Saboreava, porém, a liberdade de não ir, e gostou de saboreá-la. Sabia que, para sentir isso melhor, devia recolher-se à cama; mas não se deitou nem tirou o chapéu. Começou a andar de um lado para outro, na sala de estar, ainda com aquele ornamento sobre a cabeça, muito inclinado para trás, com as mãos nos bolsos. Havia muitos cartões enfiados na moldura do espelho da lareira. Toda vez que passava por ali, parecia ver o que estava escrito num deles: o nome da dona da casa de Portland Place, seu próprio nome, e, embaixo, no canto esquerdo, as palavras: "Haverá um pouco de dança". Devia, naturalmente, tomar uma decisão; faria isso no dia seguinte, foi o que disse a si mesmo, em suas passadas pela sala; e, de acordo com essa decisão, falaria com Lorde Canterville, ou tomaria o trem expresso para Paris. Enquanto isso, seria preferível não ver Lady Barbarina. Era bastante claro para ele, quando se detinha vez por outra e contemplava vagamente aquele cartão no espelho da lareira, que fora longe demais; e fora longe porque ficara encantado com Lady Barb. Sim, ficara apaixonado por ela. Não havia dúvida a respeito; tinha a faculdade de diagnosticar o caso e sabia, perfeitamente, o que se passava com ele. Não perdeu tempo meditando sobre o mistério de sua paixão, pensando se não poderia ter escapado mantendo, a princípio, uma pequena vigilância, ou se aquilo não terminaria se fosse embora. Aceitara francamente pelo prazer que lhe proporcionava — a jovem era o deleite de seus olhos —, e limitara-se a considerar se aquele casamento condiria com sua situação geral. Isso não decorreria necessariamente do fato de achar-se apaixonado; muitas outras coisas adviriam. O mais importante era a mudança, não só do ponto de vista geográfico como do ponto de vista social, para a esposa, bem como certo reajuste que o casamento haveria de provocar em sua vida. Não se sentia inclinado a reajustes, e não havia razão para que devesse sentir-se. Sua posição não deixava, sob muitos aspectos, de oferecer-lhe vantagens. Mas a jovem tentava-o quase irresistivelmente, satisfazendo sua imaginação tanto de homem apaixonado como de estudioso do organismo humano; era uma figura florescente e completa, uma figura que raramente se encontrava com aquele grau de perfeição. Jackson Lemon não era um apaixonado pelos ingleses, mas admirava-lhes as condições físicas, seu caráter geral, seu temperamento e sua formação; e Lady Barbarina figurava-se a ele, em sua forma flexível e virginal, uma maravilhosa síntese daqueles elementos. Havia, em sua beleza, algo simples e robusto; sua beleza tinha a serenidade das antigas estátuas gregas, sem a vulgaridade da afetação da gente moderna ou das pessoas bonitas de hoje. A cabeça denotava certa altivez; e, embora a conversação fosse atualizada, Jackson Lemon dissera a si mesmo que havia na alma dela, seguramente, certa sinceridade primitiva, que se harmonizava com a expressão de seu rosto. Via-a como podia ser no futuro, a bela mãe de belas criaturas, em que se destacariam as características da raça. Gostaria de que os filhos tivessem essas características, e sabia que devia tomar, portanto, suas precauções. Muitas pessoas, na Inglaterra, tinham-nas, e era um prazer, para ele, vê-las; e ninguém as tinha de maneira tão incontestável quanto a segunda filha de Lorde Canterville. Seria uma grande felicidade tê-la como esposa; nada podia ser mais evidente que isso; não fazia diferença que fosse ou não dotada de extraordinária sagacidade. Uma sagacidade extraordinária não fazia parte da forma harmoniosa e do caráter geral dos ingleses; estava associada à afetação moderna, resultante de uma sensibilidade moderna. Se Jackson Lemon tivesse desejado uma esposa sensível, poderia certamente encontrá-la em seu país; mas aquela moça alta, loura, cujo porte, à semelhança de sua figura, dava a impressão de hábil amazona, tornava-a diferente das outras em seu todo. Ainda assim, seria conveniente — como se costumava dizer em Londres — casar-se com ela e levá-la para Nova York?

pitop

Essa pergunta voltou-lhe ao espírito. Voltava com persistência tal, que teria deixado Lady Beauchemin impaciente se lhe fosse dado considerá-la. Ficara irritada, mais de uma vez, quando ele aparentara prender-se assim exclusivamente àquele ponto de vista, como se pudesse deixar de ser coisa agradável, a um pequeno médico americano, casar-se com a filha de um nobre inglês. Teria sido mais aceitável, aos olhos de Lady Beauchemin, que ele considerasse a questão com mais naturalidade, e com menos naturalidade o consentimento da jovem e da família.