Em ''O Caminho de Guermantes'', o Narrador começa a freqüentar salões aristocráticos e da alta burguesia. Ama a duquesa de Germantes mas não é correspondido. Sofre a mágoa enorme de perder sua avó materna, mas com o tempo vai se esquecendo dela devido ao fenômeno que denomina "intermitências do coração", ou seja, os períodos cada vez mais longos de esquecimento que atravessa, preocupado com desfrutar apenas o momento presente. Percebe todavia que o mundo da alta-roda é vaidoso, cruel e egoísta, e sente-se decepcionado.

Tudo aquilo em que havia acreditado e que amara se desfaz e se degrada. Em ''Sodoma e Gomorra'', o Narrador penetra no universo infernal da inversão sexual, tanto masculina (Sodoma) quanto feminina (Gomorra). Embora haja pensado em livrar-se de Albertine, passa a amar a moça e decide impedir que seja contagiada por esse mundo de depravações, mantendo-a seqüestrada em sua companhia. Em ''A Prisioneira'', vemos o amor exclusivista e egocêntrico do Narrador, que é, acima de tudo, pura morbidez. Cada vez mais ele se convence de que o amor, como qualquer sentimento, se degrada e destrói com o passar do tempo. E para tentar interromper esse fluxo corrosivo, acaba chegando à conclusão de que é absolutamente necessário abandonar Albertine justo no momento em que é avisado que a moça acabara de fugir de sua casa.

''A Fugitiva'' (título simétrico de 'A Prisioneira') narra não propriamente a fuga de Albertine e sim, primeiro, a mágoa do Narrador pelo abandono, mágoa que se transforma em luto e pesar quando sabe da morte dela pouco depois. Mas sobrevém o esquecimento progressivo e Albertine acaba sendo lembrança apenas, como a avó do Narrador.

O livro se encerra com um novo encontro do Narrador com Gilberte, já então casada com Robert de Saint-Loup, grande amigo dele.

Em ' O Tempo Recuperado'', temos um retrato da corrupção trágica de todas as coisas. As pessoas que o Narrador julgara amar voltaram a ser simplesmente nomes, como outrora; os objetivos que buscara tinham-se desfeito; a vida não passa de tempo já desaparecido. Numa recepção matinal em casa da Princesa de Guermantes, ele encontra, envelhecidas, pessoas que admirara na juventude, e ele próprio já é um senhor de meia-idade. Mediante uma série de ocorrências do duplo sensação/lembrança, somos transportados ao começo do ciclo. Por fim, o Narrador conhece a Srta. de Saint-Loup, filha de Gilberte e Robert. Nela, reúnem-se os dois caminhos (o de Swann, dos ricos burgueses) e o de Guermantes (dos aristocratas), pois Saint-Loup descende dos Guermantes. Está completa a catedral gótica de Proust. Então o Narrador percebe o que significava o apelo dos vários duplos sensação/lembrança que tivera em toda a vida. Seu papel de artista, portanto, será o de estancar o fluxo do Tempo, fixando aqueles momentos e tudo aquilo que eles contêm. A vida vivida não passa de Tempo Perdido, mas tudo se pode recuperar, transfigurar e apresentar "sob o aspecto de eternidade, que é também o da arte".

''O Tempo Recuperado'', pois de modo algum se trata de uma redescoberta. De outra parte, Du côté de chez Swann, se traduzido literalmente, daria “A respeito do lado da casa de Swann”, ou, se forçarmos um pouco, “Para os lados da casa de Swann”. Preferimos adotar o título já consagrado no Brasil, pois o termo "caminho" indica melhor em português a situação do côté francês: o que, para Proust, era um "lado" irreconciliável com outro, fica melhor como "caminho", pois indica todo um trajeto a percorrer, uma distância a vencer, uma tarefa a cumprir. O mesmo, portanto, para Le Côté de Guermantes -''O Caminho de Guermantes'' é toda a trajetória do Narrador nos salões da alta-roda.

Resta o caso de ''A Fugitiva''. Fiel à construção simétrica de sua obra, Proust batizou os dois romances seguintes a ''Sodoma e Gomorra'' de ''A Prisioneira'' e ''A Fugitiva''.