Esse arranjo atenderia tanto a uma parte como à outra. Fora isso, nada tinha a pedir-lhes; nada desejava que prometessem, e suas próprias promessas, portanto, não teriam retribuição alguma. Sempre que a esposa desejasse, viria visitar a família. Seu lar seria em Nova York; mas estava tacitamente consciente de que seria muito liberal na questão das ausências. Havia, entretanto, na formação de seu caráter, algo que o proibia de comprometer-se, naquela ocasião, quanto ao número de vezes e às datas.
Lady Canterville olhou para o marido, mas este não estava prestando atenção; consultava o relógio. Após um momento, porém, lançou uma observação: disse que julgava importante os dois países tornarem-se mais unidos, e que nada havia melhor, para realizar isso, que o matrimônio entre pessoas de boa posição de ambos os lados. Os ingleses, na realidade, tinham-no começado; muitos rapazes haviam trazido para a Inglaterra moças bonitas, e era justo que os americanos levassem também, consigo, suas eleitas. Eram todos, afinal de contas, de uma só raça; por que não deveriam formar uma só sociedade, a melhor de ambos os lados, é claro? Jackson Lemon sorriu ao reconhecer, nisso, a filosofia de Lady Marmaduke, e ficou satisfeito ao pensar que Lady Beauchemin tinha certa influência junto ao pai, pois estava convicto de que o velho cavalheiro (como mentalmente designava o anfitrião) fora conquistado pelas ideias da filha, embora se expressasse com menor facilidade que a mais hábil delas.
Nosso herói não tinha objeção a fazer quanto a esse problema, especialmente se, nisso, houvesse qualquer coisa que ajudasse o seu caso. Mas não fora, absolutamente, baseado nesses elevados motivos que procurara a mão de Lady Barb. Não a desejava para que os povos dela e dele (o melhor de ambos os lados!) formassem uma só sociedade; desejava-a simplesmente porque a desejava. Lady Canterville sorriu. Mas parecia que tinha outras ideias.
— Aprecio bastante o que meu marido diz, mas não vejo razão para ser a pobre Barb a começar isso.
— Creio que ela gostaria de ser a primeira — declarou Lorde Canterville, como se estivesse tentando uma solução.
— Dizem que vocês estragam demais suas mulheres.
— Ela ainda não é uma das mulheres deles — observou a esposa, no mais doce tom de voz. E acrescentou, sem que Jackson Lemon soubesse exatamente o que pretendera dizer: — Isso parece tão estranho.
O jovem estava algo irritado, e talvez essas palavras simples houvessem contribuído para aumentar um pouco sua irritação. Não houvera oposição positiva à corte que fazia, e Lorde e Lady Canterville se haviam mostrado muito amáveis; mas achava que ambos hesitavam. Embora não esperasse pronta concordância, ficara um tanto desapontado, ferido em seu orgulho. Por que hesitavam? Considerava-se bom partido. Irritou-se um pouco, não tanto com o velho cavalheiro, mas com Lady Canterville. Quando o viu olhar abertamente para o relógio pela segunda vez, quase acreditou que o lorde se sentiria satisfeito solucionando imediatamente a questão. Lady Canterville parecia desejar que o pretendente à mão da filha se explicasse melhor e desse certas garantias. Ele se sentia disposto a dizer ou fazer qualquer coisa em caráter formal; não podia, no entanto, atinar com a necessidade de tentar comprar o consentimento da dama, uma vez que estava convencido de que se podia confiar em que trataria bem de sua mulher, melhor até (segundo os conhecimentos que adquirira sobre a sociedade inglesa) do que um par do reino empobrecido, e sua esposa, poderia cuidar da mais linda de suas filhas. Era um erro da parte de Lady Canterville não reconhecer isso. Abordou com humor esse erro ao dizer um tanto secamente: — Minha esposa terá, sem dúvida, tudo o que desejar.
— Ele me disse que é extremamente rico — acentuou Lorde Canterville, detendo-se diante de Lady Canterville com as mãos nos bolsos.
— Fico satisfeita em saber, mas não é bem isso. respondeu ela, inclinando-se um pouco para trás, no sofá. Se não era isso, não disse o que era, embora, por um momento, desse a impressão de que ia acrescentar alguma coisa. Apenas ergueu os olhos para o rosto do marido como pedindo uma inspiração. Não sei se a encontrou, mas passado um instante perguntou a Jackson Lemon, parecendo querer dizer que se tratava de um ponto completamente diferente: — Você pretende continuar em sua profissão?
Ele não tinha essa intenção, se isso significasse levantar-se às três horas da madrugada para suavizar os males da humanidade; mas ali, como antes, a questão, ao ser abordada, fê-lo enrijecer-se instantaneamente.
— Oh! Minha profissão! Sinto-me um pouco envergonhado a tal respeito. Tenho descurado tanto meu trabalho que não sei o que poderei fazer quando me instalar, realmente, em meu país.
Lady Canterville acolheu essas observações em silêncio, os olhos novamente fixos no rosto do marido. Este, no entanto, não a estava auxiliando muito; ainda com as mãos nos bolsos, exceto quando necessitava tirar o charuto da boca, foi dar uma olhada para fora, pela janela.
— Naturalmente, sabemos que o senhor não clinica; e, quando estiver casado, terá ainda menos tempo que agora. Mas eu gostaria realmente de saber se lá o chamam de doutor.
— Oh! Sim, geralmente! Nós gostamos de títulos quase tanto quanto os senhores.
— Eu não chamo isso de título!
— Admito que não seja tão bom quanto o de duque ou marquês, mas precisamos aceitar o que temos.
— Ora, afinal, que importância tem isso? — interveio Lorde Canterville, de seu lugar junto à janela. — Eu tinha um cavalo chamado Doutor, e por sinal era esplêndido.
— Poderá me chamar de bispo, se quiser — propôs Jackson Lemon, rindo.
Lady Canterville manteve a expressão grave, como se não lhe agradasse o gracejo.
— Não me importo com título algum — disse.
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