Então, com uma pistola em cada mão, intimei-o a deter-se. Israel Hands parou e disse-me que se rendia.

Escutava eu sorridente as suas palavras, quando, inopina-damente, urna coisa qualquer cortou os ares: senti uma dor agudo e vi que estava ferido. A surpresa e a dor fizeram com que, involuntária e inconscientemente, eu dispa-rasse as duas pistolas e as deixasse escapar dos mãos.

Mas não caíram sós, pois, com um grito abafado, o con-22

tramestre se precipitou no mar de cabeça para baixo. Livre de Hands, consegui desencravar de mim o punhal e fui ter rápido à coberta da goleta. Estava só e a maré começava a mudar. Debruçando-me da amurada, vi que ali o mar era pouco profundo. Deixei-me então escorregar vagarosamen-te até à água, que mal me chegava à cintura, e alcancei a praia são e salvo.

Caminhando velozmente, cheguei sem demora ao lugar onde encontrara Ben Gunn. Era quase noite e, quando alcancei o morro, divisei o fortim e uma certa claridade. Con-fiante, fui ao encontro do luz, que me parecia de um ver-melho vivo e que de vez em quando diminuía de intensida-de corno o tição de um braseiro prestes a se apagar.

Cheguei à entrada do fortim sem encontrar ninguém e já me preparava para deitar-me, quando um dos meus pés esbarrou no perna de alguém que dormia e que se virou, mas continuou a dormir.

Então de repente, ouvi uma voz na escuridão. Era o papagaio verde do capitão Silver. Não tive nem tempo de pen-sar. Ao grito agudo do papagaio, os homens que ali estavam acordaram e puseram-se de pé, enquanto Silver ber-rava: “Quem está aí?” Eu caíra no ratoeira.

Em volta de mim estavam John Long Silver, o papagaio verde e seis piratas‘. Dos meus amigos, nem sinal.

0 velho John foi o primeiro a falar. Mandou colar os seus homens, falou-me do cólera do capitão Smollett pela minha segundo fuga e propôs-me, sem muitos rodeios, que passasse para o seu lado e ficasse com ele . Antes de lhe dor uma resposta categórica, pedi-lhe que me contasse o que acontecera durante a minha ausência. E Long John recomeçou a falar.

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Vim então a saber que o Dr. Livesey aparecera no dia ante-rior e, depois de mostrar a Silver que a nossa goleta sumi-ra, lhe propusera uma trégua e entregara o fortim aos piratas. Quando acabou de falar, Long John Silver pensava ter-me nas suas mãos. Mas’ logo o desenganei, dizendo-lhe que eu descobrira a sua conspiração, escondido numa barrica, que cortara as amarras da “Espanhola”, fazendo-a ir para o mar alto, e que matara Israel Hands, único sobre-vivente do nosso navio.

As minhas palavras enfureceram os piratas. Os marinheiro Tom Morgan desembainhou a sua faca e quis cravá-lo em mim. John Silver deteve-o a tempo.