; certamente não vou encontrar amigo algum no vasto oceano, nem mesmo aqui em Arcangel, entre mercadores e marinheiros. Ainda assim, mesmo nesses peitos rudes pulsam sentimentos não relacionados ao dejeto da natureza humana. Meu tenente, por exemplo, é um homem de maravilhosa coragem e iniciativa; deseja loucamente a glória, ou melhor, para frasear com mais precisão, o avanço em sua profissão.
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