A partir desse momento, comecei a vê-lo com certa compaixão e a ouvir sua conversa desconexa, a princípio com indulgência e depois com prazer.

Por volta das quatro da tarde, cruzamos o cume da montanha, nos despedimos do crepúsculo e começamos a descer a encosta oposta, contornando a beira de precipícios e seguindo pelas sombras da mata escura. De todos os lados se ouvia a voz das águas caindo, não tão alta nem formidável como à beira do rio, mas dispersa, alegre e musical por entre os vales. Aqui também o ânimo do meu condutor melhorou, e ele começou a cantar alto, com uma voz em falsete e uma singular falta de percepção musical, desprezando a melodia e as notas numa divagação contínua que, mesmo assim, soava tão natural e agradável como o canto dos pássaros. À medida que a escuridão aumentava, senti-me mais e mais sob o encanto dessa toada errante, ouvindo-o à espera de alguma melodia definida, em vão. Quando finalmente perguntei-lhe o que estava cantando.

– Oh! – ele gritou. – Estou apenas cantando!

Percebi que, em intervalos regulares, ele repetia entusiasticamente a mesma nota. Não era tão monótono como se pode imaginar, ou pelo menos não era desagradável. Ele parecia transmitir um contentamento com o que é maravilhoso, como acreditamos encontrar na posição das árvores ou na quietude de um lago.

A noite havia caído quando chegamos a um platô. Pouco depois, avistei ao longe um vulto escuro que eu apenas poderia conjecturar que fosse a residência. Nesse momento, descendo da carroça, meu guia gritou e assoviou por um bom tempo, em vão. Até que, finalmente, um velho camponês veio em nossa direção, saído de algum lugar das sombras, com uma vela na mão. Graças a essa luz, pude perceber um grande portal em arco no estilo mouro: estava fechado com portões de chapas de ferro e, numa dessas chapas, Felipe abriu uma passagem. O camponês levou a carroça para algum outro prédio, e meu guia e eu entramos pela passagem que se fechou novamente atrás de nós. Iluminados pela vela, cruzamos um pátio, subimos uma escada de pedra, seguimos por um corredor aberto e subimos outra escada de pedra, até chegarmos finalmente à porta de um aposento espaçoso e sem mobília. O quarto, que entendi seria o meu, tinha três janelas, era forrado com painéis de madeira lustrada e acarpetado com peles de vários animais selvagens. Um fogo vivo queimava na lareira, expelindo seu resplendor; ao lado, uma mesa posta para o jantar, e, no outro canto, uma cama arrumada. Fiquei satisfeito com esses preparativos e o disse a Felipe. Com a mesma simplicidade que já havia observado, ele ecoou calorosamente meu contentamento.

– Um bom quarto – disse. – Um quarto muito bom. E fogo também: fogo é bom para relaxar seus ossos. E a cama – ele continuou, levando a vela naquela direção. – Veja que lençóis finos, como são macios e suaves. – E ficou passando sua mão sobre aquela textura, e então inclinou a cabeça e esfregou o rosto numa expressão grosseira de contentamento, que de alguma forma me ofendeu. Tomei a vela de sua mão (com medo de que acabasse ateando fogo à cama) e voltei para a mesa do jantar, onde, vendo um cântaro de vinho, enchi um copo e o chamei para beber. Ele se levantou rapidamente e correu até mim com uma expressão de esperança, mas, quando viu o vinho, visivelmente estremeceu.

– Ah, não – ele disse. – Isso, não. Isso é para o senhor. Detesto vinho.

– Muito bem, senhor – eu disse. – Então vou brindar à sua saúde e à prosperidade da sua casa e de sua família. Falando nisso – acrescentei após dar um gole –, não terei o prazer de prestar meus respeitos pessoalmente à senhora, sua mãe?

Mas, com essas palavras, toda a ingenuidade de seu rosto sumiu e foi substituída por um olhar indescritível de astúcia e mistério.