O resultado é bom — “Ele ganhou muito dinheiro. Aquilo era maravilhoso” —, porém precário e vulnerável. Quanto mais ele ganha, menos ele tem. A certa altura, simplesmente se deixa dominar e cativar (e ser usado, e abandonado) por uma garota rica, descuidada, caprichosa, volúvel e superficial, Judy Jones, que se anuncia e se revela num sorriso “radiante, abertamente artificial — convincente” (como o sorriso de Gatsby). Mas ela talvez não seja mais artificial e autoconstruída do que o próprio Dexter, e podemos pensar nisso como um artifício agarrando outro artifício e reagindo a ele. Também podemos, pelo menos um pouco, pensar em Gatsby e Daisy dessa maneira. Para Dexter, é irrelevante se Judy é sincera ou está representando quando decide seduzi-lo mais uma vez, antes de tornar a desapontá-lo: “Nenhuma ilusão do mundo onde Judy crescera podia curar a ilusão de Dexter quanto ao seu caráter cobiçável”. Pode parecer que Judy era a coisa-protagonista deslumbrante de seus sonhos de inverno, mas, de forma curiosa, ela é uma personagem secundária, quase uma função em torno da qual ele agrega um vocabulário pessoal de deslumbramento inefável, entregando-se a ele: “beleza”, “romantismo”, “grandiosidade”, “êxtase”, “magia das noites”, “fogo e amabilidade”. Ele se relaciona mais com as palavras do que com Judy. Logo no início do namoro, ele confessa: “Não sou ninguém […]. Minha carreira é basicamente uma questão de futuros”. No entanto — e esse é um estágio mais importante de seu relacionamento com Judy —, seu futuro é basicamente uma questão de passados.

Na juventude, Dexter trabalhou como caddy. Agora um homem rico, tinha recursos para pagar seus próprios caddies quando ia jogar golfe. Mas seguia olhando para eles, “tentando captar um vislumbre ou um gesto que lembrasse a si mesmo, que diminuísse o abismo entre o passado e o presente”. A intensidade do sentimento não vinha da posse, mas da iminência ou da efetividade de sua perda. “Mais belo ao se esvair”, escreve Emily Dickinson; resplandecente porque está se extinguindo, sugere Fitzgerald (“Seu estado de espírito era de uma apreciação intensa, uma noção de estar magnificamente sintonizado com a vida e, ao mesmo tempo, irradiar um brilho e um glamour que ele poderia nunca mais conhecer”), resplandecente porque o brilho se enfraquecia. E quando de fato enfraqueceu e o mundo ficou embotado de vez, então o único futuro que importava emocionalmente era mesmo o passado.

O conto termina com um incidente ocorrido muitos anos depois que Dexter já se resignara à ausência de Judy em sua vida. Num encontro fortuito, Dexter fica sabendo que ela se casou com um brutamontes que “bebe e fica a vadiar” — uma sombra, ou melhor, uma alusão a Tom Buchanan. Também descobre que ela provavelmente o ama e que perdeu toda a sua beleza: em outras palavras, desleixo e degradação por toda parte. E agora Dexter se depara com uma perda ainda maior:

 

O sonho se foi. Algo lhe fora tirado. Com certo pânico, forçou a palma da mão contra os olhos e tentou trazer à memória a imagem da água batendo em Sherry Island, o alpendre à luz da lua, tecidos de algodão nos campos de golfe, o sol tórrido e sua penugem dourada da nuca. E seus lábios úmidos de beijos, seus olhos plangentes de melancolia e seu frescor feito um conjunto de lençóis novos e finos pela manhã. Ora, essas coisas não pertencem mais a este mundo! Chegaram a existir uma vez, mas já não existem.

Pela primeira vez em anos, as lágrimas correram pelo seu rosto. Mas dessa vez era por si mesmo que chorava. Não se importava mais com lábios, olhos e gestos. Ele queria se importar, mas não conseguia. Pois ele mesmo havia ido embora e nunca mais voltaria. Os portões se fecharam, o sol baixara e não havia beleza senão a beleza cinzenta do aço que resiste a todas as intempéries. Até o pesar que ele outrora suportava foi deixado no domínio das ilusões, da juventude e da riqueza da vida onde seus sonhos de inverno certa vez floresceram.

— Há muito tempo — ele disse —, há muito tempo havia algo em mim, mas agora isso se foi.