Um esforço intenso lhe exigiram, no seio da Associação, as divergências com os partidários de Proudhon e de Bakunin. Em 1871, chefiou a solidariedade internacional à Comuna de Paris e, acerca de sua experiência política, escreveu A Guerra Civil na França. Ocuparam-no, em seguida, os problemas da social-democracia alemã, liderada, in loco, por Bebel e Liebknecht. A fusão dos adeptos da social-democracia de orientação marxista com os seguidores de Lassalle num partido operário único ensejou a Marx, em 1875, a redação de notas, de fundamental significação para a teoria do comunismo, reunidas no pequeno volume intitulado Crítica do Programa de Gotha. Em 1881-1882, após as escassas páginas em que foram escritas as Glosas Marginais ao Tratado de Economia Política de Adolph Wagner, a pena de Marx, que deslizara através de assombrosa quantidade de folhas de papel, colocava o definitivo ponto final. Esgotado e abatido pela morte da 19

OS ECONOMISTAS

esposa e de uma das filhas, apagou-se, em 1883, o cérebro daquele que Engels, na oração fúnebre, disse ter sido o maior pensador do seu tempo.

Nos doze anos em que sobreviveu ao amigo, Engels continuou criativo até os últimos dias, produzindo obras da altura de Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã. Sobre os seus ombros pesava a responsabilidade de coordenação do movimento socialista internacional, o que lhe impunha crescente carga de trabalho. No meio de toda essa atividade, nunca deixou de ter por tarefa primordial a de trazer a público os dois Livros de O Capital ainda inéditos. E cumpriu a tarefa com exemplar competência e probidade.

Os manuscritos de Marx encontravam-se em diversos graus de preparação. Só a menor parte ganhara redação definitiva. Havia, porém, longas exposições com lacunas e desprovidas de vínculos mediadores.

Vários assuntos tinham sido abordados tão-somente em notas soltas.

Por fim, um capítulo imprescindível apenas contava com o título. Tudo isso, sem falar na péssima caligrafia dos manuscritos, às vezes incompreensível até para o autor. A tarefa, por conseguinte, ia muito além do que, em regra, se atribui a um editor. Seria preciso que Engels assumisse certo grau de co-autoria, o que fez, não obstante, com o máximo escrúpulo. Conforme explicou minuciosamente nos Prefácios, evitou substituir a redação de Marx pela sua própria em qualquer parte. Não queria que sua redação, superposta aos manuscritos originais, suscitasse discussões acerca da autenticidade do pensamento marxiano. Limitou-se a ordenar os manuscritos de acordo com as indicações do plano do autor, preenchendo as óbvias lacunas e introduzindo trechos de ligação ou de atualização, sempre entre colchetes e identificados pelas iniciais F. E., também presentes nas notas de rodapé destinadas a informações adicionais ou mesmo a desenvolvimentos teóricos. Igualmente assinado com as iniciais F. E., escreveu por inteiro o Capítulo IV do Livro Terceiro, sobre a rotação do capital e respectiva influência na taxa de lucro. Escreveu ainda vários Prefácios, admiráveis pelo tratamento de problemas básicos e pela força polêmica, bem como dois suplementos ao Livro Terceiro: sobre a lei do valor e formação da taxa média de lucro e sobre a Bolsa.

Se, dessa maneira, foi possível salvar o legado de Marx e editar o Livro Segundo, em 1885, e o Livro Terceiro, em 1894, é evidente que estes não poderiam apresentar a exposição acabada e brilhante do Livro Primeiro. Mas Engels, ao morrer pouco depois de publicado o último Livro, havia cumprido a tarefa. Restavam os manuscritos sobre a história das doutrinas econômicas, que deveriam constituir o Livro Quarto. Ordenou-os e editou-os Kautsky, sob o título de Teorias da Mais-Valia, entre 1905 e 1910. O Instituto de Marxismo-Leninismo (originalmente Instituto Marx-Engels, fundado por D.