Talvez mo dê ainda se tu o quiseres – disse Nat, desejando corresponder delicadamente às atenções do seu colega.

– Gostaria de possuí-lo. Dar-te-ia este e viveriam juntos, se não brigassem. Olha para aqueles ratinhos brancos. Pertencem a Rob e foi Franz quem lhos ofereceu. Os coelhos são de Ned, as galinhas da Índia são do Jorge, o "Traga-Bolos", como sabes. Esta caixa grande é o tanque dos cágados de "Meio-Brooke". O ano passado teve setenta e dois; num deles gravou o seu nome e a data e soltou-os a todos, esperando vir a encontrar e reconhecer o marcado daqui a muito tempo. Li, não sei onde que uns pescadores haviam apanhado uma tartaruga que trazia na carapaça umas coisas escritas há não sei quantos séculos... Ah, advirto-te que "Meio-Brooke" é um rapaz muito caprichoso.

– O que é que há aqui? – perguntou Nat detendo-se diante de uma caixa grande e funda, quase cheia de terra.

– É a caixa das minhocas de Jack Ford. Dedica-se a apanhar e a criar minhocas, guardando-as aqui. Quando vamos pescar, compramo-lhas, para pouparmos o incómodo de preparar os iscos. Mas leva sempre muito caro. Na última compra que lhe fiz tive de lhas pagar à razão de dois dinheiros por dúzia, e, para mais, as minhocas eram muito pequenas. Às vezes Jack é mesquinho e agarrado e já lhe disse que, se não baixar os preços, eu próprio criarei as minhocas que precisar para a pesca. Vês aquelas galinhas cinzentas, carecas? São minhas. Vendo os ovos à mamã Bhaer, mas nunca peço mais do que vinte e cinco centavos por dúzia. Nunca! Sentiria vergonha levar-lhe mais caro – declarou Tommy, lançando um olhar de desprezo e censura para a caixa das minhocas.

– De quem são os cães? – inquiriu Nat, interessadíssimo nas transações comerciais e sentindo que seria grande privilégio ser o protegido de Tommy.

– O cão maior é de Emil. Dá pelo nome de Cristóvão Colombo. Foi a mamã Bhaer quem o batizou, de modo que, quando falamos de Cristóvão Colombo, ninguém imagina que nos referimos ao cão; o outro, branco, é de Rob e o cinzento é de Teddy. Um homem queria afogá-los no tanque, mas o Sr. Bhaer não deixou e ficou com eles.

As crianças brincam muito com eles. Chamam-se Castor e Pólux.

– Se pudesse, gostava de ser o dono do burrinho Tobias. É tão pequenino e tão manso e anda-se tão bem montado nele – exclamou Nat, lembrando-se das andanças da sua antiga vida.

– Tobias foi um presente do Sr. Laurie para a mamã Bhaer, a fim de esta não ter de levar ao colo Teddy quando vamos passear. Tobias gosta de todos nós, é um burrinho muito simpático. As pombas que vês por aí são de todos. Cada um escolhe a sua favorita e distribuímos os seus filhos. Os borrachinhos são muito bonitos. Entretém-te a ver as pombas, enquanto vou espreitar se a minha Cinderela e a minha Pintadinha já puseram ovo hoje.

Nat subiu por uma escada; enfiou a cabeça por um postigo e contemplou à vontade as lindas pombas, que debicavam e arrulhavam na espaçosa mansarda, repousando nos ninhos, esvoaçando de um lado para o outro ou voando do poleiro do telhado até ao curral, onde meia dúzia de vacas ruminavam placidamente.

"Todos, menos eu, possuem aqui alguma coisa. Gostava também de ter uma galinha, uma pomba ou até mesmo uma tartaruga que fosse minha", pensou Nat, doendo-se da sua pobreza ao contemplar as riquezas dos demais rapazes. Em seguida, juntando-se a Tommy no celeiro, perguntou-lhe:

– Como conseguiram arranjar tantas coisas?

– Umas são achadas, outras compradas e outras oferecidas.