Quanto à conversa, há apenas cinco mulheres em Londres com quem vale a pena conversar e duas delas não podem ser admitidas à sociedade decente. Porém, diga-me sobre a sua talentosa. Há quanto tempo você a conhece?”

“Cerca de três semanas. Nem tanto. Cerca de duas semanas e dois dias”.

“Como você a conheceu?”

“Eu lhe contarei, Harry; mas você não deve ficar contrariado por causa disso. Afinal, isso nunca teria acontecido se eu não o tivesse conhecido. Você me encheu de um desejo selvagem de conhecer tudo sobre a vida. Dias depois que o encontrei, algo pareceu pulsar em minhas veias. Enquanto eu me demorava no Parque ou passeava por Piccadilly, costumava olhar para qualquer um que passava por mim e me perguntar, com insana curiosidade, que tipo de vidas eles levavam. Alguns deles me fascinaram. Outros me encheram de terror. Havia um delicado veneno no ar. Eu tinha uma paixão pelas sensações. Uma noite, perto das sete horas, decidi sair em busca de alguma aventura. Senti que esta cinza e monstruosa Londres, com sua miríade de pessoas, seus pecadores esplêndidos e seus sórdidos pecados, como você bem disse uma vez, tinha alguma coisa guardada para mim. Imaginei mil coisas. O mero perigo me dava uma sensação de prazer. Lembrei do que você me disse naquela maravilhosa noite quando jantamos juntos pela primeira vez, sobre a busca pela beleza ser o segredo venenoso da vida. Não sei o que eu esperava, mas saí e vagueei a oeste, logo me perdendo em um labirinto de sombrias ruas e praças negras e sem gramado. Cerca de oito e meia, passei por um pequeno teatro de terceira categoria, com grandes e brilhantes jatos de gás e berrantes cartazes. Um judeu horripilante, no mais surpreendente colete que já vi em minha vida, estava parado à porta, fumando um vil cigarro. Ele tinha cachos sebosos e um enorme diamante resplandecendo no meio de uma camiseta imunda. ‘Quer um ingresso, meu senhor?’, ele disse ao me ver e tirou seu chapéu com um ato de bela servidão. Havia algo nele, Harry, que me surpreendeu. Ele era um monstro. Você rirá de mim, eu sei, mas realmente entrei e paguei um guinéu[5] por um camarote. Até agora não consigo compreender porque fiz isso; e, ainda, se eu não tivesse... meu caro Harry, se eu não tivesse, teria perdido o grande romance de minha vida. Vejo que está rindo. Isso é horrível de sua parte!”

“Não estou rindo, Dorian; pelo menos, não de você.