É muito divertido. Os senhores desejam que nós façamos a eleição de seu papa da mesma forma que em meu país?
Gringoire quis protestar, mas a indignação e a ira lhe tiraram a voz. Aliás, a proposta do fabricante de meias foi acolhida com tal entusiasmo pelos burgueses, lisonjeados por terem sido tratados como fidalgos que qualquer resistência seria inútil.
Num piscar de olhos, estava tudo pronto para a execução da idéia de Coppenole. Burgueses e estudantes colocaram mãos à obra: a pequena capela situada diante da mesa de mármore foi escolhida para ser o teatro de caretas e uma vidraça quebrada do vitral sobre a porta deixou livre um círculo de pedra através do qual se decidiu que os participantes enfiariam a cabeça. Para isso, era necessário apenas subir em dois tonéis, empoleirados um sobre o outro, que haviam sido trazidos não se sabe de onde.
Combinou-se que cada candidato, homem ou mulher (porque poderíamos ter uma papisa), deveria cobrir o rosto, permanecendo escondido dentro da capela até o momento de fazer sua aparição. Em menos de um instante, o lugar estava cheio de competidores, atrás dos quais a porta foi fechada.
As caretas começaram. A primeira figura que surgiu na janela, com os olhos revirados, a boca escancarada e a testa enrugada fez com que explodisse uma gargalhada interminável. Uma segunda e uma terceira careta se sucederam, depois outra e mais outra e sempre os risos e as alegres batidas de pés no chão aumentavam.
De repente, uma tempestade de aplausos, misturada a uma aclamação prodigiosa, aconteceu. O Papa dos Loucos havia sido eleito.
— Viva! Viva! — gritaram as pessoas por toda parte.
Era uma careta maravilhosa que irradiava no buraco do vitral. Após todas as figuras extravagantes que se sucederam na janela, nenhuma outra poderia conseguir os votos além da careta sublime que acabara de deslumbrar o público. O próprio Coppenole aplaudiu. A aclamação foi unânime. Uma multidão entrou na capela e fez com que saísse em triunfo o afortunado Papa dos Loucos, mas foi neste momento que a surpresa e a admiração atingiram o ápice. A careta era o próprio rosto, ou melhor, a pessoa toda era uma horrível careta: uma cabeça grande ouriçada de cabelos ruivos; entre os dois ombros, uma Corcunda enorme da qual o contragolpe se fazia sentir na parte frontal de seu corpo; um sistema de coxas e de pernas tão estranhamente tortas que se tocavam apenas por meio dos joelhos; pés grandes, mãos monstruosas e, apesar da deformidade, uma aparência formidável de vigor, agilidade e coragem. Poderíamos dizer que se tratava de um gigante que se partira, tendo sido mal colado. Assim era o Papa que os Loucos acabavam de escolher.
— É Quasímodo, o sineiro! — gritaram. — É Quasímodo, o Corcunda de Notre-Dame!
Quasímodo, o caolho! Quasímodo, o aleijado! Viva!
Estamos vendo que o infeliz tinha sobrenomes de sobra para escolher. Quasímodo, objeto do tumulto, mantinha-se na porta da capela, de pé, triste e sério, e se deixava admirar. Um estudante, Robin Poussepain, veio rir diante de seu nariz, e muito perto. O
Corcunda limitou-se a levantá-lo pela cintura e a atirá-lo a dez passos de distância através da multidão, sem dizer uma só palavra.
Todos os mendigos e ladrões aos quais se juntaram os estudantes foram em procissão buscar no armário do tribunal a tiara de papel e a patética e grosseira veste de pele de ovelha do Papa dos Loucos. Quasímodo se deixou vestir sem pestanejar, com uma certa docilidade orgulhosa. Em seguida, colocaram-no sentado numa cadeira colorida que doze oficiais da Confraria dos Loucos levantaram em seus ombros.
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