Talvez entre nós houvesse grandes aventuras encarnadas em estrelas de cinema. Mas isso era raro. E eu sempre desejava ardentemente que parecêssemos mais interessantes — o mesmo desejo fervoroso que havia nas grandes estreias, quando os fãs desaprovavam, desdenhosos, que alguém estivesse ali sem ser uma estrela.

Na descida, como ele me ofereceu o braço à saída do avião, Wylie e eu de repente nos tornamos íntimos. Dali em diante, ele me marcou em cima — e eu não liguei. Desde o momento em que pisamos no aeroporto ficou claro que, se era para ficarmos ali, então ficaríamos juntos. (Não foi como da vez em que perdi meu amado — da vez em que ele tocava piano com aquela garota, Reina, num pequeno chalé na Nova Inglaterra, perto de Bennington, e enfim me dei conta de que o amor não era recíproco. Guy Lombardo flutuava no ar, “Top Hat” e “Cheek to Cheek”, e ela ensinava a ele as melodias. As teclas baixando como folhas caídas, e ela, mãos espraiadas sobre as dele, mostrando como fazer soar um acorde só de pretas. Eu estava no primeiro ano da faculdade na época.)

Quando adentramos o aeroporto, o sr. Schwartz estava conosco, mas parecia perdido numa espécie de sonho. O tempo todo que passamos junto ao balcão, buscando informações mais confiáveis, ficou olhando fixamente em direção à porta de saída para a pista de pouso, como se temesse que o avião fosse decolar e deixá-lo ali. Pedi licença por alguns minutos e perdi alguma coisa do que foi dito, e quando voltei ele e White estavam bem próximos, White falando e Schwartz parecendo ainda mais como que premido por um caminhão enorme que vinha em marcha a ré para cima dele. Não mirava mais a porta de saída para a pista. Peguei o final de uma observação de Wylie White:

“… avisei pra você calar a boca. É o melhor que você faz.”

“Eu só disse que…”

Ele se interrompeu quando me aproximei, e perguntei se conseguiram alguma informação. Àquela altura, eram duas e meia da manhã.

“Não muito”, disse Wylie White. “Eles acham que só vamos poder retomar a viagem daqui a três horas, então o pessoal mais acomodado está indo para um hotel. Mas eu gostaria de levar vocês ao Hermitage, antiga casa de Andrew Jackson.”

“E a gente vai conseguir ver alguma coisa no escuro?”, quis saber Schwartz.

“Ora essa, mais duas horas e o sol já nasce.”

“Vão vocês dois”, disse Schwartz.

“Tá certo — você pega o ônibus para o hotel. Ainda não saiu — e ele está lá.” Sua voz denotava certo escárnio. “Talvez seja uma boa.”

“Não, vou com vocês”, falou Schwartz, ligeiro.

Pegamos um táxi num descampado escuro e deserto lá fora, e ele pareceu se animar. Para me animar também, bateu de leve no meu joelho.

“É melhor mesmo eu acompanhar vocês”, disse, “ficar de olho. Há muito tempo, quando eu andava montado na grana, tive uma filha — uma filha linda.”

Falava como se ela tivesse sido entregue a seus credores na qualidade de valioso patrimônio.

“Você vai ter outra”, assegurou-lhe Wylie. “Vai tê-la de volta. A roda se move, um giro a mais e você vai estar à altura do pai da Cecilia, não é, Cecilia?”

“Onde fica esse Hermitage?”, perguntou Schwartz, ansioso. “No meio do nada? Não vamos perder o avião?”

“Deixa disso”, disse Wylie. “A gente devia ter trazido também aquela comissária pra te fazer companhia. Você não gostou dela? Eu achei a moça uma gracinha.”

Percorremos um descampado claro e plano por um bom tempo, com a vista se resumindo a uma estrada e uma árvore ou outra e um barraco para então, subitamente, costearmos em curva um bosque. Eu podia sentir, mesmo no escuro, que as árvores daquele bosque eram verdes — bem diferentes do tom oliva empoeirado das da Califórnia. A certa altura, passamos por um preto conduzindo três vacas, que mugiram quando ele as tocou para a beira da estrada. Eram vacas de verdade, de ancas quentes, vivas, sedosas, e o preto aos poucos ganhava contornos reais na escuridão, seus grandes olhos escuros nos encarando bem perto do carro, e Wylie lhe deu uma moeda.