Dessa maneira, prosseguiram por uma boa distância em um silêncio que era interrompido apenas pelo marulhar da água, enquanto os redemoinhos giravam em volta deles, ou pelo som baixo de um escorregão de pé que falseava. Heyward entregou a direção da canoa inteiramente ao batedor, que se aproximava ou se afastava da margem a fim de evitar fragmentos de rochas ou partes mais profundas do rio, tudo com uma segurança que lhe mostrava o conhecimento da rota que seguiam. De vez em quando, parava e, em meio do silêncio arfante, que o rugido surdo mas cada vez maior da catarata tornava ainda mais impressionante, escutava com grande atenção, procurando captar qualquer som que pudesse vir da floresta adormecida. Quando convencido de que estava tudo tranquilo, e incapaz de detectar mesmo com a ajuda de sentidos bem experimentados qualquer sinal de aproximação dos inimigos, reiniciava devagar a viagem lenta e exposta a perigos. Finalmente, chegaram a um ponto no rio onde o olhar inquiridor de Heyward se fixou em um grupo de objetos pretos, reunidos em um ponto onde uma ribanceira alta lançava uma sombra mais profunda que a habitual sobre as águas escuras. Hesitando em avançar, chamou a atenção do companheiro para aquele lugar.

— Isso mesmo — respondeu o calmo batedor —, os índios esconderam os animais com o bom-senso dos nativos! A água não deixa rastros os olhos de uma coruja ficariam cegos para uma escuridão como a daquele buraco.

O grupo completo reuniu-se logo depois e realizou-se outra reunião entre o batedor e seus novos companheiros, durante a qual aqueles cujo destino dependia da boa-fé e engenhosidade daqueles mateiros desconhecidos tiveram um pouco de tempo para observar mais atentamente a situação em que se encontravam.

O rio nesse local corria apertado entre rochas altas e alcantiladas, uma das quais se projetava sobre o ponto onde estava a canoa. Uma vez que as rochas eram também cercadas por altas árvores, que pareciam vacilar à beira do precipício, a situação dava ao rio a aparência de correr por uma ravina profunda e estreita. Tudo que havia por baixo dos galhos fantásticos e copas entrecortadas das árvores, que pareciam, aqui e ali, obscuramente pintadas contra o céu estrelado, se encontrava na escuridão mais profunda. Atrás deles, a curvatura da ribanceira logo fechava também a vista com a mesma silhueta escura e arborizada, embora, à frente, aparentemente a uma distância não muito grande, a água parecesse empilhada contra os céus, de onde despencava para dentro de cavernas, das quais saíam aqueles sons mal-humorados que enchiam a atmosfera noturna. Aquilo parecia, na verdade, um lugar reservado ao isolamento, e as irmãs sentiram uma impressão tranquilizadora de segurança enquanto olhavam para aquelas belezas românticas, mas que não deixavam também de ser aterrorizantes. Um movimento geral entre os guias, no entanto, logo depois trouxe-as de volta da contemplação dos encantos selvagens que a noite emprestara ao local para um doloroso senso do perigo em que se encontravam.

Os cavalos haviam sido presos a alguns arbustos que cresciam nas gretas das pedras e onde, de pé na água, foram deixados para passar a noite. O batedor pediu a Heyward e a suas desconsoladas companheiras que se sentassem na proa da canoa, enquanto ocupava a popa, tão ereto e firme como se flutuasse em uma embarcação feita de material muito mais firme. Os índios, cautelosamente, refizeram o caminho para o lugar que haviam deixado, enquanto o batedor, firmando a vara em uma rocha, afastou com um forte empurrão a frágil canoa de casca de árvore e levou-a diretamente para o centro da corrente turbulenta. Durante muitos minutos, foi difícil e duvidoso o resultado da luta entre a leve bolha onde flutuavam e a corrente impetuosa. Proibidos de mexer mesmo uma mão e quase com medo de respirar, para não expor o frágil tecido do barco à fúria da corrente, os passageiros observaram em febril expectativa as águas que passavam rápidas. Vinte vezes pensaram que os remoinhos violentos os levavam à destruição, quando a mão de mestre do piloto endireitava e repunha a embarcação no curso. Um esforço longo, vigoroso e, pensaram as mulheres, desesperado, encerrou a luta. No exato momento em que Alice cobriu os olhos, horrorizada, sob a impressão de que iam ser sugados pelo vórtice ao pé da catarata, a canoa flutuou, parada, ao lado de uma rocha plana que ficava no mesmo nível da água.

