O toque de recolher soara há muito tempo e apenas alguns raros indivíduos restavam. Gringoire entrou, seguindo a cigana, no labirinto de ruelas, cruzamentos e becos sem saída que cercam o antigo Cemitério dos Santos Inocentes. Após alguns instantes, ela percebeu que estava sendo seguida. Por várias vezes, ela se virou para ele com inquietude e até parou uma hora, aproveitando um raio de luz que escapava de uma taberna entreaberta, para olhá-lo fixamente. Em seguida, Gringoire a viu fazer o beiço que ele já tinha notado e ela o ignorou.

A certa altura, ele a perdeu de vista e minutos depois ouviu um grito de pavor. O poeta, então, apertou o passo.

Um pequeno lampião a gás que estava aceso na esquina permitiu distinguir a cigana debatendo-se nos braços de dois homens que tentavam abafar seus gritos, enquanto a pobre cabra balia de medo.

— Larguem a pobre moça! — gritou Gringoire, avançando bravamente. Um dos homens que segurava a cigana virou-se em sua direção: era o rosto formidável de Quasímodo. O poeta não fugiu, mas não deu nem mais um passo. O Corcunda aproximou-se dele, deixou-o de quatro sobre a calçada com um golpe dado com as costas da mão e mergulhou na escuridão, levando a moça dobrada sobre um de seus ombros como um cachecol. O companheiro o seguia e a pobre cabra corria atrás dos dois com seu balido melancólico.

— Assassino! Assassino! — gritava ela.

— Alto lá, miseráveis, entreguem-me esta mulher — disse de repente, com uma voz de trovão, um cavaleiro que surgiu bruscamente do cruzamento vizinho. Era o capitão dos arqueiros da ordem do rei, armado dos pés à cabeça e com a espada em punho. Ele arrancou a cigana dos braços de Quasímodo e colocou-a atravessada em seu cavalo. No momento em que o Corcunda, passada a surpresa, avançou sobre ele para recuperar a presa, quinze ou dezesseis arqueiros, que seguiam de perto o capitão, apareceram de armas na mão.

O sineiro foi dominado e amarrado. Ele rugia, espumava e mordia e se o dia estivesse claro, sem dúvida, apenas seu rosto, mais horrendo ainda devido à ira, teria feito fugir toda a esquadra. Mas, à noite, ele não podia contar com sua arma mais formidável: a feiúra. O homem que o acompanhava desapareceu durante a luta. A cigana se ajeitou graciosamente sobre a sela do oficial e o observou fixamente durante alguns segundos, como que deleitada por sua boa aparência e pelo socorro que ele acabara de lhe prestar. Em seguida, foi a primeira a quebrar o silêncio, falando docemente:

— Como o senhor se chama, senhor policial?

— Capitão Febo de Châteaupers, a seu serviço! — respondeu ele, endireitando-se. Enquanto o capitão retorcia seu bigode, ela se deixou escorregar do cavalo e fugiu. Um raio não teria desaparecido tão rápido.

Gringoire, aturdido pela queda, permaneceu na calçada. Pouco a pouco, recobrou os sentidos, e rapidamente uma sensação muito viva de frio acordou-o completamente. Ele havia caído no córrego.

— Maldito Corcunda! — resmungou entre os dentes.