Machado de Assis: Seus trinta melhores contos

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© 2009, Editora Nova Fronteira Participaçóes S.A.

 

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2ª edição

 

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Texto revisto pelo novo Acordo Ortográfico

 

 

 

 

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________

 

A866m    Assis, Machado de, 1839-1908

2.ed. Machado de Assis : seus trinta melhores contos / Machado de Assis. - [2.ed.]. - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2009.

 

ISBN 978-85-209-3919-2

 

1. Assis, Machado de, 1839-1908 - Crítica e interpretação. 2. Conto brasileiro. I. Título.

 

CDD: 869.93

CDU: 821.134.3(81)-3

 

 

 

Sumário

 

 

INTRODUÇÃO GERAL

Nota editorial

Esboço biográfico-crítico

Breve cronologia da vida e da obra de Machado de Assis

 

OS CONTOS

Três tesouros perdidos

 

De Papéis avulsos

A chinela turca

O alienista

Teoria do medalhão

D. Benedita

O empréstimo

O espelho

 

De Histórias sem data

A igreja do Diabo

Cantiga de esponsais

Singular ocorrência

Galeria póstuma

Anedota pecuniária

Uma senhora

Noite de almirante

Evolução

 

De Várias histórias

O enfermeiro

Conto de escola

D. Paula

A cartomante

Um apólogo

A causa secreta

Uns braços

Entre santos

Trio em lá menor

Viver!

A desejada das gentes

Um homem célebre

 

De Páginas recolhidas

O caso da vara

Missa do galo

Um erradio

 

De Relíquias de Casa Velha

Pai contra mãe

Suje-se gordo!

O escrivão Coimbra

 

Notas

Introdução geral

 

 

 

Nota editorial

 

O crescente — e justificado — interesse de todas as camadas leitoras pela obra de Machado posto de manifesto na acolhida que vêm dispensando, não só à tradicional edição de Jackson, mas igualmente às publicadas por diversas editoras — inclusive a deste livro —, a partir da liberação dos direitos autorais, e em toda sorte de formatos e apresentações, sugeriu a esta editora a conveniência de trazer mais uma contribuição, embora numa forma e com uma finalidade diferentes, à difusão da obra do maior vulto das letras brasileiras, juntando num pequeno, manuseável e atrativo volume uma seleta coletânea, justamente daquele gênero em que mais brilhou a mestria do mestre: o conto.

A editora, porém, não quis arcar com a responsabilidade da escolha, e, mesmo sendo questão fartamente provada que jamais antologia alguma conseguiu — em qualquer parte do mundo — satisfazer a todos os leitores, procurou aproximar-se da maior objetividade possível, reunindo, num conclave imaginário, algumas das autoridades mais versadas e competentes na matéria. Segue a esta nota editorial uma relação dos contos incluídos no volume, com a marcação dos pronunciamentos dos escritores consultados, uns através de seus escritos, outros em inquérito especial para esta seleção.

O resultado é o que aí está: uma amostra, quase perfeita e praticamente completa, de toda a variada gama do conto machadiano: quanto a temas, quanto a cenários, quanto a extensão — desde “O alienista”, praticamente uma novela, até “Um apólogo”, apenas uma anedota —, quanto ao próprio processo de elaboração literária e estilística, e inclusive quanto a méritos, pois tendo alguns dos contos escolhidos conquistado sete e até dez dos votos dos escritores cujo parecer foi levado em conta, muitos outros só conseguiram três e até dous votos. Dos restantes contos, com um só voto — não publicados neste volume —, damos uma relação à parte. Esclarecemos, entretanto, que sendo trinta os contos escolhidos, e quatorze os que obtiveram apenas um voto, restam ainda mais de cento e trinta que não receberam nenhum, o que revela uma rara e significativa unanimidade nas opiniões do júri, e marca com o signo da maior autoridade e autenticidade a escolha aqui apresentada. Só se manifestou uma discrepância flagrante: a de “O caso da vara”, que, sendo um dos contos mais frequentemente reproduzidos, não mereceu o sufrágio de um só dos jurados.

