O inspetor geral

Personagens
Anton Antonovitch Skovznik-Dmukhanovski — Governador
Anna Andreievna — Sua Esposa
Maria Antonovna — Sua Filha
Luka Lukitch — Inspetor das Escolas
Esposa de Luka Lukitch
Ammoss Fiedorovitch Liapkin-Tiapkin — Juiz local
Artêmy Philippovitch Zemlianika — Diretor do Hospital
Ivan Kuzmitch Chpekin — Chefe dos Correios
Piotr Ivanovitch Dobtchinski — Fazendeiro
Piotr Ivanovitch Bobtchinski — Fazendeiro
Ivan Aleksandrovitch Khlestakov — Funcionário de São Petersburgo
Óssip — Seu Criado
Christian Ivanovitch Gibner — Médico local
Fédor Andreievitch Liuliukov — Funcionário da Cidade
Ivan Lazarevitch Rastakovski — Funcionário da Cidade
Stepan Ivanovitch Korobkin — Funcionário da Cidade
Stepan Ilitch — Chefe de Polícia
Svistunov — Soldado
Pugovitzin — Soldado
Dierjimorda — Soldado
Abdúlin — Comerciante
Fevrônia Petrovna Pochlepkina — Mulher do Carpinteiro
A Viúva do Subtenente
Mitchka — Criado do Governador
O Criado do Hotel
Um Guarda
Convidados, comerciantes, burgueses.
ATO I
Cena I
Sala da casa do Governador. Em cena está o Governador; o Diretor do hospital, Artêmy Philippovitch; o Diretor da escola, Luka Lukitch; o Juiz Ammoss Fiedorovitch; o Chefe de Polícia; o Médico e dois soldados.
GOVERNADOR — Meus senhores, chamei-os aqui para lhes dar uma notícia muito desagradável — é iminente a chegada de um inspetor.
AMMOSS — O quê? Um inspetor?
ARTÊMY — Como é que é, um inspetor?
GOVERNADOR — Exatamente. Um inspetor de São Petersburgo, que viaja incógnito e, para o cúmulo dos males, em missão secreta.
AMMOSS — Ai, ai, ai, ai, ai, ai!...
ARTÊMY — De fato, uma notícia muito desagradável.
LUKA — Meu Deus! E o que é pior: em missão secreta!
GOVERNADOR — Eu já pressentia isso. Durante toda a noite sonhei com ratazanas enormes; palavra de honra que nunca vi bichos tão descomunais. Elas se aproximavam de mim, me cheiravam estranhamente e se afastavam cautelosas, pretas, grandes... Vou ler para os senhores uma carta que recebi de Andrei Ivanovitch. Ouçam bem: “Querido amigo, compadre e benfeitor...” (Pula alguns trechos murmurando qualquer coisa.) Ah, está aqui: “Apresso-me a informá-lo da chegada de um funcionário especializado, que leva instruções para inspecionar toda a província e especialmente o nosso Distrito”. (Levanta o dedo com um gesto significativo.) “Essa informação me veio de fonte segura, embora esse inspetor esteja viajando incógnito. Como sei que você, meu caro Governador, é um homem inteligente que não gosta de deixar escapar o que lhe cai nas mãos...” (Interrompendo.) Bem, aqui vêm coisas sem importância: tá, tá, tá, tá, tá... “O meu conselho é que se deve tomar todas as precauções porque esse funcionário poderá chegar a qualquer momento, se é que já não chegou aí e se encontra escondido. Ontem eu...”. Bem, aqui vêm assuntos de família... “Minha irmã Anna veio visitar-nos ontem com seu marido. Ivan Kirilitch engordou muito e continua tocando violino...”, etc. Por aí vejam vocês como estão as coisas.
AMMOSS — Na verdade o caso é excepcional, excepcional, realmente excepcional!
LUKA — Mas por que será que isso aconteceu? O que é que um inspetor vem fazer aqui?
GOVERNADOR — É o destino! Até agora, graças a Deus, essa gente só metia no nariz no distrito dos outros, hoje, chegou a nossa vez!
AMMOSS — Eu creio — Senhor Governador, que para isso deve existir um motivo mais sutil e de índole política. Eu me explico: a Rússia... isto é... a Rússia deseja a guerra e o Ministério manda um funcionário para averiguar se por aqui existe algum traidor.
GOVERNADOR — Mas que absurdo! Traidores numa aldeiazinha como a nossa? Muito me admira que o senhor, um homem tão inteligente, diga uma tolice dessas. Estamos tão longe de qualquer povoado que, mesmo viajando três anos a cavalo, não chegaríamos a lugar nenhum.
AMMOSS — Posso garantir — Senhor Governador, que o senhor está equivocado no seu raciocínio. O Ministério é muito astuto e não escapam ao seu olhar nem os povoados mais distantes das fronteiras.
GOVERNADOR — Escapando ou não escapando, os senhores já estão avisados. Da minha parte, já tomei algumas providências e eu os aconselho a fazer o mesmo. Sobretudo o senhor Artêmy Philippovitch. Sem dúvida o inspetor vai querer inspecionar em primeiro lugar o hospital. De modo que não custa torná-lo um pouco mais decente: fornecer roupa limpa aos doentes, trocar os gorros de dormir para que não fiquem parecendo limpadores de chaminés, como habitualmente.
ARTÊMY — Bom: isso é fácil, roupa é para ser lavada de vez em quando...
GOVERNADOR — Claro. E, além disso, seria conveniente, ao pé de cada cama, uma ficha com o nome da doença e a data de entrada do paciente, tudo escrito em latim ou em outro idioma sério qualquer. O Doutor Christian que tome providências. Não é bom que os doentes usem um fumo tão forte. Mal a gente entra numa enfermaria tem logo vontade de espirrar. E depois há doentes demais. Dá até uma má impressão ver tantos doentes assim no seu hospital. Podíamos dispensar alguns.
ARTÊMY — Quanto a isso, eu e o Doutor Christian pensamos da mesma forma.
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