Seu teste consistia em, quando ele estava longe, esquecer-se dele e ter romances com outros rapazes. Warren considerava este fato desanimador, principalmente porque Marjorie vinha fazendo pequenas viagens durante todo o verão e, nos dois ou três primeiros dias depois de cada retorno seu para casa, ele via grandes pilhas de correspondência sobre a mesa do hall de entrada dos Harvey endereçadas a ela em várias caligrafias masculinas. Para piorar a situação, durante todo o mês de agosto, ela recebera a visita de sua prima Bernice, de Eau Claire, e parecia impossível vê-la a sós. Era sempre necessário caçar alguém para cuidar de Bernice. Conforme agosto se aproximava do fim, isso ia se tornando cada vez mais difícil.

Por mais que Warren idolatrasse Marjorie, tinha de admitir que a prima Bernice era meio chata. Era bonita, com cabelos escuros e a face corada, mas não era divertida nas festas. Todos os sábados à noite ele se submetia a uma longa e árdua dança de cortesia com ela para agradar a Marjorie, mas jamais sentiu nada além de tédio em sua companhia.

– Warren – uma voz baixinha atrás de si interrompeu seus pensamentos, e ele se virou para ver Marjorie, ruborizada e radiante como sempre. Pousou a mão em seu ombro, e um brilho tomou conta dele quase que imperceptivelmente. – Warren – ela sussurrou –, faça uma coisa por mim... dance com a Bernice. Ela está empacada com o pequeno Otis Ormonde há quase uma hora.

O brilho de Warren se dissipou.

– Ora... claro – respondeu ele, sem muito entusiasmo.

– Você não se importa, não é? Cuidarei para que não fique preso a ela.

– Tá bem.

Marjorie sorriu – aquele sorriso era agradecimento suficiente.

– Você é um anjo. Fico lhe devendo essa.

Com um suspiro, o anjo olhou em torno na varanda, mas Bernice e Otis não estavam à vista. Ele voltou para dentro e lá, em frente ao vestiário feminino, encontrou Otis no centro de um grupo de jovens morrendo de rir. Otis brandia um pedaço de madeira que havia apanhado e discursava loquaz.

– Ela entrou para arrumar o cabelo – anunciou ele, com olhar insano. – Estou esperando para dançar outra música.

Os risos se renovaram.

– Por que um de vocês não a tira para dançar? – gritou Otis, indignado. – Ela gosta de variar.

– Ora, Otis – disse um amigo –, você mal se acostumou a ela.

– Por que o pedaço de pau, Otis? – indagou Warren, sorrindo.

– O pedaço de pau? Ah, isto? Isto é um taco. Quando ela sair, vou bater na cabeça dela e mandá-la para dentro novamente.

Warren desmoronou num sofá gargalhando alegremente.

– Não se preocupe, Otis – conseguiu finalmente articular. – Vou rendê-lo desta vez.

Otis simulou um repentino desmaio e passou o taco para Warren.

– Para o caso de precisar, meu velho – disse ele, num sussurro.

Não importa o quão bonita ou inteligente seja uma garota, a reputação de não ser frequentemente tirada para dançar dificulta muito a sua posição num baile. Talvez os rapazes prefiram a sua companhia em vez da companhia das borboletas com quem dançam uma dúzia de vezes por noite, mas a juventude nessa geração movida a jazz é temperamentalmente inquieta, e a ideia de dançar mais do que um foxtrote inteiro com a mesma garota é desagradável, para não dizer detestável. Quando se trata de várias danças e seus intervalos, ela pode ter certeza de que um jovem, depois de liberado, jamais pisará em seus pés novamente.

Warren dançou toda a música seguinte com Bernice e, afinal, grato pelo intervalo, levou-a até uma mesa na varanda. Houve um instante de silêncio no qual ela fez coisas pouco impressionantes com o leque.

– Aqui faz mais calor do que em Eau Claire – disse ela.

Warren reprimiu um suspiro e assentiu. Deve fazer mais calor mesmo, mas não que ele saiba ou se importe com isso. Perguntou-se se ela não era uma boa interlocutora porque não recebia atenção ou se não recebia atenção por não ser uma boa interlocutora.

– Você vai ficar aqui por muito mais tempo? – perguntou a ela, ficando bastante ruborizado. Ela poderia suspeitar dos motivos que o levavam a fazer a pergunta.

– Mais uma semana – respondeu ela, encarando-o como se fosse se lançar contra a próxima observação que saísse da boca dele.

Warren mexia-se, desconfortável. Então, com um repentino impulso generoso, resolveu experimentar parte de sua conversa com ela. Virou-se e olhou-a nos olhos.

– Você tem uma boca absurdamente beijável – começou, baixinho.

Era uma observação que fazia às vezes para garotas em bailes da faculdade durante conversas em locais à meia-luz como aquele. Bernice claramente estremeceu. Ganhou um desajeitado tom avermelhado nas faces e atrapalhou-se com o leque. Ninguém jamais havia lhe feito observação semelhante antes.

– Atrevido! – a palavra escapou antes que ela se desse conta, e então mordeu o lábio.