Os contos vão ordenados cronologicamente para que o leitor possa acompanhar a evolução do autor, havendo a editora tomado a liberdade, para completar este roteiro, de incluir o primeiro conto escrito por Machado de Assis, em 1858, apenas com dezenove anos de idade e muito antes do seu livro de estreia, Crisálidas — por sinal, poesia —, mas em que já apontam as qualidades que o converteriam no mestre dos mestres, e o último, publicado em 1907 — um ano antes da sua morte — e no qual ainda se percebe o estilo vigoroso do grande escritor que sempre foi, embora também a reiteração própria do ancião que, naquela altura, ele já era. São assim, três contos mais — incluindo “O caso da vara” — além dos trinta objetivamente selecionados no inquérito, o primeiro e o último pouco conhecidos e também pouco apreciados pelo autor, que não os inclui em nenhum dos livros de contos por ele organizados.

É interessante salientar, a este respeito, que absolutamente todos os contos selecionados pelo apurado critério dos escritores e críticos consultados foram também, escolhidos pelo autor, junto com outros, e incluídos nos diversos livros de contos publicados em vida dele; e, também que esses nossos colaboradores, na seleção, não escolheram um conto sequer dos incluídos pelo autor em Contos fluminenses e em Histórias da meia-noite.

A cronologia desta seleção revela, outrossim, que dos trinta contos selecionados, nada menos de seis foram publicados pela primeira vez em 1883, e outros tantos em 1884; quatro em 1886 e três em cada um dos anos de 1882 e 1885, o que situa no quinquênio de 1882-86 — com a idade de 43-47 — o período não só de maior fecundidade do autor, estimulada talvez pelo compromisso da colaboração jornalística fixa e regular, mas também de maior perfeição literária e requinte artístico.

Com este pequeno livro poderá o leitor, a qualquer hora e em qualquer lugar, gozar do sempre novo prazer da releitura destas histórias, e beber, nas fontes inigualáveis da melhor prosa machadiana, aqueles primores do estilo, da concisão, da linguagem, e do próprio enredo, que as elevaram à indiscutível categoria de peças mestras da literatura brasileira. Tal como alguns outros poucos livros excepcionais, o leitor pode, em qualquer oportunidade, abrir este volume numa página qualquer, certo de encontrar de imediato um sedativo para sua mente ou um útil e grato expediente para seu lazer.

Conto

1ª publicação

Publicação

em livro

A chinela turca

AE

1875

PA

1882

O alienista

ES

1881

PA

1882

Teoria do medalhão

GN

1881

PA

1882

D. Benedita

ES

1882

PA

1882

O empréstimo

GN

1882

PA

1882

O espelho

GN

1882

PA

1882

A igreja do Diabo

GN

1883

SD

1884

Cantiga de esponsais

ES

1883

SD

1884

Singular ocorrência

GN

1883

SD

1884

Galeria póstuma

GN

1883

SD

1884

Anedota pecuniária

GN

1883

SD

1884

Uma senhora

GN

1883

SD

1884

Noite de almirante

GN

1884

SD

1884

Evolução

GN

1884

CV

1906

O enfermeiro

GN1

1884

VH

1896

Conto de escola

GN

1884

VH

1896

D. Paula

GN

1884

VH

1896

A cartomante

GN

1884

VH

1896

Um apólogo

GN2

1885

VH

1896

A causa secreta

GN

1885

VH

1896

Uns braços

GN

1885

VH

1896

Entre santos

GN

1886

VH

1896

Trio em lá menor

GN

1886

VH

1896

Viver!

GN

1886

VH

1896

Desejada das gentes

GN

1886

VH

1896

Um homem célebre

GN

1888

VH

1896

Missa do galo

AS

1894

PR

1899

Um erradio

ES

1894

PR

1899

Pai contra mãe

CV

1906

Suje-se gordo!

CV

1906

 

Dos pareceres

Total

a

b

c

d

e

f

g

h

i

j

l

m

n

o

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4

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6

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6

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3

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2

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5

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5

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6

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2

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2

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2

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3

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7

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2

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4

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4

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3

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4

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3

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2

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7

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4

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4

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2

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2

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6

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10

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3

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2

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*

2

CONTOS QUE SÓ OBTIVERAM UM VOTO

Conto

1ª publicação

Publicação

em livro

O relógio de ouro

JF

1873

MN

1873

Verba testamentária

GN

1882

PA

1882

O lapso

GN

1883

SD

1884

Último capítulo

GN

1883

SD

1884

Capítulo dos chapéus

ES

1883

SD

1884

Fulano

GN

1884

SD

1884

A segunda vida

GL

1884

SD

1884

As academias de Sião

GN

1884

SD

1884

O cônego

GN

1885

VH

1896

O caso da vara

GN

1891

PR

1899

Ideias de canário

GN3

1895

PR

1899

Anedota do cabriolet

AB

1905

CV

1906

Umas férias

CV

1906

Capitão Voluntários

CV

1906

 

