Se você conseguir fazer tudo isso sem que se escute o ruído de nenhuma sineta, tudo bem, será um dos nossos. Teremos apenas que cobri-lo de pancadas durante oito dias.
— Vou tomar cuidado — disse Gringoire. — E se faço soar as sinetas?
— Então, será enforcado. Compreende?
— Não compreendo de forma alguma – respondeu Gringoire. — Qual é a vantagem?
Enforcado, num caso; coberto de pancadas, no outro.
— Vamos, apresse-se! — disse o rei, batendo o pé sobre o tonei, que ressoou como um grande tambor. — Roube o dinheiro do manequim e isso acaba logo. Aviso uma última vez: se eu ouvir o som de uma sineta sequer, a corda sai do pescoço do espantalho diretamente para o seu!
Gringoire tentou ainda ponderar:
— E se soprar um golpe do vento?
— Você será enforcado — foi a resposta.
Vendo que não havia subterfúgio possível, Gringoire ajeitou-se na ponta dos pés e estendeu o braço. No momento em que tocava o manequim, a escada, com o peso de seu corpo, se moveu. O poeta tentou, involuntariamente, apoiar-se sobre o boneco, mas perdeu o equilíbrio e caiu pesadamente sobre a terra, no meio do barulho de mil sinos.
— Maldição! — gritou, enquanto caía.
Por alguns instantes, ele permaneceu no chão como morto, com o rosto virado para a terra. Quando se levantou, o espantalho já havia sido retirado da corda para que ele pudesse tomar seu lugar. Forçaram-no, então, a subir a escada. Clopin se aproximou dele, passou a corda em volta de seu pescoço e disse, batendo-lhe no ombro:
— Adeus, amigo! Você não pode mais escapar agora...
No entanto, o rei dos mendigos parou, como se tivesse uma idéia súbita.
— Um momento! — disse. — Ia me esquecendo. Normalmente não enforcamos um homem antes de perguntar se uma mulher o aceita como marido. É uma lei cigana, que devemos respeitar.
Ninguém se apresentou e Clopin ia dar a ordem final para enforcar o poeta, quando gritos foram ouvidos:
— Esmeralda! Esmeralda!
Gringoire ficou arrepiado e virou na direção de onde vinha o clamor, enquanto a multidão dava passagem a uma figura deslumbrante. Era a cigana.
— Esmeralda! — disse Gringoire, estupefato pela maneira brusca com que esta palavra mágica reunia todas as lembranças do dia.
Ela aproximou-se com seu passo rápido. Djali a seguia. Gringoire, mais morto do que vivo, foi observado pela cigana em silêncio.
— Vai enforcar este homem? — disse a moça, seriamente.
— Sim, irmã — respondeu o rei —, a menos que você o aceite como marido.
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