Ele está viajando na cabine privativa, a ‘suíte nupcial’ — só que sozinho. O copiloto sempre usa farda.” Levantou-se: “Quero ver se descubro se vamos descer em Nashville”.

Wylie White ficou agitado.

“Por quê?”

“Tem uma tempestade se formando no vale do Mississippi.”

“Então vamos ter de ficar aqui a noite toda?”

“Se o tempo continuar desse jeito!”

Um súbito mergulho indicou que continuaria. Lançou Wylie White sobre o assento que ficava de frente para o meu, fez a aeromoça precipitar-se corredor abaixo na direção da cabine de comando e pôs o judeu sentado. Após exclamações de contrariedade com a afetação deliberada e serena dos viajantes contumazes, voltamos a nos acomodar. Seguiram-se apresentações.

“Srta. Brady — Sr. Schwartz”, disse Wylie White. “Ele também é um grande amigo do seu pai.”

O sr. Schwartz assentiu com a cabeça com tamanha veemência que era como se dissesse: “É verdade. Juro por Deus, é verdade!”.

Talvez algum dia na vida ele tivesse mesmo alardeado o fato — mas ali estava um homem a quem, obviamente, algo havia acontecido. Conhecê-lo era como encontrar um amigo que havia acabado de sair nocauteado de uma briga de socos ou de uma batida de carro. “O que aconteceu com você?”, perguntaríamos. E ele, dentes quebrados e lábio inchado, responderia algo ininteligível, sem conseguir nem mesmo relatar o acontecido.

O sr. Schwartz não tinha nenhuma característica física marcante; o exagerado nariz adunco e as olheiras oblíquas eram-lhe tão naturais quanto, no meu pai, a vermelhidão tipicamente irlandesa em torno das narinas arrebitadas.

“Nashville!”, bramiu Wylie White. “Significa que vamos para um hotel. E que só vamos chegar à costa amanhã à noite — isso se chegarmos. Meu Deus! Eu nasci em Nashville.”

“Imagino que queira fazer uma visita.”

“Jamais — saí de lá há quinze anos. Nunca mais quero ver aquela cidade.”

Mas veria — porque o avião, não havia dúvida, já ia descendo, descendo, descendo, como Alice no buraco do coelho. Com as mãos em concha contra a janela, avistei o borrão de luz da cidade ao longe, à esquerda. O aviso em verde — “Apertar os cintos — Não fumar” — estava aceso desde que adentráramos a tempestade.

“Você ouviu o que ele disse?”, falou o sr. Schwartz, rompendo um de seus cáusticos silêncios do outro lado do corredor.

“Ouvi o quê?”, perguntou Wylie.

“Como ele se apresenta agora”, disse Schwartz. “Sr. Smith!”

“E qual é o problema?”, retrucou Wylie.

“Ah, nenhum”, Schwartz se apressou em rebater. “Só achei engraçado. Smith.” Era o riso mais sem alegria que eu já ouvira: “Smith!”.

Na minha opinião, desde o tempo das estalagens, nada se compara aos aeroportos — nada pode ser mais solitário, mais sombriamente silencioso. Os velhos galpões de tijolos vermelhos eram erguidos bem ao lado das cidadezinhas que os nomeavam — ninguém desembarcava num lugar remoto como aquele se não morasse ali. Mas os aeroportos nos fazem viajar pela história, como se fossem oásis, ou entrepostos das grandes rotas de comércio. A visão dos passageiros, sozinhos ou aos pares, perambulando pela pista madrugada adentro costuma atrair pequenas multidões até altas horas. Os mais jovens admiram os aviões, e os mais velhos, com seus olhares atentos de incredulidade, observam os viajantes. A bordo de enormes aeronaves destinadas a travessias transcontinentais, éramos os ricos habitantes da costa, que por acaso desceram das nuvens naqueles confins da América.