Lady Canterville, evidentemente, não se mostrava preocupada com Lady Barbarina, em quem depositava mais confiança. Quanto a esta, não mais fitou os olhos de seu pretendente; passou a pousar os seus, um tanto ostensivamente, em outros objetos. Lady Canterville convidou-o a almoçar no dia seguinte, ao que ele respondeu que iria se ela lhe prometesse que veria seu esposo.

— Não poderei fazer-lhes outra visita enquanto não tiver conversado com ele — declarou Jackson.

— Não vejo razão para isso. Mas, se eu falar com ele, creio que ficará em casa — respondeu Lady Canterville.

— Valerá a pena ficar.

Jackson Lemon retirou-se, refletindo que, como antes nunca propusera casamento a uma moça, não seria de esperar que soubesse como as mulheres se comportam nessa conjuntura. Soubera, aliás, que Lady Barb recebera inúmeras propostas de casamento; embora julgasse provável que o número de propostas fosse exagerado, como sempre é, era de supor que aquela maneira que ela assumira, de parecer, subitamente, tê-lo posto de lado, fosse apenas sua conduta costumeira nessas ocasiões.

III

No dia seguinte, Lady Barbarina não estava presente para o almoço, e Lady Canterville informou-o (sem ser interrogada) de que a filha fora visitar uma velha tia-avó, que também era sua madrinha, e morava em Roehampton. Lorde Canterville também não estava em casa, mas o nosso jovem foi informado pela anfitrioa de que ele prometera voltar exatamente às três horas. Jackson Lemon almoçou em companhia de Lady Canterville e dos filhos que compareceram, meninos, meninas e dois adolescentes. Jackson, que gostava muito de crianças, e achava aquelas as mais bonitas do mundo magníficos espécimes de uma magnífica raça, tais como seria agradável, em dias futuros, ter ao redor de si —, sentiu que estava sendo tratado como membro da família; não se assustou pelo que esse privilégio poderia implicar. Lady Canterville não traiu qualquer conhecimento de haver ele abordado a questão de tornar-se seu genro, e ele acreditava que a filha mais velha não lhe falara sobre a conversa da véspera. Essa ideia deu-lhe certo prazer; gostou de pensar que Lady Barb o estava julgando, e ninguém mais. Podia muito bem ser que estivesse pedindo conselhos àquela velha, em Roehampton. Ele se considerava o tipo de pretendente que a madrinha aprovaria. Em seu espírito, as madrinhas achavam-se geralmente associadas a contos de fadas (ele próprio não tivera padrinho de batismo), e esse ponto de vista era favorável a um jovem possuidor de muito dinheiro e que, subitamente, tivesse chegado de um país estrangeiro — aparição muito agradável, sem dúvida. Achou que haveria de gostar de Lady Canterville como sogra; ela seria delicada demais para não intervir no caso. O marido chegou às três horas, assim que haviam deixado a mesa, e disse a Jackson Lemon que fora muito gentil de sua parte tê-lo esperado.

— Não o esperei; o senhor está sendo muito pontual — respondeu Jackson, com o relógio na mão.

Ignoro como Lorde Canterville julgou o jovem amigo; acontece, porém, que Jackson Lemon ouvira, mais de uma vez em sua vida, que o consideravam bom sujeito, embora um tanto exigente. Depois de acender um cigarro no gabinete particular do lorde, um grande apartamento sombrio no andar térreo, que servia ao mesmo tempo de escritório e quarto de depósito de coisas de montaria (e não podia, de forma alguma, ser chamado de biblioteca), foi direto ao assunto, nestes termos: — Bem, Lorde Canterville, creio dever informá-lo sem mais demora que amo Lady Barb, e que gostaria de casar-me com ela. — Assim falou, soltando uma baforada de fumaça e mantendo os olhos fixos nos do interlocutor.

Nenhum homem, como já dei a entender, suportava melhor um exame que essa nobre personagem; parecia florescer naquela contemplação dos homens, em que transparecia inveja e calor ao mesmo tempo, e nunca se mostrava tão impecável como quando ficava mais exposto.

— Meu caro amigo, meu caro amigo — murmurou, quase com menoscabo, cofiando carinhosamente a barba diante da lareira vazia. Alçou as sobrancelhas, mas parecia estar inteiramente de bom humor.

— Está surpreendido, senhor? — perguntou Jackson Lemon.

— Ora, suponho que qualquer pai fica surpreendido quando um homem quer uma de suas filhas. Como sabe, às vezes sente, muito, o peso da situação. Fica imaginando o que o outro quer delas. — E Lorde Canterville riu gostosamente por entre as barbas espessas.

— Quero apenas uma delas — disse Jackson Lemon, rindo também, mas de maneira mais leve.

— A poligamia, de certo modo, seria boa para os pais. Louisa, entretanto, contou-me uma noite desta supor que você demonstrava interesse pela pessoa à qual se refere.

— Sim, eu disse a Lady Beauchemin que amo Lady Barb, e pareceu-me que ela julgou isso natural.

— Por certo. Suponho que seja natural. Mas, meu caro amigo, não sei realmente o que dizer.

— O senhor terá, naturalmente, de pensar sobre isso. Ao proferir tais palavras, Jackson sentiu que estava fazendo a concessão mais liberal ao ponto de vista do interlocutor, apesar de saber que, em seu próprio país, não cabia muito aos pais pensar a respeito.

— Terei de conversar com minha mulher.

— Lady Canterville tem-se mostrado muito amável para comigo. Espero que continue assim.

— Meu caro, somos excelentes amigos. Ninguém podia apreciá-lo mais que Lady Canterville. Naturalmente, só poderemos considerar essa questão sob todos os pontos de vista. Não existe quem pretenda casar-se sem saber exatamente, digamos assim, o que está fazendo. De minha parte, como é natural e você não ignora, sou obrigado a fazer o melhor que posso em favor de minha filha.