E, como explicar? É muito simples: astuto, grosseiro e, devo dizer, um inocente. Os outros, provavelmente, são iguais. Não, não, senhor comandante, deve procurar companhia adequada entre as grandes atrações de nossas montanhas. E, nessas, ao menos, se é um grande amante das obras da natureza, garanto que não ficará desapontado.
No dia seguinte, Felipe veio me encontrar em uma carroça tosca, puxada por uma mula. Um pouco antes do meio-dia, após me despedir do médico, do estalajadeiro e de algumas boas almas que me ajudaram durante a doença, saímos da cidade pelo portão oriental e começamos a subir a serra. Eu ficara enclausurado tanto tempo desde que tinha sido deixado para morrer após a perda do comboio que o simples cheiro de terra me fez sorrir. A região que atravessávamos era selvagem e rochosa, parcialmente coberta por densos bosques, depois por carvalhos e a seguir pelo grande castanheiro espanhol, além de frequentemente entrecortada por riachos. O Sol brilhava, o vento sussurrava alegremente. Avançamos algumas milhas, e a cidade já havia se encolhido a um ínfimo outeiro sobre a planície atrás de nós, quando minha atenção começou a se voltar para meu companheiro. À primeira vista, parecia apenas um campesino rústico e bonito, tal como o médico havia descrito, muito rápido e vigoroso, mas desprovido de qualquer cultura. E essa primeira impressão era compartilhada por muitos. O que começou a me chocar foi sua fala familiar e desordenada, tão inconsistente com os termos nos quais eu estava sendo recebido, em parte por sua enunciação imperfeita, em parte por seu raciocínio confuso, tão difícil de acompanhar sem um grande esforço. É verdade que eu já conversara com outras pessoas desse tipo, pessoas que, como ele, parecem viver pelos sentidos, tomados e possuídos pelo objeto visual do momento, incapazes de libertar suas mentes dessa condição. Como eu havia sentado distante, parecia-me o tipo de conversa própria dos condutores, que passam boa parte de seu tempo em grande ócio mental, transitando por paisagens que lhe são familiares. Mas não era o caso de Felipe: segundo sua própria definição, ele era o guardião da casa.
– Gostaria de estar lá agora – ele disse. E então, percebendo uma árvore à beira do caminho, deteve-se para dizer que, certa vez, viu ali um corvo entre os galhos.
– Um corvo? – repeti, chocado pela incoerência da observação, crendo ter ouvido mal.
Mas ele já estava com uma nova ideia: esboçando um gesto de atenção concentrada, sua cabeça de lado, seu rosto franzido, me deu uma sacudida para me fazer calar. Então, sorriu e balançou a cabeça.
– O que foi? – perguntei.
– Oh, está tudo bem – ele disse, e começou a atiçar a mula com gritos que ecoavam pelas paredes das montanhas.
Examinei-o mais atentamente. Era muito belo, leve, ágil e forte, de traços perfeitos; seus olhos eram amarelos e grandes, embora talvez não muito expressivos. No conjunto, era um rapaz interessante, e não encontrei nenhum defeito, além de ter uma coloração parda e de parecer um pouco peludo, duas características que não me agradam. Era sua mente que me intrigava e me atraía. A expressão do médico (“um inocente”) voltou aos meus pensamentos. E estava pensando se seria afinal a descrição mais correta quando a estrada começou a descer perto de uma torrente íngreme e nua. As águas trovejavam tumultuadamente no fundo, e a ravina se enchia desse som, de uma fina névoa e dos golpes de vento que acompanhavam sua queda. A cena era, com certeza, impressionante, mas a estrada, nesse trecho, era muito segura, junto à parede, e a mula seguia com firmeza. Fiquei surpreso ao perceber a palidez de terror na face de meu companheiro. A voz do rio selvagem era inconstante, ora indo mais fundo como se estivesse cansado, ora dobrando seus gritos guturais, ora parecendo dobrar seu volume varrendo o desfiladeiro, descendo pelas paredes rochosas, descontrolado e retumbante, e percebi que, a cada um desses espasmos de clamor, meu condutor estremecia e empalidecia. Algumas lembranças de superstições escocesas sobre o Rio Kelpie passaram por minha cabeça. Fiquei imaginando se haveria algo semelhante naquela parte da Espanha e virei-me para Felipe para saber o que se passava.
– Qual o problema? – perguntei.
– Oh, tenho medo – respondeu.
– De quê? – repliquei. – Este parece ser um dos pontos mais seguros desta estrada tão perigosa.
– O barulho – disse com uma ingenuidade que dissipou minhas dúvidas.
Era um jovem, mas com o intelecto de uma criança. Sua mente era como seu corpo, ativa e rápida, mas retardada em desenvolvimento.
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