Julgava inevitável, no fim, uma fusão; e as pessoas que primeiro compreendessem a situação seriam as que mais lucrariam. Na primeira vez em que Jackson Lemon jantou com Lady Marmaduke, o jovem conheceu Lady Beauchemin, sua amiga íntima. Lady Beauchemin, uma graciosa criatura, convidou-o a visitá-la, se é que foi, nisso, realmente sincera. Ele apresentou-se em sua casa e encontrou, na sala de visitas, a mãe, que nessa ocasião também fora visitá-la. Lady Canterville, não menos agradável que a filha, convidou-o a ir a Pasterns na semana da Páscoa; e, antes de passado um mês, pareceu-lhe que, embora não fosse o que se teria chamado de íntimo em qualquer casa de Londres, a porta da casa de Clement ficara constantemente aberta para ele. Era uma grande sorte, pois sempre se abria para um quadro encantador. Os ocupantes da casa eram de raça florescente e bela, e o interior da residência tinha aspecto do mais agradável conforto. Não se via ali o esplendor de Nova York (conforme a cidade começara, ultimamente, a parecer ao jovem), mas um esplendor em que havia o precioso ingrediente dos séculos. Ele próprio era muito rico, e riqueza era coisa excelente, ainda que de aquisição recente; mas a fortuna antiga era melhor. Mesmo depois que soube ser o dinheiro de Lorde Canterville mais antigo que abundante, ainda era a força do ouro que o dominava. Foi Lady Beauchemin quem lhe disse que o pai não era rico, tendo-lhe contado, além disso, muitas coisas surpreendentes; coisas que não sabia se eram surpreendentes em si ou nos lábios dela. Isso voltou a causar-lhe admiração mais tarde, na noite do dia em que encontrou Sidney Feeder no parque. Jantou fora, em companhia de Lady Beauchemin, que depois, como estava só — o marido fora assistir a um debate —, deixou que a acompanhasse a vários lugares. Compararam suas notas e ficou acertado que iriam juntos à casa dos Trumpington, onde também pareceu, às onze horas, que toda a sociedade se havia reunido, pois a via de acesso à casa, numa extensão de oitocentos metros, estava abarrotada de carruagens. Era uma noite um tanto escura; a carruagem de Lady Beauchemin, em seu lugar na fila, ficou parada por longo tempo. Em seu canto, ao lado dela, Jackson Lemon, um tanto acalorado e oprimido, olhou da janela para o pavimento úmido e escorregadio sobre o qual se projetava, até grande distância, a claridade que emanava de um logradouro público. Lady Beauchemin não se mostrava impaciente, pois tinha em mente uma ideia e podia dizer, agora, o que desejava dizer.
— Você a ama realmente? — foi a primeira coisa que perguntou.
— Bem, acho que sim — respondeu Jackson Lemon, como se não reconhecesse a obrigação de falar seriamente.
Lady Beauchemin fitou-o por um momento, em silêncio; ele percebeu e, virando os olhos, viu-lhe o rosto, em parte obscurecido, à luz de uma lâmpada da rua. Ela não era tão bonita quanto Lady Barbarina; seu rosto tinha certa dureza; os cabelos, de cor clara e maravilhosamente encaracolados, quase lhe cobriam os olhos, cuja expressão, juntamente com a do nariz pontiagudo, e o brilho de vários diamantes, emergia da sombra.
— Você parece não saber. Nunca vi um homem em tão curioso estado — disse ela, passado um instante.
— Você me está apressando muito. Preciso de tempo para pensar a respeito — observou o jovem. — Você sabe que lá, em meu país, concedem-nos muito tempo.
Jackson Lemon tinha várias pequenas singularidades de expressão das quais estava perfeitamente consciente, e que julgava convenientes, pois protegiam-no numa sociedade em que um americano solitário se via um tanto exposto; davam-lhe uma vantagem que suavizava certas dificuldades. Tinha muito poucos americanismos naturais, mas o emprego de um, discretamente escolhido, fê-lo parecer mais simples do que realmente era; e tinha suas razões para desejar esse resultado. Não era simples; era sutil, circunspecto, arguto, e perfeitamente consciente de que poderia cometer erros. Havia o perigo de cometer um erro naquela ocasião, erro que seria imensamente grave. Estava decidido apenas a ser coroado de êxito. É verdade que teria de correr certo risco para conseguir um grande êxito; tinha, entretanto, de considerar esse risco, e ganhava tempo enquanto aprimorava as ideias e falava sobre o seu país.
— Você poderá levar dez anos, se quiser — disse Lady Beauchemin. — Não tenho pressa alguma em fazê-lo meu cunhado. Lembre-se apenas de que foi você quem me falou primeiro.
— Que foi que eu falei?
— Disse-me que Barbarina era a moça mais bela que tinha visto na Inglaterra.
— Oh! Estou disposto a sustentar isso. Aprecio aquele tipo de mulher.
— Vejo que gosta mesmo do tipo dela.
— Admiro-a muito, com todas as suas peculiaridades.
— Que quer dizer com "todas as suas peculiaridades"?
— Bem, ela tem algumas ideias peculiares, e um modo peculiar de falar — declarou Jackson Lemon, num tom da mais doce razoabilidade.
— Ora, você não pode esperar que falemos tão bem quanto você — exclamou Lady Beauchemin.
— Não sei por que não. Vocês fazem algumas coisas muito melhor.
— Temos nossos hábitos, é claro que nos julgamos os melhores do mundo.
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