SIGLAS

Publicações

Autores

AB – Almanaque Brasileiro Garnier

a) Barreto Filho

AE – A Época

b) Coutinho, Afrânio

AS – A Semana

c) Goes, Fernando

CV – Relíquias de Casa Velha

d) Gomes, Eugênio

ES – A Estação

e) Magalhães Jr., R.

GL – Gazeta Literária

g) Meyer, Augusto

GN – Gazeta de Notícias

f) Matos, Mário

JF – Jornal das Famílias

h) Peregrino Júnior

MN – Histórias da meia-noite

i) Pereira, Lúcia M.

PA – Papéis avulsos

j) Pujol, Alfredo

PR – Páginas recolhidas

l) Romero, Sílvio

SD – Histórias sem data

m) Teixeira Soares

VH – Velhas histórias

n) Viana Moog

o) Contos mais divulgados

 

 

 

Esboço biográfico-crítico4

 

Mestiço de origem humilde — filho dum mulato carioca, pintor de paredes, e duma imigrante açoriana —, tendo frequentado apenas a escola primária, obrigado a trabalhar desde a infância, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) alcançou alta posição na burocracia e obteve a consideração social numa época em que o Brasil era ainda uma monarquia escravocrata, de tal maneira, graças às tendências literárias de d. Pedro II, o valor intelectual era acatado, de preferência aos econômicos e tanto, talvez, como os valores hereditários. Autodidata que se formou na biblioteca do Gabinete Português de Leitura, sendo aprendiz de tipógrafo e, depois, revisor, tudo esse homem aprendeu por si. E pelo esforço próprio foi erguendo o espírito e depurando o gosto de tal forma que aos 42 anos, ao publicar as Memórias póstumas de Brás Cubas, se apresentou perfeito no estilo, sem vestígios da menor escória do autodidatismo e da falta de ambiente familiar socialmente elevado. Foi precoce — a sua primeira poesia data dos 16 anos —, triunfou cedo, viu-se consagrado, como poeta, aos 25 anos, com o livro Crisálidas, fez a sua evolução dentro duma época literariamente convencional, viveu sempre no Brasil, longe dos grandes centros da civilização literária, prodigalizou-se em colaborações jornalísticas, obteve um êxito prematuro com contos ainda balbuciantes e romances sem originalidade, julgou-se, talvez, principalmente poeta — e nenhum desses fatores negativos o prejudicou e nada impediu a eclosão, quase súbita, da obra novelesca de língua portuguesa mais reveladora de genial poder de análise psicológica. O poeta parnasiano das Ocidentais não é, sem dúvida, desvalioso, e quem escreve o soneto “A Carolina” — sua mulher, a portuguesa Carolina Augusta de Novais, que tão beneficamente influiu na sua vida — merece figurar em qualquer antologia da lírica de língua portuguesa. Mas é tão excepcional o valor do contista e do romancista que o brilho da sua estrela poética nos parece pálido. Também o seu teatro ficou na sombra. Nunca se deu, aliás, na literatura brasileira, e muito raramente em qualquer literatura, um fenômeno como esse de Machado de Assis, que, quase de repente, já na maturidade, se pôs a fulgurar com brilho próprio e tão intenso que passou a ser, e ainda hoje o é, o mais original escritor do seu país. Antes dos cinquenta anos, pôde ser celebrado pelos contemporâneos como “o primeiro de todos”, “o único” — e, se não é o único, numa literatura que conta alguns valores absolutos, é, pelo menos, o maior escritor brasileiro de todos os tempos, o mais extraordinário contista do idioma e um dos raros romancistas de interesse universal, como o atestam as traduções das suas obras mais representativas para os principais idiomas cultos, sem que haja influído nessa preferência a atualidade dos seus livros, mas, sim, a perenidade da sua quase ferina análise da alma humana.