O crítico Jan Fergus, em seu artigo “The professional woman writer”, publicado no The Cambridge Companion to Jane Austen, em 1997, calcula que Thomas Egerton, lucro em torno de £450 com apenas as duas primeiras edições do livro.

Egerton publicou a primeira edição Orgulho e Preconceito em três volumes, em capa dura, em 28 de janeiro de 1813, vendendo cada exemplar por dezoito xelins, de acordo com o anúncio feito no jornal Morning Chronicle. A primeira edição esgotou em poucos meses, sendo uma segunda edição lançada em novembro do mesmo ano e uma terceira edição publicada em 1817. As primeiras edições em língua estrangeira da obra apareceram já em 1813, com a publicação de uma versão em francês; traduções subsequentes para o alemão, dinamarquês e sueco foram lançadas no mesmo ano. A primeira edição em língua portuguesa foi lançada em 1941 no Brasil e em 1943 em Portugal. A edição anotada pelo estudioso Robert William Chapman (1881-1960), publicada em 1923, tornou-se a edição padrão para diversas publicações modernas do romance.

O romance foi bem recebido pela crítica, com três resenhas favoráveis nos primeiros meses após sua primeira publicação. Anne Isabella Milbanke (1792-1860), esposa do poeta e escritor Lorde Byron, chamou-o “o romance elegante”. Contudo Charlotre Brontë (1816-1855), autora de Jane Eyre, em carta endereçada ao crítico George Henry Lewes (1817-1878), companheiro da escritora Mary Ann Evans (conhecida pelo pseudônimo George Elliot), externou seu desapontamento com relação a Orgulho e Preconceito, denominando-o como,

“...um jardim cuidadosamente cercado, cultivado com esmero, com bordas bem delimitadas e flores delicadas; mas que carece de um campo aberto, de ar fresco, de belas colinas e de uma espinha dorsal.”

Assim como em outras obras da escritora, Orgulho e Preconceito é escrito de forma satírica. Casamentos não convencionais e infelizes são usados como contexto para denunciar os elementos com os quais a autora discorda e para focar nas pessoas frívolas e ignorantes que caracterizam a sociedade contemporânea dos últimos anos do século XVIII. Assim, Jane Austen revela certas posturas de seus personagens em situações cotidianas que, muitas vezes, causam momentos cômicos aos leitores, dando um caráter mais leve e satírico ao livro. A história é contada sob a perspectiva de Elizabeth, mas não foi elaborada em primeira pessoa, resultando na falta de situações comoventes e dramáticas. Há pouca descrição de cenários e o desenvolvimento da trama é composto pela interação entre ideias e atitudes dos personagens.

Embora Jane Austen escrevesse num período amplamente influenciado por obras, como Os Mistérios de Udolfo, de Ann Ward Radcliffe (1764-1823), e O Castelo de Otranto, de Horace Walpole (1717-1797), nunca chegou de fato a se empolgar pelo tema em seus romances, uma vez que, no mundo ordenado onde seus personagens vivem, as paixões incontroláveis da ficção gótica estariam terrivelmente fora de contexto. Certas regras eram aplicadas para aqueles que eram elegíveis, regras estas principalmente alicerçadas em uma das qualidades mais prezadas nos romances austenianos: princípios morais. Sem bons princípios morais para temperar a paixão, os resultados poderiam ser desastrosos.

O principal tema do livro é contemplado logo na frase inicial, quando sua autora menciona que um homem solteiro e possuidor de grande fortuna deve ser o desejo de uma esposa. Com essa citação, Jane Austen faz três referências importantes: a autora declara que o foco da trama será os relacionamentos e os casamentos, dá um tom de humor à obra, ao falar de maneira inteligente acerca de um tema comum, e prepara o leitor para uma “caçada” de um marido em busca da esposa ideal e de mulheres perseguindo pretendentes.

Ambientada na Inglaterra dos últimos anos do século XVIII, Orgulho e Preconceito acompanha a personagem principal, Elizabeth Bennet, como ela lida com questões de boas maneiras, criação das crianças, moral, educação e casamento na sociedade rural do período da regência britânica. Elizabeth é a segunda de cinco filhas de um gentil-homem do campo, vivendo nas proximidades da cidade fictícia de Meryton, em Hertfordshire, perto de Londres.

Orgulho e Preconceito tornou-se um dos mais populares romances da literatura inglesa, vendendo aproximadamente vinte milhões de cópias e recebendo críticas das mais variadas por parte dos mais renomados estudiosos. O interesse moderno sobre o livro deve-se, sobretudo, às inúmeras adaptações que o romance recebeu ao longo dos anos para as mais diferentes mídias, entre cinema, teatro e televisão. As adaptações mais famosas para o cinema foram a de 1940, estrelando Greer Garson e Laurence Olivier, nos papeis principais, e a mais recente de 2005, com as interpretações de Keira Knightley e Matthew Macfadyen. Famosa também é a versão realizada pela BBC para televisão em 1995, com as interpretações de Jennifer Ehle e Colin Firth.

Orgulho e Preconceito pode ser considerado uma narrativa especial, por transcender o preconceito causado pelas falsas primeiras impressões e adentrar nas questões psicológicas, mostrando como a ideia do autoconhecimento pode vir a produzir julgamentos errôneos sobre o caráter de outras pessoas. As emoções e sentimentos devem ser decifrados por quem decidir mergulhar na obra de Jane Austen, uma vez que se encontram encobertos nas entrelinhas do texto. Deste modo, a escritora inglesa apresenta seu poder de expressar a discriminação de maneira sutil e perspicaz, sendo capaz de transmitir mensagens complexas, valendo-se de seu estilo ao mesmo tempo simples e espirituoso.

Os Editores

ORGULHO E PRECONCEITO

CHAPTER 1

It is a truth universally acknowledged, that a single man in possession of a good fortune, must be in want of a wife.

However little known the feelings or views of such a man may be on his first entering a neighbourhood, this truth is so well fixed in the minds of the surrounding families, that he is considered the rightful property of someone or other of their daughters.

“My dear Mr. Bennet,” said his lady to him one day, “have you heard that Netherfield Park is let at last?”

Mr. Bennet replied that he had not.

“But it is,” returned she; “for Mrs. Long has just been here, and she told me all about it.”

Mr. Bennet made no answer.

“Do you not want to know who has taken it?” cried his wife impatiently.

“You want to tell me, and I have no objection to hearing it.”

This was invitation enough.

“Why, my dear, you must know, Mrs. Long says that Netherfield is taken by a young man of large fortune from the north of England; that he came down on Monday in a chaise and four to see the place, and was so much delighted with it, that he agreed with Mr. Morris immediately; that he is to take possession before Michaelmas, and some of his servants are to be in the house by the end of next week.”

“What is his name?”

“Bingley.”

“Is he married or single?”

“Oh! Single, my dear, to be sure! A single man of large fortune; four or five thousand a year. What a fine thing for our girls!”

“How so? How can it affect them?”

“My dear Mr. Bennet,” replied his wife, “how can you be so tiresome! You must know that I am thinking of his marrying one of them.”

“Is that his design in settling here?”

“Design! Nonsense, how can you talk so! But it is very likely that he may fall in love with one of them, and therefore you must visit him as soon as he comes.”

“I see no occasion for that. You and the girls may go, or you may send them by themselves, which perhaps will be still better, for as you are as handsome as any of them, Mr. Bingley may like you the best of the party.”

“My dear, you flatter me.