Ambos encaravam a questão de maneira tão diferente! Jackson Lemon sabia que, se casasse com Lady Barbarina Clement, seria porque isso lhe convinha, e não porque conviria à sua possível cunhada. Acreditava que agia em todas as situações por sua própria vontade, faculdade pela qual tinha o mais alto respeito.
Teria parecido, entretanto, que naquela ocasião sua vontade não estava atuando com muita regularidade, pois, embora tivesse voltado para o hotel a fim de dormir, a badalada da meia hora após a meia-noite viu-o saltar não para o leito, mas para uma carruagem, que o assobio do porteiro chamara para a porta do hotel, e na qual partiu com destino a Portland Place. Encontrou ali — numa casa muito grande — uma reunião de trezentas pessoas, e uma orquestra oculta num pavilhão ornamentado de azáleas. Lady Canterville não havia chegado; o jovem vagueara pelas salas e assegurara-se disso. Descobriu, também, um excelente jardim de inverno onde havia fileiras e pirâmides de azáleas. Ficou observando o alto da escadaria, e só depois de muito tempo viu a quem procurava. Sua impaciência parecia quase não ter fim. A recompensa, porém, quando veio, foi tudo o que poderia ter desejado: um breve sorriso de Lady Barbarina, que se achava atrás da mãe, quando esta estendeu a ponta dos dedos à anfitrioa. A entrada dessa encantadora senhora, com suas belas filhas — sempre um notável acontecimento —, foi realizada com certo brilho; e, naquele momento, agradou a Jackson Lemon pensar que essa entrada o interessava mais ainda que a qualquer outro, na casa. Alta, deslumbrante, olhando em volta como se enxergasse pouco, Lady Barbarina era, evidentemente, uma figura em torno da qual a fantasia do jovem podia girar. Era muito serena e simples, de maneiras e movimentos delicados; nada havia de vulgar em sua indiferença. Parecia que procurava não se destacar, e que esperava, como coisa muito natural, ser atendida; não havia nisso, evidentemente, exagero algum, pois era demasiado altiva, e isso a fazia ter perfeita confiança em si. A irmã, mais baixa e mais delgada, com um pequeno sorriso de surpresa parecendo dizer que, em sua grande inocência, estava preparada para tudo, tendo ouvido, indiretamente, comentários extraordinários sobre a sociedade em geral, mostrava-se muito mais impaciente e mais expressiva; projetara do limiar da porta a bela radiação de seus olhos e dentes antes que o nome da mãe fosse anunciado. Muitas pessoas eram de opinião de que Lady Canterville superava as filhas; tinha conservado muito mais beleza do que a que lhes dera; e era uma beleza que se denominava beleza intelectual. Dotada de extraordinária doçura, sem quaisquer manifestações definidas, suas maneiras eram suaves, quase ternas; havia nelas até uma espécie de comiseração. Seus traços, além disso, eram perfeitos, e nada podia ser mais gracioso, que seu modo de falar às pessoas, ou, antes, de ouvi-las, a cabeça inclinada um pouco para o lado. Jackson Lemon apreciava-a. Ela, indubitavelmente, mostrou-se muito amável para com ele. O rapaz aproximou-se de Lady Barbarina tão logo pôde, sem dar impressão de ter sido precipitado, e disse-lhe que esperava que ela não dançasse. Ele era mestre na arte da dança, que em Nova York florescia acima de todas as demais; guiara a jovem, numa dezena de valsas, com habilidade que, na opinião dela, nada deixava a desejar. Mas a dança, naquela noite, não o interessava. Lady Barbarina sorriu um pouco ante aquela manifestação de esperança.
— Foi para isso que mamãe nos trouxe aqui. Não gostará se não dançarmos — disse.
— Como saberá se ela gosta ou não? Você sempre dançou.
— Uma vez não dancei — declarou Lady Barbarina. Ele observou que, de qualquer maneira, acertaria essa questão com a mãe, e convenceu-a a dar um passeio até o jardim de inverno, onde havia lanternas coloridas suspensas entre as plantas e trepadeiras, formando uma abóbada. Com parado às outras salas, o jardim de inverno era sombrio e ficava distante. Eles, porém, não ficaram sós; meia dúzia de outros pares lá estavam. Fileiras de azáleas davam um tom róseo ao ambiente sombrio, e o som suave da música ali se espalhava, o que tornava possível conversar sem ter de atentar para os pares vizinhos. Somente ao considerar a cena, pouco tempo depois, foi que Lady Barbarina percebeu que aqueles pares dispersos falavam como que murmurando. Não os olhou; parecia-lhe que, praticamente, encontrava-se a sós com Jackson Lemon. Fez um comentário qualquer sobre jardins de inverno e a fragrância do ar.
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