— Onde estamos? O que é que vamos fazer em seguida? — perguntou Heyward, notando que haviam cessado os esforços do batedor.

— Estamos na base da Glenn’s — respondeu em voz alta o batedor, sem medo das consequências de falar sob o fragor da catarata. — A coisa seguinte a fazer é desembarcar em segurança, evitando que a canoa vire, e vocês poderão continuar a descer sem perigo a estrada de terra por onde viajaram, mais rápido do que quando subiram. É um trecho difícil de transpor quando o rio está um pouco cheio, e cinco é um número excessivo para continuarmos secos, numa viagem apressada, em uma pequena canoa de casca de bétula colada. Subam para a pedra e irei buscar os moicanos com a carne de gamo. É melhor um homem dormir sem seu escalpo do que passar fome em meio à abundância.

Os passageiros cumpriram com prazer essas instruções. Quando o último pé tocou a rocha, a canoa girou para longe do ponto onde estava e o corpo alto do batedor foi visto por um instante deslizando acima das águas antes de desaparecer na escuridão impenetrável que cobria o leito do rio. Deixados sozinhos ali pelo guia, os viajantes permaneceram alguns minutos em impotente ignorância, temerosos mesmo de se moverem pelas rochas fendidas, com receio de que um passo em falso os lançasse em uma das muitas e hiantes cavernas, dentro da água que parecia despencar de todos os lados. A apreensão, no entanto, logo passou porque, ajudada pela perícia dos nativos, a canoa surgiu de repente em meio ao remoinho e flutuou novamente para o lado da pedra baixa, antes mesmo que pensassem que o batedor tivera tempo de reunir-se a seus companheiros.

— Estamos agora fortificados, aquartelados e aprovisionados — exclamou alegre Heyward —, e podemos desafiar Montcalm e seus aliados. Agora, meu vigilante sentinela, consegue ver alguma coisa em terra firme daqueles que chama de iroqueses?

— Chamo-os de iroqueses porque, para mim, todo nativo que fala uma língua estrangeira é considerado inimigo, embora finjam que servem ao rei! Se Webb quer boa-fé e honestidade de um índio, que chame as tribos dos delawares e despache esses gananciosos e mentirosos mohawks e oneidas, com suas seis nações de biltres, para onde, por natureza, devem estar, isto é, entre os franceses.

— Nós trocaríamos, nesse caso, um amigo combatente por um amigo inútil! Ouvi dizer que os delawares enterraram a machadinha de guerra e se sentem contentes em serem chamados de mulheres.

— Que a vergonha cubra os holandeses11 e os iroqueses, que os enganaram com suas trapaças e os levaram a assinar tal tratado! Mas conheço-os há vinte anos e chamo de mentiroso quem disser que corre sangue covarde nas veias dos delawares. Vocês lhes expulsaram as tribos para longe das praias e agora acreditam no que dizem os inimigos deles, para que possam dormir à noite sobre um travesseiro confortável. Não, não, para mim, todo índio que fala uma língua estrangeira é um iroquês, fique o castelo de sua tribo12 no Canadá ou em Nova York.

Heyward, percebendo que a obstinada fidelidade do batedor à causa de seus amigos delawares e moicanos, pois eram ramos da mesma numerosa nação, provavelmente prolongaria uma discussão inútil, mudou de assunto.

— Tratado ou não, sei com certeza que seus dois companheiros são guerreiros valentes e cautelosos! Eles viram ou ouviram alguma coisa de nossos inimigos?

— O índio é um mortal que é sentido antes de ser visto — respondeu o batedor, subindo na pedra e jogando descuidado no chão a carne do gamo. — Confio em outros sinais que não os que chamam a atenção do olho, quando estou no rastro dos mingos.

— Seus ouvidos lhe dizem que eles descobriram nossa rota de retirada?

— Eu ficaria triste em pensar que descobriram, embora este local seja daqueles que a coragem pode defender bem em uma violenta escaramuça. Não nego, porém, que os cavalos se assustaram quando passei por eles, como se houvessem sentido o cheiro de lobos, e o lobo é um animal que costuma circular em volta de uma emboscada de índios, querendo pegar os restos dos gamos que os selvagens abatem.

— Você está esquecendo o gamo a seus pés, ou será que não lhes devemos a visita ao potro sacrificado? Ha, que barulho é esse?

— Pobre Miriam! — murmurou o estranho.