Era um prazer falar-lhe da própria beleza; isso levava-o para mais perto dela, como nunca estivera. Mas o rosto dela se ruborizara, e isso pareceu lembrar-lhe que a beleza não era tudo.

— Tudo em você é doce e nobre — continuou. — Tudo em você me é precioso. Sei que você é bondosa. Não sei o que pensa de min. Pedi a Lady Beauchemin que me dissesse, e ela mandou que eu mesmo julgasse. Pois bem, julgo você igual a mim. Não terei o direito de admitir isso até que se prove o contrário? Posso falar com seu pai? É o que desejo saber. Venho esperando isso; mas, agora, por que deveria esperar mais tempo? Desejo poder dizer-lhe que você me deu alguma esperança. Suponho que você deva falar com ele primeiro. Queria falar amanhã; mas, hoje à noite, pensei em conversar antes com você. Em meu país, isso não importaria muito. Lá, você própria teria de considerar tudo. Se me disser que não fale com seu pai, não falarei. Esperarei. Mas prefiro pedir-lhe licença para falar com ele do que pedir a ele licença para falar com você.

Sua voz passara a sair quase num murmúrio, e, embora tremesse, a emoção dava-lhe uma intensidade peculiar; mantinha entretanto a mesma atitude, os polegares nos bolsos das calças, a cabeça levantada e o sorriso que lhe transparecia muito natural nos lábios; ninguém teria imaginado o que estava dizendo. Ela escutara-o sem se mover, e, quando ele terminou, ergueu os olhos. Pousou-os nos dele um momento. Ele lembrou-se, muito tempo depois, da expressão que passara por aquele olhar.

— Pode dizer tudo o que queira a meu pai, mas não quero ouvir mais coisa alguma. Você falou muito, considerando-se o muito pouco que me deu a entender, antes.

— É que estive observando-a — confessou Jackson Lemon.

Lady Barbarina ergueu mais ainda a cabeça e fitou-o nos olhos. Disse, depois, com seriedade: — Não gosto de ser observada.

— Não devia, então, ser tão bonita. Não me vai dar uma palavra de esperança? — acrescentou ele.

— Nunca pensei que viria a casar-me com um estrangeiro — disse Lady Barbarina.

— Você me está chamando de estrangeiro?

— Creio que suas ideias são muito diferentes, e seu país é diferente. Você mesmo declarou isso.

— Gostaria de mostrá-lo a você. Faria com que gostasse dele.

— Não estou certa do que você poderia obrigar-me a fazer — disse Lady Barbarina, com sinceridade.

— Nada que não desejasse.

— Tenho certeza de que tentaria agir assim — declarou ela com um sorriso.

— Bem, afinal de contas, é o que estou tentando agora — disse Jackson Lemon.

A isso, ela simplesmente respondeu que devia ir para junto da mãe, e ele foi obrigado a sair do pavilhão com ela. Não encontraram logo Lady Canterville, de modo que Jackson ainda teve tempo de murmurar-lhe, enquanto caminhavam: — Agora que falei, sinto-me feliz.

— Talvez esteja sentindo-se feliz cedo demais — observou a jovem.

— Oh! Não fale assim, Lady Barb — Tenho, naturalmente, de pensar nisso.

— Tem, naturalmente — concordou Jackson Lemon. Falarei amanhã com seu pai. Como poderá não me apreciar?

— perguntou o jovem, num tom que Lady Beauchemin, se o tivesse ouvido, teria sido forçada a atribuir à jocosidade que ele, geralmente, afetava demonstrar. O que a irmã de Lady Beauchemin julgou a respeito não foi registrado; há, entretanto, indicação de sua opinião na resposta que deu após um momento de silêncio: — Sabe? Você, na realidade, é estrangeiro.

Com isso, virou-lhe as costas, pois já se achavam junto à mãe. Jackson Lemon disse algumas palavras a Lady Canterville; foi mais um comentário a respeito do calor que fazia. Ela deu-lhe doce e vaga atenção, como se o jovem estivesse dizendo algo interessante e cujo sentido não havia percebido, mas o rapaz pôde ver que ela estava mais preocupada com as andanças da filha Agatha, cuja atitude em relação a um jovem presente evidenciava certa incompreensão das regras sociais.