Catherine – repliquei. – A senhorita ama o sr. Edgar porque ele é bonito, jovem, alegre e rico, e porque a ama. Essa última razão, porém, não vale nada: provavelmente haveria de amá-lo mesmo que não fosse o caso, mas não o amaria se ele não possuísse os quatro atrativos anteriores.
– Não, com certeza não. Só teria pena dele... ou iria detestá-lo, talvez, se fosse feio e um grosseirão.
– Mas há muitos outros rapazes bonitos e ricos no mundo. Mais bonitos, talvez, e mais ricos do que ele. O que a impede de amá-los?
– Se há, não conheço. Nunca vi ninguém como Edgar.
– Mas talvez ainda veja. E ele não vai ser belo e jovem para sempre, e talvez não seja sempre rico.
– Ele é agora, e o presente é só o que me interessa. Gostaria que você falasse mais racionalmente.
– Bem, isso resolve a questão. Se só o presente lhe interessa, case-se com o sr. Linton.
– Não estou pedindo sua permissão... vou me casar com ele. Mas você ainda não me disse se isso é a coisa certa.
– Certíssima, se é que está certo as pessoas se casarem pensando apenas no presente. E agora gostaria de saber o que a está deixando infeliz. Seu irmão vai ficar satisfeito; os pais do rapaz não vão se opor, acho; a senhorita vai escapar de uma casa desordenada e desconfortável e ir para uma casa rica e respeitável. Ama Edgar, e ele a ama. Tudo parece perfeito... onde está o obstáculo?
– Aqui, e aqui! – respondeu Catherine, batendo com uma das mãos na testa e com a outra no peito. – Seja onde for que a alma reside. No fundo da minha alma e do meu coração, estou convencida de que estou errada!
– Isso é muito estranho! Não consigo entender.
– É o meu segredo. Mas se não debochar de mim, eu explico. Não tenho como explicar de modo coerente, mas vou lhe dar uma ideia de como me sinto.
Ela se sentou ao meu lado outra vez. Seu rosto ficou mais triste e circunspecto, e as mãos unidas tremiam.
– Nelly, você nunca tem sonhos esquisitos? – perguntou, de repente, após alguns minutos de reflexão.
– Sim, vez por outra – respondi.
– Eu também. Ao longo da vida, já tive sonhos que permaneceram comigo, depois que acordei, e mudaram minha forma de pensar. Afetaram-me demais e passaram por mim como vinho derramado na água, alterando a cor da minha mente. Vou lhe contar um desses sonhos, mas tenha o cuidado de não rir em nenhuma passagem.
– Ah, não faça isso, srta. Catherine! – exclamei. – A vida já é triste o bastante sem conjurar fantasmas e visões.
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