No entanto, embora tivesse sido bem recebido de um modo geral, obviamente não havia amabilidade alguma nos sentimentos de Roscoe em relação ao pai – havia inclusive uma tendência perceptível por parte do filho de considerar Benjamin, enquanto este andava pela casa em meio a devaneios e melancolias adolescentes, como um hóspede um tanto incômodo. Roscoe era agora um homem casado e proeminente na vida de Baltimore, e não queria que viesse à tona nenhum escândalo envolvendo sua família.
Benjamin, que já não era persona grata entre as debutantes e os universitários mais jovens, viu-se bastante desamparado, exceto pelo companheirismo de três ou quatro garotos de quinze anos na vizinhança. Ocorreu-lhe de novo a ideia de entrar na escola St. Midas.
– Ouça uma coisa – ele disse para Roscoe certo dia –, já lhe falei diversas vezes que quero entrar na escola preparatória.
– Pois faça isso então – retrucou o filho, lacônico.
O assunto era desagradável para Roscoe, e ele desejava evitar uma discussão.
– Não posso ir sozinho – disse Benjamin, impotente. – Você precisa me matricular e me levar até lá.
– Não tenho tempo – declarou Roscoe, abrupto.
O filho estreitou os olhos e observou Benjamin com desconforto.
– Para falar a verdade – ele acrescentou –, seria melhor você não ir adiante com esse negócio. Seria melhor parar aqui mesmo. Seria melhor... seria melhor... – Roscoe fez uma pausa, e o seu rosto enrubesceu enquanto ele procurava as palavras. – Seria melhor que você desse meia-volta e começasse a seguir pelo caminho contrário. Isso já foi longe demais para ser uma piada. Já deixou de ser engraçado. Trate... trate de se comportar!
Benjamin olhou seu filho à beira das lágrimas.
– E mais uma coisa – continuou Roscoe. – Quando tivermos visitas em casa, quero que você me chame de “tio”... não “Roscoe”, e sim “tio”, você está entendendo? Parece absurdo que um garoto de quinze anos me chame pelo primeiro nome. Talvez seja melhor que você me chame de “tio” o tempo todo, para se acostumar.
Lançando um olhar seco ao pai, Roscoe se afastou...
X
Ao término dessa entrevista, Benjamin deslocou-se desolado até o andar de cima e olhou-se no espelho. Não tinha feito a barba durante três meses, mas não conseguiu encontrar nada no rosto além de uma leve penugem branca na qual lhe pareceu desnecessário mexer. Quando Benjamin viera de Harvard para casa pela primeira vez, Roscoe o abordara com uma proposição de que ele usasse óculos e colasse suíças postiças nas bochechas, e lhe parecera por um momento que a farsa de seus primeiros anos seria repetida. Mas as suíças davam coceira e o deixavam envergonhado. Ele chorou, e Roscoe cedeu com relutância.
Benjamin abriu um livro de histórias para meninos, Os escoteiros de Bimini Bay, e começou a ler. Mas viu-se pensando persistentemente na guerra. A América unira-se no mês anterior à causa dos Aliados, e Benjamin queria se alistar, mas, ai dele, a idade mínima era dezesseis anos, e ele não aparentava ser tão velho. Sua verdadeira idade – 57 anos – o teria desqualificado de qualquer maneira.
Houve uma batida na porta, e o mordomo apareceu trazendo uma carta com uma grande inscrição oficial no canto e endereçada ao sr. Benjamin Button. Benjamin rasgou o envelope com avidez e leu, deleitado, o conteúdo. A carta o informava de que vários oficiais da reserva que haviam servido na Guerra Hispano-Americana estavam sendo reconvocados ao serviço num posto mais elevado, e incluía sua nomeação como general de brigada no exército dos Estados Unidos com ordens para que se apresentasse imediatamente.
Benjamin se pôs de pé num salto, trêmulo de tanto entusiasmo. Isso era o que ele desejara. Pegou seu quepe; dez minutos depois havia entrado numa grande alfaiataria na Charles Street, pedindo com sua voz aguda e variante que lhe tirassem as medidas para um uniforme.
– Quer brincar de soldado, filhote? – um balconista perguntou, em tom casual.
Benjamin corou.
– Ora! Não importa o que eu quero! – ele retrucou, furioso. – Meu nome é Button e moro em Mt.
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