De súbito sentiu que estava sendo agarrado pelo colarinho e sacudido com violência, o que o deixou ainda mais tonto.
— Não seja burro — disse a Voz.
— Estou... ficando... doido... — disse o sr. Marvel. — Não adianta brigar por um par de botas. Estou ficando doido, ou então são espíritos.
— Nem uma coisa nem a outra — disse a Voz. — Escute!
— Doido — disse o sr. Marvel.
— Espere um minuto — disse a Voz, com intensidade, com aquela entonação meio trêmula de quem tenta se controlar.
— E então?... — perguntou o sr. Marvel, com a estranha sensação de que a ponta de um dedo estava sendo pressionada de encontro ao seu peito.
— Acha que sou imaginação? Só imaginação?
— E o que mais pode ser? — perguntou o sr. Marvel, esfregando a nuca.
— Muito bem — disse a Voz, aparentando alívio. — Então vou atirar-lhe pedras até você mudar de ideia.
— Mas onde você está?
A Voz não respondeu. Mas uma pedra veio assobiando, surgindo aparentemente do nada, e errou o ombro do sr. Marvel por um fio de cabelo. Virando-se, o sr. Marvel viu um seixo erguer-se no ar, traçando uma trajetória complexa, ficar suspenso por um instante e depois disparar na direção dos seus pés mais depressa do que seus olhos puderam acompanhar. Assombrado demais para pensar em esquivar-se, ele sentiu a pedra chocar-se contra o seu dedão exposto e cair na vala. Então disparou a correr, tropeçou num obstáculo que não chegou a ver, e rolou sobre si mesmo, até ver-se sentado e tonto.
— E agora? — disse a Voz, enquanto uma terceira pedra erguia-se no ar e ficava oscilando ameaçadoramente diante de sua cabeça. — Sou imaginação?
O sr. Marvel, à guisa de resposta, pôs-se de pé e partiu novamente, apenas para ser outra vez derrubado. Decidiu ficar deitado e quieto.
— Se continuar lutando — disse a Voz —, parto sua cabeça com esta pedra.
— E eu mereço — disse o sr. Thomas Marvel, sentando-se, massageando o dedão machucado e mantendo o rabo do olho no terceiro míssil. — Não entendo. Pedras voando sozinhas. Pedras falando. Pode deixar, dane-se, eu desisto.
A terceira pedra caiu no chão.
— É muito simples — disse a Voz. — Eu sou um homem invisível.
— Conte uma piada nova — disse o sr. Marvel, gemendo de dor. — Onde você se esconde...
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