Ele se levantou e retomou seu caminho. Após um momento, percebeu um brilho avermelhado no final de uma ruela estreita e longa.

— Deus seja louvado! Ali está sem nenhuma dúvida o calor de uma fogueira para que eu possa me secar e me aquecer.

Ele apenas havia dado alguns passos na longa ruela sem calçamento e cada vez mais enlameada, quando percebeu algo bastante singular. Ela não estava deserta. Aqui e ali, rastejavam massas humanas disformes, todas se dirigindo em direção à luz que vacilava no final da rua.

Gringoire continuou a avançar e logo se juntou a uma larva que demorava mais preguiçosamente a seguir as outras. Aproximando-se, ele percebeu que era apenas um aleijado que saltitava sobre as mãos e prosseguiu. Chegou perto de outra massa ambulante e a examinou. Era um paralítico, ao mesmo tempo coxo e sem um braço, tão coxo e tão sem braço que o sistema complicado de muletas que o sustentava dava-lhe o aspecto de um andaime que caminhava.

Ele quis apressar o passo, mas pela terceira vez algo barrou seu caminho. Esta coisa, ou antes, esta pessoa era um cego, um pequeno cego que tateava no espaço, rebocado por um grande cachorro.

Gringoire continuou seu caminho, mas o cego apressou o passo ao mesmo tempo. Tanto o paralítico quanto o aleijado avançaram com pressa e um grande ruído de moedas e de muletas foi ouvido sobre a calçada.

O poeta pôs-se a fugir e todos o seguiram. À medida que ele corria, pernetas, cegos e coxos multiplicavam-se ao redor. Manetas, zarolhos e leprosos também saíam das ruas adjacentes, das janelas dos porões, das adegas, urrando, mugindo, uivando, todos coxeando, mancando e pisando na lama como lesmas após a chuva.

Gringoire, sempre à frente dos três perseguidores, tentou, amedrontado, enfiar-se no meio dos outros. Quis voltar, mas era tarde demais. Aquela legião o cercou, mas ele continuou, empurrado ao mesmo tempo por esta onda, pelo medo e por uma vertigem que transformava tudo aquilo numa espécie de sonho horrível.

Por fim, atingiu a extremidade da rua, que terminava numa praça imensa, onde mil luzes dispersas cintilavam no nevoeiro confuso da noite. Gringoire fugiu para Iá, esperando escapar pela velocidade de suas pernas dos três fracos espectros que fixavam os olhos nele. De repente, o paralítico atirou longe as muletas e passou a persegui-lo com as duas melhores pernas que jamais haviam dado um passo sobre as calçadas de Paris, enquanto o coxo endireitou-se sobre os pés e o cego o encarava com olhos que resplandeciam.

— Onde estou? — perguntou o poeta, aterrorizado.

— No Pátio dos Milagres — respondeu um quarto espectro que o alcançara. Gringoire olhou ao redor de si. Estava realmente no temível Pátio dos Milagres, onde nunca um homem honesto havia penetrado a tal hora. Um círculo mágico no qual os soldados do rei que se arriscavam a entrar eram feitos em migalhas.

Tratava-se de uma praça vasta, irregular e mal pavimentada, como todas as praças de Paris. Havia fogueiras ao redor das quais se juntavam grupos estranhos aqui e ali.