''No Caminho de Swann'' foi publicado em 1913, após ter sido recusado por quatro editoras. O êxito intelectual foi grande. Porém, a irrupção da Primeira Guerra Mundial, em 1914, interrompeu a possibilidade de novas edições. Durante a guerra, Proust remanejou a obra e lhe fez acréscimos consideráveis. Nesse ano de 1914, morre seu secretário Alfred Agostinelli, por quem Proust nutria uma paixão homossexual. A morte de Agostinelli lhe serviu de modelo para a morte da personagem Albertine em ''A Fugitiva''.
Finda a guerra, publica-se ' À Sombra das Moças em Flor' (1918). O romance obteve o Prêmio Goncourt de 1919, única áurea conseguida pelo romancista em vida. Em 1920, é publicado ''No Caminho de Guermantes-l'' e, no ano seguinte, sai ''No Caminho de Guermantes-lI''
e ''Sodoma e Gomorra-l'', em um volume. Recluso em casa, quase não deixando seu quarto forrado de cortiça para abafar os ruídos da rua, Proust enfraquece e adoece, mal tendo forças, no último ano de sua vida, para continuar a escrever e corrigir as provas de seus livros. Em abril de 1922, publica-se ''Sodoma e Gomorra-lI'', em três volumes. Proust está revendo as provas de ''A Prisioneira'' e sua saúde se complica com uma bronquite seguida de pneumonia. Marcel Proust morre às quatro e meia da manhã de 17 de novembro de 1922. Poucos dias antes, 14 de novembro, terminara-se a impressão de ''Sodoma e Gomorra-lII'' -''A Prisioneira''- ''A Fugitiva'', com o título de ''Albertina Desaparecida'', publicou-se em 1925, e ''O Tempo Recuperado'' foi dado ao público em 1927.
Fernando Py
Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas, com a intenção de dar aos deficientes visuais a oportunidade de apreciarem mais uma manifestação do pensamento humano...
O extraordinário ciclo ficcional de Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, abre com o romance No Caminho de Swann. Sendo o primeiro da série, apresenta desde o início, em suas três partes, os principais temas de todo o conjunto: a descoberta da "memória involuntária", as relações conflituosas entre os apaixonados, e principalmente a noção da passagem do Tempo que avilta e destrói todos os sentimentos, inclusive o amor. Na primeira parte, "Combray", temos a infância do Narrador, suas recordações da cidade de Combray, despertadas pelo sabor de um biscoito, a " madeleine", sua aflição noturna à espera do beijo de despedida da mãe, a descoberta dos dois lados (ou "caminhos") da cidade, lados que, para ele, além de opostos são irreconciliáveis: o caminho de Swann e o caminho de Guermantes. Na segunda parte, " Um amor de Swann", Proust analisa um amor, ou melhor, o ciúme masculino, através da história da ligação entre Charles Swann e Odette de Crécy. Na terceira parte, " Nomes de lugares: o nome" , o Narrador começa a descobrir a magia que se oculta para trás dos nomes de pessoas e de cidades. Vemos os brinquedos do Narrador com Gilberte, filha de Swann e Odette, e, depois, a sua admiração pelos pais dela, sobretudo a Sra. Swann.
Em À sombra das moças em flor, o lirismo é a tônica. O Narrador, já adolescente, conhece as moças do “pequeno grupo", na estância balneária Balbec, onde passa as férias. E, apaixonado por uma delas, Albertine, integra-se ao grupo. Aqui, Proust esboça os temas subseqüentes de sua rua, casa, aromas que aparecerão nos futuros livros do ciclo.
FERNANDO PY
MARCEL PROUST
EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO VOLUME 1
Primeira Parte: Combray
Segunda Parte: Um Amor de Swann
Terceira Parte: Nomes de Lugares: o Nome
PREFÁCIO
por Fernando Py
Introdução
O longo romance de Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, representa na verdade a sua obra única. Tanto nos contos do livro de estréia, Os Prazeres e os Dias (1896), como na narrativa fragmentária de Contra Sainte-Beuve ou no romance Jean Santeud, estes últimos deixados incompletos e publicados muitos anos após a morte do escritor, ocorre a abordagem de alguns temas fundamentais de sua obra máxima, de tal modo que são, em certa medida, simples esboços do que viria a ser Em Busca do Tempo Perdido; neles, já estão presentes, por exemplo, a análise do ciúme masculino e das perversões sexuais, assuntos que ganharão enorme relevo e aprofundamento mais tarde. Sua obra equivale não apenas à suma de um escritor inteiramente dedicado à literatura e à escrita em toda a sua vida - a tal ponto que dele se poderia dizer que foi se deixando morrer aos poucos, à medida que passava para o papel toda a sua experiência vital-, mas igualmente a uma visão de conjunto da sociedade francesa do fim do século XIX.
Nos sete romances que compõem este monumento literário (conforme os títulos desta edição: 1- No Caminho de Swann, 2-À Sombra das Moças em Flor, 3-O Caminho de Guermantes, 4-Sodoma e Gomorra, 5-A Prisioneira, 6-A Fugitiva e 7-O Tempo Recuperado), perpassa não somente a vida exterior, episódica e histórica de personagens e da própria França, com alguns ecos de fatos ocorridos na Europa e no resto do mundo, como, principalmente, a vida interior, as sensações, as paixões, sentimentos e emoções do Narrador e demais personagens, todos envoltos numa atmosfera de análises psicológicas, minuciosas e implacáveis.
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