— Para o Congresso. Sim, exatamente isso.
— Oh, não, não tão ruim assim! No comércio — respondeu Jackson Lemon, no tom sincero em que se expressava quando, por motivos íntimos, desejava ser americano da gema.
Lorde Canterville olhou-o surpreso, não ousando, mesmo por um momento, arriscar uma interpretação.

Antes que uma solução se tivesse apresentado, Lady Canterville entrou na sala.
— Querida, achei que seria preferível falarmos com você. Sabe que ele deseja se casar com nossa segunda filha? — Foi nesses termos simples que o marido a informou da questão.
Lady Canterville não manifestou surpresa ou júbilo. Simplesmente ficou de pé, com um sorriso, a cabeça um pouco inclinada para o lado, com toda a sua costumeira graciosidade. Seus olhos encantadores pousaram nos de Jackson Lemon, e, embora parecessem mostrar que precisava pensar um pouco sobre uma resposta tão séria quanto aquela, os dele não descobriram neles qualquer cálculo frio.
— Você está-se referindo a Barbarina? — perguntou, depois de um instante, como se seu pensamento houvesse estado muito distante.
Estavam, naturalmente, referindo-se a Barbarina, e Jackson Lemon repetiu-lhe o que dissera ao pai da jovem. Pensara em tudo e tomara uma decisão. Além disso, conversara com Lady Barb.
— Ela lhe falou sobre isso, querida? — indagou Lorde Canterville, ao mesmo tempo que acendia outro charuto.
Lady Canterville não deu atenção à pergunta, que fora vaga e acidental; disse apenas a Jackson Lemon que a questão era muito séria, e que seria preferível sentar-se um pouco. Após um instante, ele se achava ao seu lado no sofá em que ela se sentara, ainda sorridente e olhando para o marido com ar de completa meditação, em que transparecia doce compaixão por todas as pessoas interessadas.
— Barbarina não me disse nada — declarou após um momento.
— Isso prova que ela gosta de mim — exclamou Jackson Lemon com certa impaciência.
Lady Canterville dava a impressão de achar aquilo quase engenhoso, quase profissional. O marido, entretanto, acrescentou, alegre e jovialmente: — Muito bem. Se ela gosta de você, não faço objeção alguma.
Isso não deixava de ser ambíguo. Antes, porém, que Jackson Lemon tivesse tempo de analisar essa declaração, Lady Canterville perguntou delicadamente: — O senhor espera que ela vá residir nos Estados Unidos?
— Sem dúvida! A senhora sabe, é minha terra.
— Não passaria algumas temporadas na Inglaterra?
— Como não! Viríamos visitá-los. — O jovem estava apaixonado, queria casar-se, desejava ser cordial e causar boa impressão aos pais de Lady Barb; ao mesmo tempo, era de sua natureza não aceitar condições que, conforme diziam em Nova York, pudessem amarrá-lo inteiramente, salvo se lhe conviesse. Preferia, em qualquer transação, suas próprias condições às de outrem. No momento, por conseguinte, em que Lady Canterville deu sinais de desejar arrancar-lhe uma promessa, acautelou-se.
— Ela achará o país muito diferente. Talvez não venha a gostar — insinuou a aristocrática senhora.
— Se gostar de mim, gostará de minha terra — disse Jackson Lemon com firmeza.
— Ele me contou que tem uma placa na porta — observou humoristicamente Lorde Canterville.
— Precisamos conversar com ela, é claro. Temos de compreender como se sente — observou a esposa com expressão mais séria que a de antes.
— Por favor, não a desencoraje, Lady Canterville; e dê-me chance de conversar com ela um pouco mais — suplicou o jovem. — A senhora sabe que não me deu muitas oportunidades.
— Não oferecemos nossas filhas às pessoas, Sr. Lemon.
— Lady Canterville era sempre gentil; desta vez, no entanto, mostrou-se um pouco majestosa.
— Como sabe, ela não é como algumas moças de Londres — declarou o anfitrião de Jackson Lemon, que parecera lembrar-se de que, num debate daquela importância, devia de vez em quando contribuir com uma palavra sábia. E Jackson Lemon, certamente, caso lhe tivesse ocorrido a ideia, teria respondido: "Não, decididamente não, Lady Barbarina não fora lançada a ele".
— É claro que não — disse, em resposta à observação da mãe da jovem. — Mas, como a senhora sabe, não se deve recusar muito. Não se deve fazer uma pobre criatura esperar muito tempo. Admiro-a, amo-a, mais do que posso dizer. Dou-lhe, quanto a isso, minha palavra de honra.
— E parece pensar que isso resolve a questão — interveio Lorde Canterville, sorrindo muito indulgentemente, do seu lugar em frente à lareira fria, para o jovem americano.
— É isso, naturalmente, que desejamos, Philip — respondeu muito nobremente a esposa.
— Lady Barbarina acredita nisso, tenho certeza de que acredita! — exclamou Jackson Lemon. — Por que haveria eu de fingir que a amava se realmente não a amasse?
Lady Canterville acolheu essa pergunta em silêncio, e o marido, quase com o ar de quem reprimia a impaciência, começou a andar de um lado para outro na sala. Era homem de muitos compromissos, e ficara retido ali durante mais de quinze minutos com o jovem médico americano.
— O senhor crê que viria frequentemente à Inglaterra?perguntou Lady Canterville, com certa rudeza, voltando a tocar nesse ponto.
— Receio não poder dizê-lo. Naturalmente, faremos tudo o que for possível. — Estava disposto a supor que atravessariam o Atlântico todos os verões. Tal perspectiva não lhe era de forma alguma desagradável, mas não se sentia preparado para garantir isso a Lady Canterville, especialmente quando não acreditava fosse realmente necessário. Estava em sua mente, não como franca pretensão e sim como tácita implicação, tratar os pais de Barbarina na base da perfeita igualdade; e, fosse como fosse, não era justo começar a assumir compromissos que nada tinham a ver com a essência da questão. Eles tinham de dar a filha, e ele tinha de recebê-la.
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