Eles as contemplavam, mas ninguém os olhava, embora todos, francamente, estivessem ali para ver o que se devia ver. Tudo era extraordinário e pitoresco, formando uma grande mistura. Aquela enorme área do parque, com sua superfície marrom-avermelhada e pontilhada de figuras a cavalo, estendia-se na distância e tornava-se confusa e enevoada, naquele ar brilhante e espesso. A vegetação bastante escura, que bordejava as avenidas, pairando também sobre elas, parecia abundante e antiga, revivida e revigorada pelo ar de junho. Grandes nuvens prateadas manchavam o céu, e a luz do sol filtrava-se em raios celestes sobre os espaços tranquilos do parque, que podiam ser vistos além dos caminhos de passeio. Tudo, porém, era apenas um pano de fundo, pois o cenário se apresentava pessoal diante do conjunto; tão magnífico era, e tão cheio de brilho, que os tons contrastavam entre si num sem número de superfícies polidas. Algumas coisas destacavam-se, dominavam: os flancos brilhantes dos cavalos perfeitos, o cintilar dos metais dos freios e das esporas, o acetinado da fazenda fina ajustada ao corpo, o brilho dos chapéus e das botas, o frescor da epiderme, a expressão dos sorrisos, os rostos expressivos, a cavalgada a passar em rápido galope. Rostos por toda a parte, e de grande efeito; acima de tudo, rostos de mulheres montadas em altos cavalos, um pouco coradas sob seus duros chapéus pretos, os corpos enrijecidos pelos vestidos muito justos, apesar das curvas bastante definidas. Os chapéus pequeninos, a cabecinha bem formada, o pescoço reto, a indumentária feita sob medida e o físico forte davam-lhes aparência de amazonas prestes a lançarem-se a um ataque. Os homens, os olhos fixos à frente, com chapéus de borda virada, de belos perfis, colarinho alto, flor na lapela, pernas e pés compridos, tinham o ar decorativo mais aprimorado, ao cavalgarem ao lado das damas, sempre fora do passo. Eram tipos jovens, mas não todos, pois havia muitos cavaleiros obesos, de rosto avermelhado, com suíças brancas e curtas, e senhoras já maduras, que olhavam com a superioridade de seu equilíbrio moral, social e físico. Os pedestres só se diferenciavam dos que cavalgavam por estarem a pé, e por contemplarem mais os cavaleiros do que estes a eles, pois teriam cavalgado tão bem quanto os outros se estivessem sobre aquelas selas. As mulheres usavam pequenas toucas apertadas e pequeninos coques mais apertados ainda; o queixo redondo ostentava uma faixa de rendas muito justa, ou, em alguns casos, correntes de prata e outros adornos. Tinham costas retas e cintura fina; andavam lentamente, os cotovelos afastados, carregando grandes guarda-sóis e virando muito pouco a cabeça para a direita ou para a esquerda. Eram amazonas sem cavalos, prestes a saltarem para as selas. Havia muita beleza e uma expressão geral de brilhante desenvolvimento, que emanavam de olhos claros e serenos, e de lábios bem delineados, nos quais as sílabas eram suaves e as frases breves. Alguns jovens e mulheres tinham corpos bem proporcionados e rostos ovais, nos quais as linhas e a cor eram puras, revelando todo o frescor. Naquele momento, porém, pairava um ar de despreocupação.
— É gente muito bonita; são os mais belos espécimes da raça branca — comentou o Sr. Freer, ao fim de dez minutos.
— Enquanto permanecem brancos, está muito bem; mas quando exageram nas cores — observou a esposa. Estava sentada ao nível das saias das damas que passavam diante dela, e acompanhava a marcha de uma jovem de vestido de veludo verde, enriquecido com ornamentos de aço, saia arrepanhada; aparentemente, ainda não completara vinte anos de idade; estava acompanhada de uma senhora moça, que trajava vestido simples, de cassa cor-de-rosa, esteticamente bordado de flores que imitavam as cores do arco-íris.
— Mesmo assim, entre a multidão, elas se apresentam muito bem — prosseguiu Dexter Freer. — Considere os homens, as mulheres e os cavalos juntos. Olhe aquele sujeito enorme, montado num cavalo castanho. Que poderia ser mais perfeito? A propósito, é Lorde Canterville — acrescentou, logo em seguida, como se o fato fosse importante.
A Sra. Freer reconheceu a importância a ponto de erguer o lorgnon para contemplar Lorde Canterville.
— Como sabe que é ele? — perguntou, com o lorgnon ainda assestado para o lorde.
— Ouvi-o falar na noite em que fui à Câmara dos Lordes. Fez um pequeno discurso, mas lembro-me dele. Um homem que estava a meu lado disse-me quem era.
— Não é tão bonito quanto você — disse a Sra. Freer, baixando o lorgnon.
— Ah, você é impossível! — murmurou o marido. — Que pena a moça não estar com ele. Talvez víssemos alguma coisa interessante — acrescentou.
Mas aconteceu que, pouco depois, a moça surgiu a seu lado. O nobre de que falavam avançara devagar, mas parou em frente de nossos amigos a fim de olhar para trás, como se estivesse esperando alguém.
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