— Djali — continuou a cigana, sempre com um novo truque ao bater o tambor —, que horas são?

A cabra bateu sete vezes. No mesmo momento, o relógio da Casa dos Pilares soou sete horas e a multidão maravilhou-se.

— Isto é bruxaria — disse a voz sinistra do homem careca que não tirava os olhos da cigana, no meio da multidão.

A moça recuou e se virou.

— Sacrilégio! Profanação! — recomeçou a voz. A cigana se virou mais uma vez.

— Ah, só podia ser este homem repulsivo!

Em seguida, esticando o lábio inferior para além do lábio superior, ela fez um pequeno beiço com o qual parecia estar familiarizada, deu uma pirueta sobre o calcanhar e se pôs a recolher em seu tambor as doações da multidão.

De repente, passou diante de Gringoire. Este colocou a mão tão irrefletidamente no bolso que ela parou.

— Droga! — disse o poeta, encontrando no fundo do bolso a realidade, ou seja, o vazio. No entanto, a moça permaneceu ali, estendendo-lhe o tambor e esperando. Gringoire suava, e, felizmente, um acontecimento inesperado veio em seu socorro.

— Vá embora, gafanhoto do Egito! — disse uma voz ácida que partiu do canto mais escuro da praça.

A moça virou-se, amedrontada. Não era mais a voz do homem e, sim, uma voz feminina, que repetiu:

— Suma daqui, gafanhoto do Egito!

— É a enclausurada da Tour-Roland! — gritaram algumas crianças, em tom de gozação.

— Por que será que ela está nervosa? Será que ainda não jantou?

Gringoire aproveitou-se do problema da dançarina para desaparecer. O clamor das crianças lembrou-o de que ele também não havia jantado. Coisa inoportuna é dormir sem comer. Menos agradável ainda é não jantar e não saber onde dormir. O poeta estava nesta situação: sem dinheiro, sem pão, sem lar.

Pensava ele sobre esta triste condição, quando um canto cheio de doçura, arrancou-o de sua melancolia: era a jovem egípcia novamente, que desta vez cantava. A voz era como sua beleza: fascinante, pura, etérea.

As palavras que ela cantava eram de uma língua desconhecida por Gringoire e ele as escutava encantado. Depois de várias horas, este era o primeiro momento em que ele não sofria, pena que tenha durado tão pouco! A mesma voz de mulher que havia interrompido a dança da cigana também veio interromper-lhe o canto.

— Quer se calar, cigarra do mal! — ela gritou novamente do canto escuro da praça. A pobre "cigarra" parou de súbito e Gringoire tapou os ouvidos.

— Ah! — disse ele. — Maldita serra sem corte que interrompe este canto doce. Os outros espectadores murmuraram:

— Cale-se, velha estúpida!

E ela poderia ter se arrependido das agressões contra a cigana, se eles não se distraíssem nesse exato momento pela passagem do Papa dos Loucos, que, após ter percorrido muitas ruas e cruzamentos, desembocava na Praça da Greve com todas as suas tochas. A procissão que partiu do Palácio organizou-se ao longo do caminho, recrutando todos os ladrões, vadios e mendigos disponíveis de Paris — o que lhe dava um aspecto bizarro.