Ali tinha a ajuda do camponês que eu havia visto na noite de minha chegada e que vivia num distante recanto da propriedade, a cerca de um quilômetro, em uma casa rústica. Entretanto, ficava claro para mim que, entre os dois, era Felipe quem mais trabalhava e, ainda que algumas vezes o visse encostar a pá e dormir entre as mudas que tinha acabado de plantar, sua constância e energia eram admiráveis, principalmente ao perceber que eram elementos estranhos ao seu caráter, fruto de um esforço ingrato. Mas, se por um lado eu o admirava, ficava imaginando o que mantinha esse duradouro senso de dever nesse rapaz de humor tão instável. Eu me perguntava como isso era sustentado e em que extensão prevalecia sobre seus instintos. O padre provavelmente o inspirava. Mas um dia o padre veio à residência. Do cume de onde eu observava, eu o vi chegando e saindo após um intervalo de cerca de uma hora. E todo esse tempo Felipe continuou a trabalhar ininterruptamente no jardim.
Finalmente, numa atitude não muito digna, resolvi desviar o rapaz de seus bons costumes e, cercando-o no portão, facilmente o persuadi a me acompanhar em um passeio. Era um dia bonito, e o bosque para onde o levei era verde, agradável, com um aroma doce e vivo, animado pelo zumbido dos insetos. Ali, ele revelou a vitalidade de sua índole, indo às alturas do regozijo que quase me desconcertaram, demonstrando energia e graça de movimentos e encantando os meus olhos. Ele saltava, corria ao meu redor cheio de alegria, parava, olhava, ouvia e parecia beber o mundo como um estimulante, e então, subitamente, subia numa árvore com um pulo, se dependurava e balançava como se sentisse em casa. Pouco falou comigo, mas isso não teve importância, raramente apreciara tanto uma companhia. A visão de sua satisfação foi uma contínua festa; a rapidez e a precisão de seus movimentos alegraram meu coração, e eu teria sido imprudentemente cruel para fazer desses momentos um hábito se o acaso não tivesse preparado uma conclusão tão dura para o meu prazer. Com rapidez ou destreza, o rapaz capturou um esquilo na copa de uma árvore. Ele estava um pouco à minha frente, mas o vi pular para o chão e se agachar gritando de prazer como uma criança. Os gritos me despertaram contentamento: eram tão espontâneos e inocentes; mas, à medida que me aproximei dele, o choro do esquilo começou a me inquietar. Eu já tinha ouvido e visto muito da maldade dos homens, sobretudo entre os camponeses, mas agora eu sentia raiva. Empurrei o rapaz para o lado, tomei o pequeno animal de suas mãos e, com um rápido gesto de misericórdia, o matei. Então, me virei para o torturador e lhe falei no calor da minha indignação, xingando-o, ao que ele parecia definhar e, finalmente, apontei em direção à residência, dizendo que fosse embora, pois eu preferia andar com homens, não com vermes.
Ele caiu de joelhos, e as palavras saíram com mais clareza que o usual. Derramou as mais tocantes súplicas, implorando que o perdoasse, que esquecesse o que tinha feito, que olhasse para o futuro.
– Oh, eu tento tanto – ele disse. – Oh, comandante, perdoe Felipe só dessa vez; ele não será bruto novamente!
Assim, muito mais alterado do que gostaria de mostrar, sofri ao ser persuadido e, finalmente, apertamos as mãos e encerramos o assunto. Eu o fiz queimar o esquilo como forma de penitência, falando da beleza do pobre animalzinho, dizendo das dores que sofreu e de como era ruim abusar da força.
– Veja, Felipe – disse eu –, você é realmente forte, mas nas minhas mãos você é tão indefeso como esse pobre animalzinho das árvores. Me dê a sua mão. Você não pode tirá-la. Agora, suponha que eu fosse cruel como você e sentisse prazer com a dor. Eu apenas apertaria com força e observaria você sofrer.
Ele gritou alto, sua face empalideceu, encheu-se de gotículas de suor e, quando eu finalmente o libertei, caiu no chão, acariciou a mão e ficou se lamentando como um bebê. Mas aprendeu boa parte da lição e, não sabemos se por causa disso, ou pelo que disse a ele, ou pela melhor noção que agora tinha da minha força corporal, seu afeto original se transformara em uma relação do cachorro com o seu dono, de adoração e fidelidade.
Enquanto isso, eu recobrava rapidamente minha saúde. A residência coroava um rochoso platô cercado de montanhas por todos os lados. Apenas do telhado, onde havia uma torre, era possível enxergar, entre dois picos, uma pequena porção do céu azul a uma grande distância. O ar nessa altitude se move livre e largamente; grandes nuvens se juntavam e eram cortadas pelo vento e levadas em pedaços para o cume das montanhas.
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