As tias eram duas pequenas senhoras vestidas com roupas simples. A Tia Julia era uns dois ou três centímetros mais alta. O cabelo, que tapava as pontas das orelhas, era grisalho; e também grisalho, com sombras mais escuras, era o grande rosto flácido. Embora tivesse um porte robusto e mantivesse as costas retas, os olhos vagarosos e os lábios entreabertos davam-lhe a aparência de uma mulher que não sabia onde estava nem para onde ia. A Tia Kate era mais vivaz. O rosto, mais saudável que o da irmã, era tapado de marcas e rugas, como uma maçã seca, e o cabelo, trançado como sempre à moda antiga, não havia perdido a bela cor acastanhada.

As duas receberam Gabriel com beijos afetuosos. Era o sobrinho favorito, filho de Ellen, a falecida irmã que havia casado com T. J. Conroy do Port and Docks Board.

— A Gretta me disse que você não vai voltar de coche a Monkstown essa noite, Gabriel, disse a Tia Kate.

— Não, respondeu Gabriel, voltando-se em direção à esposa, eu acho que o ano passado já foi suficiente, não? A senhora não lembra da gripe que a Gretta pegou, Tia Kate? As janelas do coche chacoalharam durante todo o trajeto, e o vento leste começou a soprar depois que passamos por Merrion. Foi muito divertido. A Gretta pegou uma gripe terrível.

A Tia Kate franzia a testa com uma expressão severa e acenava a cabeça a cada nova palavra.

— Muito bem, Gabriel, muito bem, disse. Todo cuidado é pouco.

— Mas se dependesse da Gretta aqui, disse Gabriel, nós voltaríamos caminhando pela neve.

A sra. Conroy deu uma risada.

— Não o leve a sério, Tia Kate. O Gabriel é um inconveniente terrível; que o diga o Tom, que agora precisa usar óculos verdes à noite e fazer exercícios com os pesos, e a Eva, que é obrigada a comer mingau. Pobrezinha! Ela não pode nem ver mingau...! Ah, mas as senhoras não imaginam o que ele me faz usar agora!

Ela estourou de rir e olhou para o marido, cujo olhar admirado e feliz percorria o vestido e o rosto e os cabelos da esposa. As duas tias também riram com vontade, pois as preocupações de Gabriel eram motivo de piadas constantes.

— Galochas!, disse a sra. Conroy. Essa é a última invenção. Sempre que o chão está úmido eu preciso sair de galochas. Hoje mesmo ele insistiu para que eu usasse, mas eu me recusei. Desse jeito o próximo passo vai ser comprar uma roupa de mergulho para mim.

Gabriel soltou uma risada nervosa e deu um tapinha confiante na gravata enquanto a Tia Kate se dobrava de tanta graça que tinha achado na piada. O sorriso logo sumiu do rosto da Tia Julia e aqueles olhos sem alegria fixaram-se no rosto do sobrinho. Depois de um breve intervalo ela perguntou:

— O que são galochas, Gabriel?

— Galochas, Julia!, exclamou a irmã. Minha nossa, você não sabe o que são galochas? São umas coisas que você usa por cima... por cima das botas, não é isso, Gretta?

— Isso mesmo, disse a sra. Conroy. Feitas de guta-percha. Agora cada um de nós tem um par. O Gabriel diz que todo mundo usa no continente.

— Ah, no continente, murmurou a Tia Julia, acenando a cabeça devagar.

Gabriel franziu as sobrancelhas e disse, como se estivesse tomado por uma leve irritação:

— Não é nenhuma maravilha, mas a Gretta acha graça porque diz que a palavra faz ela pensar em como sou chato.

— Mas, Gabriel, me conte uma coisa, disse a Tia Kate de repente. Você já viu o quarto.