Não sei quem.
— Caramba Como gostam de fazer mexericos — exclamou Jackson Lemon com certa aspereza.
— Vejo que é verdade, pela maneira como você fala.
— Freer e a esposa acreditam nisso? — prosseguiu Jackson Lemon impacientemente.
— Querem que você os visite. Poderá, assim, julgar por si mesmo.
— Vou visitá-los e dizer-lhes que cuidem da própria vida.
— Moram em Jermyn Street, mas esqueci o número. Lamento que a marquesa não seja americana — continuou Sidney Feeder.
— Se me casasse com ela, seria; mas não vejo que diferença isso possa fazer para você — disse-lhe o amigo.
— Acontece que ela menospreza nossa profissão, e eu não apreciaria isso em sua esposa.
— Isso diz mais respeito a mim que a você.
— Então é verdade? — perguntou Feeder, mais seriamente, e fitando o amigo nos olhos.
— Ela não menospreza nossa profissão. Posso garantir-lhe.
— Quanto a isso, a questão pouco lhe importa, pois você, agora, não a exerce.
— Não, não é assim. Pretendo trabalhar muito.
— Acreditarei nisso quando o vir trabalhando — declarou Sidney Feeder, que não era de forma alguma incrédulo, mas achava conveniente adotar essa atitude. — Não estou muito certo de que você tenha direito a trabalhar. Não deve ter tudo. Tem de deixar o campo para nós. Tem de pagar o preço de ser tão rico. Teria ficado famoso se houvesse continuado a trabalhar, mais famoso que qualquer outra pessoa. Mas não será agora. Não pode ser. Algum outro ficará famoso em seu lugar.
Jackson Lemon ouviu a dissertação sem olhar para o amigo; não porque procurasse evitar-lhe o olhar, porém mais como se a longa extensão da avenida, agora cada vez mais obstruída, o atraísse, e a conversa com o Dr. Feeder o estivesse atrasando. Respondeu, entretanto, intencionalmente e com bastante amabilidade: — Espero que seja você — e curvou-se, num cumprimento a uma senhora que passava a cavalo.
— É bem provável que seja eu. Espero fazê-lo sentir-se mal. É o que estou tentando fazer.
— Oh! Está, e muito — exclamou Jackson Lemon. Tanto mais que ainda não estou noivo.
— Então, está muito bem. Você aparecerá lá amanhã?perguntou o Dr. Feeder.
— Tentarei aparecer, meu caro amigo. Não tenho muita certeza. Até logo!
— Você já é um caso perdido! — disse Sidney Feeder quando Jackson se pôs a caminho.
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1 Membro do partido conservador. (N. do E. )
II
Foi Lady Marmaduke, esposa de Sir Henry Marmaduke, quem apresentou Jackson Lemon a Lady Beauchemin, após o que esta o apresentou à mãe e à irmã. Lady Marmaduke também era do outro lado do Atlântico; fora para o marido, um baronete, a consequência mais permanente de uma viagem aos Estados Unidos. Atualmente, ao fim de dez anos, conhecia Londres mais do que conhecera Nova York, de modo que lhe fora fácil ser, como se intitulava, a madrinha social de Jackson Lemon. Tinha ideias próprias em relação à carreira dele, e tais ideias se ajustavam a um plano social que, se o espaço permitisse, eu teria prazer em expor ao leitor em sua magnitude. Desejava acrescentar um ou dois arcos à ponte pela qual se transferira da América para a Inglaterra, e acreditava que Jackson Lemon podia fornecer o material. Via essa ponte (no futuro) como uma estrutura vaga e oscilante, que se estendia de um sólido pilar a outro; deveria ter mão e contramão, pois a reciprocidade constituía o sustentáculo do plano de Lady Marmaduke.
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