Se uma caía sobre a mão de Marthe, eu esperava ouvir um grito. Eu me acusava de haver quebrado o encanto, dizendo-me que fora loucura pressionar meus lábios contra os seus, esquecendo ter sido ela que me beijara. "Você deve ir embora e não voltar mais." Lágrimas de raiva misturavam-se a minhas lágrimas de dor. Do mesmo modo, a fúria do lobo preso o fere tanto quanto a armadilha. Falar algo teria sido insultar Marthe. Meu silêncio a inquietava; ela via resignação nele. "Já que é tão tarde", eu a imaginava pensando (com injustiça talvez clarividente), "por que ele não poderia sofrer também?" Nesse tormento, eu tremia e batia o queixo. Àquele sofrimento, que acabava com minha infância, somavam-se sentimentos infantis. Eu era o espectador que se recusa a sair porque o final da peça o decepciona. Disse a Marthe: "Não vou sair. Você brincou comigo. Não quero mais ver você".

Pois, se não desejava voltar para meus pais, também não desejava vê-la de novo. Antes a expulsaria da própria casa!

Mas ela soluçava: "Você é uma criança. Será que não entende que lhe peço para sair porque o amo?".

Disse-lhe odiosamente que compreendia bem seus deveres e o fato de seu marido estar na guerra.

Ela sacudiu a cabeça: "Antes de você aparecer eu era feliz, pensava amar meu noivo. Eu perdoava a ele por não me compreender bem. Foi você que me mostrou que eu não o amava. Meu dever não é o que você pensa. Não é não mentir a meu marido, mas sim não mentir a você. Vá, e não me queira mal. Logo você haverá de me esquecer. Não quero estragar sua vida. Estou chorando porque sou muito velha para você!".

Essa declaração era sublime em sua puerilidade. Quaisquer que fossem as paixões que experimentasse depois em minha vida, jamais teria de novo a sensação adorável de ver uma menina de dezenove anos chorar por ser velha demais.

O sabor do primeiro beijo me decepcionara, como uma fruta saboreada pela primeira vez. Não é na novidade, mas no hábito que encontramos os maiores prazeres. Alguns minutos depois, não apenas estava habituado à boca de Marthe como não podia passar sem ela. Foi então que Marthe falou em privar-me dela para sempre.

Naquela noite ela me conduziu até minha casa. Para sentir-me mais próximo eu me encolhia sob seu casaco, envolvendo sua cintura. Ela não insistia mais em que não nos víssemos de novo. Pelo contrário, a ideia de que nos separaríamos dentro em pouco a entristecia. Fazia-me jurar mil loucuras.

Diante da casa de meus pais, não quis que voltasse só e acompanhei-a até sua casa.