Apesar disso, um geólogo como eu lê tão claramente numa rocha como Pedrinho lê num livro.

    Lê que coisas?

    Lê a idade dessa rocha, lê como ela se formou, o que sofreu nas suas lutas com a erosão; lê, portanto, a história da formação da terra, do nascimento das plantas, do aparecimento dos animais, tudo.

    De que modo a rocha fala das plantas e dos animais? — quis saber Narizinho.

    As rochas são túmulos de vidas passadas. Nelas encontramos fósseis de plantas e animais que levam os geólogos a mil conclusões sobre a história da terra. Esses restos mortais, revelam inúmeras formas de vida que já se extinguiram. Mostram plantas esquisitas, avós de muitas plantas de hoje. E vemos animais esquisitíssimos, também avós dos animais de hoje. E outros ainda mais esquisitos, que desapareceram sem deixar descendência. Mais tarde havemos de estudar a paleontologia, que é a ciência dos fósseis. Por enquanto só falaremos dos que se relacionarem com o petróleo. Nas escavações para petróleo os geólogos encontram restos fósseis de animálculos e de plantículas marinhas — como as diatomáceas, algas de células revestidas duma película de sílica.

    Que é sílica?

    Um mineral dos mais abundantes na natureza. Depois do oxigênio é o que aparece em maior quantidade. As areias são formadas de sílica. Mas, como ia dizendo, essas plantinhas possuem células com capa de sílica, de modo que quando morrem e desaparece o que há dentro das células, fica só a casquinha. Ao lado das diatomáceas encontram-se também muitos fósseis de radiolários, foraminíferos, ostras, etc.

    Radiolário?... Foraminífero? Que é isso?

    Animálculos com esqueletinhos de sílica que também chegaram até nós em estado fóssil e fornecem aos sábios preciosa instrução sobre o estado da terra há milhões e milhões de anos. Em certos pontos essas formas de vida se acumularam em tremendas quantidades. Encontramos hoje extensões enormes atulhadas com os seus esqueletinhos. E surge a pergunta: Para onde foi a substância que enchia as casquinhas? Para onde foi o protoplasma de que eram formados esses pequenos seres?

    Pro-to-plas-ma — repetiu Emília. Explique o que é. Eu não finjo que sei as coisas.

    Protoplasma — explicou o Visconde — é o caldo, o mingau desses serezinhos. É a substância da vida. A vida começa sendo protoplasma. O princípio de tudo que é orgânico está no protoplasma.

    Viva o protoplasma! — gritou Emília.

    Diante desses enormes amontoados de fósseis, os sábios perguntam: "Onde está o gato?" Isto é: "Onde está o protoplasma que os enchia?" Os sábios sabem que na natureza nada se perde; uma coisa não desaparece, apenas se transforma em outra. Se não está aqui, está ali. Se não está sob esta forma, está sob outra forma. Os sábios fazem essa pergunta e eles mesmos respondem, porque a função dos sábios é perguntar e responder a si próprios.

    E que respondem?

    Respondem uma porção de coisas; esse protoplasma, ou essa matéria orgânica dos animálculos, muda-se numa porção de coisas que neste momento não nos interessam — e mudam-se também no que mais nos interessa: em petróleo. Esses bichinhos eram seres marinhos e por isso se multiplicavam tanto. O grande reservatório da vida sempre foi o mar. Na terra a vida só é possível na superfície e até a poucos palmos de fundo, onde moram as minhocas. Já no mar a vida é possível até nas maiores profundidades. Mal comparando, a vida na terra é uma folha de papel; e a vida no mar é uma pilha de folhas de papel que vai desde a superfície das ondas até lá no fundo.